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SEQUENCES - MICHAEL SNOW, A INCANSÁVEL TOTALIDADE DOS SENTIDOSALBERTO MORENO2015-09-17
Michael Snow (Toronto, 1928) faz escala esta vez na La Virreina (Centre de la Imatge) de Barcelona, com Sequencias, até 1 de Novembro. Uma retrospectiva de um dos artistas mais versáteis da contemporaneidade, e sem dúvida, um dos grandes pilares do cinema experimental. Músico, cineasta, mas essencialmente escultor: “no meu trabalho sou sempre um escultor, algumas vezes um escultor do tempo e da luz, mas sempre senti desde o princípio que era um escultor puro, um artista, um artista que faz objectos em três dimensões”. A experimentação das capacidades expressivas do som e da imagem, um sólido compromisso com o espaço e com a interactividade do espectador no cenário da própria obra, sempre foram os elementos mais reconhecíveis do seu trabalho. A obra de Snow é sempre palpável, o melhor, total, tenta abordar todos os elementos da expressão e da recepção no processo comunicativo com o indivíduo, que o anima de um estado de total percepção. Assim se mostra na La Virreina, no primeiro piso do complexo onde se situa a exposição, que se intercomunica em diferentes espaços, e onde os corredores, mais do que lugares de trânsito de uma peça a outra, são uma continuidade orgânica das próprias instalações, criando uma imersão total. Não é uma exposição de obras individuais, é um espaço que funciona como obra em si mesmo. Ou seja, toda a exposição tem uma continuidade, converte-se numa instalação em si, é um ser único. O cinema e as capacidades da narratividade são outra das constantes nas suas obras desde a década de 1950. Wavelenght (1972) ganhou o prémio do melhor filme experimental em Knokke (Bélgica), sendo um filme chave dentro da sua obra e legado, peça que reflecte sobre a linguagem mesma. A retrospectiva percorre tanto obras cinematográficas, escultóricas, sonoras... fotográficas e instalativas. Muitas delas chegam pela primeira vez à Europa. É de destacar as curtas metragens La Région Centrale (1971) ou Desde 1962 desenvolve a sua obra artística em paralelo com o seu trabalho profissional como músico de jazz (é pianista). Este elemento, o som, ou a música, é outro dos componentes que nunca faltam nas distintas variáveis das suas instalações – o som como elemento de perturbação constante. Estas obras do autor são mais desconhecidas. Estão presentes em todo o percurso da mostra. Diagonale (1988) utiliza os meios electrónicos para produzir de forma continuada tons puros. Em Tap (1969-72) utiliza um metrónomo para dar pautas constantes ao ritmo, gerando um som contínuo. Waiting Room (2000) é um trabalho sobre o tempo, sobre a capacidade da atenção em tempo real. Utiliza o som real procedente das salas da La Virreina para interagir numa experimentação total. O mesmo ocorre com uma das peças realizadas exclusivamente para a La Virreira, uma prolongação da Rambla de Catalunya. É uma projecção em vídeo numa das paredes da sala, onde Snow continua a experimentar com a obra orgânica, prolongando o sentido mais além do continente, superando os limites físicos (muros) da própria exposição. Por último, Piano Sculpture (2009) prolonga na sala distintos momentos de um único feito. São imagens em movimento das próprias mãos do autor tocando piano, projectadas nas paredes da sala, mas onde o tempo é diferente em cada uma das gravações. O espectador percebe de maneira distinta segundo a sua posição na sala, as diferentes imagens que não concordam com o movimento das mãos. O Centre de la Imatge tenta abarcar desta maneira uma obra complexa e um artista extenso. Michael Snow, de novo, deixa-nos um ponto de fuga, um vento fresco de experimentação artística onde a continuidade da vizinhança (uma janela aberta por onde entra o ar que move uma cortina) é outra das filmagens projectadas numa das paredes da exposição. O artista canadiano não deixou de estar em constante evolução e actualidade, sempre disposto a oferecer-nos um sopro de ar fresco.
Alberto Moreno |