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FIAC 2007 CAP. II: GOOD BYE FIACSÍLVIA GUERRA2007-10-25FIAC Cap. II - La Cour Carrée du Louvre Slick na Bellevilloise e Carré Baudoin “Ofereça uma prenda diferente aos seus amigos neste Natal? Ofereça-lhes uma obra de arte” Anúncio de uma galeria de arte em Annecy, nos Alpes franceses. Abandonei os leitores da Artecapital em frente do stand da galeria Emmanuel Perrotin pois comprava uma série de t-shirts da “cloaca” e kits do “Make your own shit” para oferecer aos meus amigos no próximo Natal. E foi este momento especial de fetichismo com Wim Delvoye que me fez repensar nas reactualizadas relações entre arte e produção. Elas ultrapassam a associação privilegiada que certos artistas, como Claes Oldenburg ou Jeff Koons, mantêm com empresas de produção industrial, como a Carlson & Co. nos Estados Unidos (referida no artigo da minha colega doutoranda Michelle Kuo “Industrial Revolution” no número de Outubro da Artforum, pag.306), e fixam-se no gesto de Delvoye, que faz apelo à indústria massificada, de mão-de-obra chinesa, tornando pública esta relação. Corro em direcção à Cour Carré du Louvre onde se anunciava o vencedor do Prix Marcel Duchamp deste ano. Tatiana Trouvé (n. 1964 em Cosenza, Itália) - que expôs este no âmbito da programação de Marc Olivier Wahler no Palais de Tokyo - foi a vencedora entre os nomeados Adam Adach, Pierre Ardouvin e Richard Fauguet. A FIAC de 2007 foi uma feira mais calma que a edição de 2006. O apoio que lhe foi reiterado pelos organizadores e parceiros culturais (do Louvre à Maison Rouge), bem como por mecenas económicos (Maison Yves Saint Laurent), serviu para que o “acontecimento” parisiense tivesse um êxito quase pré-estabelecido, sem a surpresa aclamatória do ano precedente. Ficaram para trás os anos de marginalidade na Porte de Versailles, onde frequentemente se realizam diversos salões ao estilo do que acontece na Expo Norte. Após o “hype” das inaugurações VIP, o ambiente passou a ser o de passeio de fim-se-semana, com a afluência de inúmeras famílias jovens, com equitativo número de carrinhos de bebé a percorrer os percursos sobrelotados de obras da Cour Carrée do Louvre, onde se encontravam representadas a maioria das galerias que expõe artistas emergentes. O que se podia ver este ano na Cour Carrée? As “pranchas de surf” de John Armleder na galaria Colletpark, jovem galeria fundada em 2006 e que representa um leque de artistas internacionais muito interessantes; a Collection Lambert en Avignon, galeria que apresenta uma série exclusiva de fotografias de Anna Gaskell que pode ser vendida a todos os admiradores do filme “Marie Antoinette” de Sofia Coppola pelo décor inglês com um “froufrou” de velha corte; as intervenções de Saedane Afif na Galerie des Multiples; e numa das mais interessantes galerias londrinas do momento, a FA Projects, podemos ver os vídeos de John Wood & Paul Harrison, uma nova dupla de artistas que segue a linha de ironia de Fischli & Weiss, aliando o humor da “era numérica” a imagens de poesia contemporânea: são estes os vídeos que queremos ver hoje. Este ano o sector de design desapareceu da Cour Carrée, que imigrou para o Grand Palais, mas conserva-se o espaço VIP, um stand reservado ao refresco dos convidados especiais. A presença das inúmeras galerias espanholas representadas no ano anterior diminuiu, mas surgem galerias libanesas, gregas e as últimas provocações da arte russa na galeria M&J Guelman de Moscovo. Um enorme stand expõe as novas aquisições em arte contemporânea do Ministério da Cultura Francês. Aliás em cada uma das galerias com obras adquiridas pelo Governo, figurava uma etiqueta a publicitar a aquisição. Madame Christine Albanel, Ministra da Cultura francesa inaugura os textos do catálogo da FIAC deste ano (35 euros) com a declaração de que os privilégios fiscais concedidos aos coleccionadores franceses fazem parte das prioridades do Presidente da República no domínio da cultura, pois como é de conhecimento público, o presidente Nicolas Sarkozy é um apologista da iniciativa privada em matéria de capitalismo, ou o indivíduo visto como uma empresa. Os jardins das Tuilleries com a exposição de 15 esculturas monumentais, de diversos artistas, foram mais uma vez um atractivo para turistas e parisienses que não podiam dispor dos 25 euros de preço de admissão aos stands da FIAC. Esta foi realmente a arte para todos. As propostas da SLICK fazem parte desta democratização na compra de obras de arte, evento que este ano se expandiu para um outro espaço, o Carré Baudoin, um belíssimo hotel particulier. Esta feira paralela continua a ser um lugar acolhedor, onde se sente o diálogo entre os galeristas e os eventuais compradores. Nela a escolha é ainda mais eclética e são mais alargados os critérios de selecção. No entanto, o edifício da Belleviloise como num squatt permite ligações poéticas como as dos artistas representados pela galeria Sit Down e o seu projecto “Homellete”. As obras são muitas vezes humorísticas e propõe novas teorias práticas para a arte, como acontece com o projecto “Gymnasium”, no Carré Baudoin, que defende a performance activa do público com uma componente de exercício físico. Uma sala com 10 bicicletas que são activadas pelos visitantes fazem acender as luzes que iluminam o espaço – a Arte proporcional ao seu esforço. Pegamos no nosso Velolib, último sucesso da Mairie de Paris que permite o aluguer de bicicletas públicas em todos os quartiers, e despedimo-nos dizendo como todos os americanos em Paris: - Good Bye FIAC and so long Paris ! Sílvia Guerra |