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LINZ 2009: HAUS DER GESCHICHTEN / A CASA DAS ESTÓRIASLUÍSA SANTOS2009-05-28No contexto da Capital Europeia da Cultura 2009, Linz tem mostrado iniciativas com diferentes carácteres em espaços institucionais mas também em espaço público. A Casa das Estórias, à primeira vista, pode parecer (mais) uma dita intervenção urbana sobre espaços vazios. Na verdade, também o é. Mas, numa segunda leitura, percebemos um fio condutor que nos deixa num espaço entre o institucional e o de iniciativa popular. Uma casa desabitada há mais de dez anos em Pfarrplatz, atrás da praça principal de Linz, Hautplatz, é lugar para um projecto de Linz 2009 organizado por Martin Heller, Julia Stoff e Christine Weisser e reúne artistas, coleccionadores e um grupo de artesãs que se encontra no mesmo lugar, duas vezes por mês, há mais de uma década para tricotar entre conversas animadas. É antiga e recorrente a metáfora da biblioteca como labirinto. Aqui, trata-se de uma casa como labirinto. Uma casa que volta a ser habitada, com múltiplas estórias que se cruzam, tal como Georges Didi-Huberman, em “L’Image Survivante” (1), onde se pensa o espaço como um espaço infinito na medida em que é baseado na multilinearidade. Ao entrar no edifício, a primeira sensação é de que estamos numa loja de peças coleccionadas sem critério. A porta é de vidro e o rés do chão tem montras em vez de janelas. Este rés do chão pertenceu a uma agência de viagens e mantém o aspecto comercial. No entanto, no lugar de secretárias e cartazes de destinos paradisíacos, estão agora uma parafernália de objectos em que a máxima é “Es ist noch nicht fertig!” (ainda não acabou!). Claudia Czimek, artista em residência na Haus der Geschichten, usa o pseudómino Madame Bricolage e as peças que, à primeira vista, parecem uma colecção caótica e aleatória, num olhar mais atento, transformam aqueles quarenta metros quadrados num mundo em miniatura feito de incontáveis destinos de viagem. Paisagens irreais criadas com relva sintética de verde fluorescente, guias de viagem e souvenirs fazem parte da lista dos habitantes desta sala que fica mais cheia a cada dia com as contribuições de quem quiser fazer parte desta estória. Uma corda tricotada em diferentes cores e tipos de lã mostra os possíveis caminhos, pontos de partida e de chegada, ao longo das escadas pelos dois andares do edifício. A corda pára em cada quarto, todos francamente pequenos, que estão agora habitados por obras dos artistas e, em dois casos (como a sala de entrada aqui descrita), pelos próprios artistas. Umas vezes auto-biográficas (como no trabalho do fotógrafo Paul Kranzler e da fotógrafa Maggie Cardelus que usam fotografias de família de dois modos diferentes), outras vezes ficção (como o quarto onde o coleccionador de livros Alex Stelzer proporcionou o lugar para ler “House of Leaves”, um romance de Mark Z. Danielewski (2), em todos os idiomas em que foi publicado (3)), cada instalação é feita para aquele lugar específico e conta uma estória diferente, ditada pelos narradores. No Segundo andar, as “freundinnen der kunst” (amigas da arte), um grupo de artesãs, habita uma sala que dia-a-dia vai ficando forrada pelo chão, paredes e tecto de malha tricotada em diferentes pontos. Às sextas-feiras, artistas e visitantes são convidados a sentar-se com as artesãs e tricotar na e para a sala. Na segunda semana de existência, a sala tricotada da Haus der Geschichten já transbordava para outras salas e para a rua, com mangas coloridas a sair pelas janelas para a Pfarrplatz. Luísa Santos NOTAS (1) Didi-Huberman, Georges, L’image survivante: Histoire de l’art et temps des fantômes selon Aby Warburg, Paris: Minuit, 2002 (2) Danielewski, Mark Z., House of Leaves (2ª ed.), New York: Pantheon Books, Random House, 2003 (3) O romance foi traduzido em diversas línguas, incluindo holandês, francês, alemão, grego, italiano, japonês e sérvio. A propósito da opção pela mostra da obra nestas línguas, não foi uma arbitrariedade do coleccionador. De facto, uma parte fundamental do texto, é obcessão académica, a escrita intelectual e a obscuridade. Assim, não são por acaso as muitas citações ao longo do livro no idioma dos seus autores, variando de latim ao espanhol e ao inglês antigo. INFO Datas: 22 Fevereiro a 31 Dezembro 2009 Horário: Segunda a Sexta-feira das 16h às 19h; Sábado, Domingo e Feriados das 14h às 18h. Local: Pfarrplatz 18, Linz, Áustria |