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FIAC, PARISSÍLVIA GUERRA2006-10-29Episódio 2 – Jardin des Tuileries e a Cour Carrée du Musée du Louvre Entre o Grand Palais e o Musée du Louvre estendem-se os antigos Jardins do Rei que devem o seu nome à grande manufactura de telhas existente anteriormente nesse espaço – Les Tuileries. Os jardins são este ano o percurso pedonal entre os dois principais pólos da FIAC e nos seus relvados, entre os portões dourados e as árvores outonais, encontramos as esculturas de grandes dimensões que usufruem deste modo de um magnífico stand “open air”; Richard Long, Jean-Michel Othoniel, Tony Cragg, Subodh Guptah entre outros encontram-se à venda nos jardins. A obra mais lúdica é o submarino musical que submerge do grande espelho de água, de Alexander Ponomarev. Após o passeio democrático pelas Tuileries, o único local da feira de “entrada livre” (o bilhete da FIAC custa 20 euros e dá direito a uma única entrada), avistamos a Pirâmide do Louvre e a Cour Carrée. A grande tenda alugada frequentemente para desfiles de moda, encontra-se “embrulhada” por plásticos semi-transparentes que permitem vislumbrar a frenética actividade existente no seu interior. Aqui, exterior e interior assumem um aspecto muito mais descontraído que no Grand Palais, e o público é também mais eclético. Deambulam alunos das escolas de arte, jornalistas, jovens coleccionadores e evidentemente representantes do Ministério da Cultura francês. Aliás a Cour Carrée segundo os seus organizadores é o lugar destinado à arte contemporânea nas suas tendências emergentes. O ambiente parece invocar o espírito do atelier de artista ou de galeria em montagem de exposição, tanto na apresentação dos stands como na apresentação das próprias obras que muitas vezes saem das divisórias dos expositores. Na entrada do grande quadrado encontramos a Galerie de Expeditie Zsa Zsa Eyck de Amesterdão que é um bom barómetro da cultura contemporânea flamenga; forte em cor e miscigenação, apresenta tapeçarias do artista P. Struycken, com o título “Boulez a 44K” de 2005 e as formas escultóricas de manequins em cobertas de lã da autoria de Fransje Killaars. Ao meio-dia é anunciado o vencedor do Prémio Marcel Duchamp – o feliz contemplado é Philippe Mayaux e o seu relator perante o júri foi o novo director do Palais de Tokyo, Marc-Olivier Wahler. Na Parker’s Box de Brooklin voltamos a encontrar as obras de Bruno Peinado, e um pouco mais à frente na galeria Layr:Wuestenhagen Contemporary de Viena encontramos o artista lusitano, João Pedro Vale, que apresenta uma série de formas escultóricas nas paredes, formas que como é habitual na obra do artista cruzam as referências da arte da tauromaquia e o imaginário oceânico português. A força da arte permite que, neste evento, se possam encontrar alguns artistas portugueses representados pelos seus galeristas internacionais, apesar da lacuna na representação de galerias portuguesas. A Rubicon Gallery de Dublin mostra obras de alguns artistas britânicos como Stephan Brandes e Blaise Drummond. Tel Aviv é a sede da galeria Dvir que além dos artistas israelitas expõe Jonathan Monk dos Estados Unidos. E entramos no triângulo da ex-URSS, com a galeria Raster de Varsóvia, a XL Gallery e a Aidan de Moscovo. Neste ambiente frio onde se partilha a vodka, a barcelonense Nagueras Blanchard irrompe em cor apresentando, entre outros trabalhos, o vídeo de François-Xavier Courrèges “Another Paradise” (2005), um loop de 5’30 minutos de relação amorosa entre dois piriquitos. Mas na Cour Carrée encontram-se também diversas galerias parisienses como a Frank Elbaz ou a Galeria Polaris que apresenta, entre outras obras, as de Stéphane Couturier e de Yto Barrada (recentemente com uma exposição monográfica nas galerias do Jeu de Paume). Dentro da Cour Carrée parece que estamos dentro de uma das telas mapa mundi de Alighiero Boetti, mas num mundo quadrado. O design tem também um espaço, desde 2004 na FIAC, com representação de 9 galerias que apresentam as suas peças num espaço aberto sem a delimitação de muros dos stands (cenografia concebida pelo arquitecto Emmanuel Combarel); no entanto, a sensação com que fiquei foi de que, subitamente, passei de uma feira de arte para dentro de uma loja Habitat. O luxo dos partners da FIAC: o Comité Colbert. Na entrada da esquerda da Cour encontramos uma grande instalação dos Electronic Shadows onde são apresentados jovens designers das escolas francesas selecionados por esta comissão, de 60 empresas de alta costura e perfumaria francesas. Como afirma um texto da comissão: “Há uma afinidade natural entre a arte contemporânea e o luxo porque falamos a mesma língua, o processo criativo”. A presença desta comissão com o nome do ministro de Luis XIV que adoptou as famosas medidas a longo prazo para a economia francesa é sintomática da actual aliança do grande capital à arte contemporânea: de Pinault à Fundação Cartier (que inaugura hoje a mostra de Gary Hill nos seus espaços), da companhia de electricidade francesa (EDF) à Fundação Louis Vuitton. O capital procura a sua alma ou vice-versa. |