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FIAC 2008SÍLVIA GUERRA2008-10-27Fiac 2008 – 23 a 26 de Outubro Grand Palais, Cour Carré du Louvre, Paris Slick 2008 – 24 a 27 de Outubro Centquatre, 5 Rue Curial, Paris Hier, ouverture du Salon. Une journée de grosse fatigue. Cette année, le nombre des oeuvres exposées a encore augmenté, il est de trois mille huit cent soixante-deux. Les tableaux se trouvent répartis dans vingt-cinq grandes salles; les statues sont toujours espacées au milieu du jardin ; je ne parle pas des dessins, aquarelles, gravures qui occupent d’ interminables galeries. Imaginez quelle corvée, lorsqu’ on veut, en une fois, donner un coup d’ oeil à l’ ensemble de l’ exposition! Pendant six heures, on piétine le nez en l’ air, suant, étouffant, les pieds écrasés par la foule, la gorge étranglée par la poussière. Plus de sept mille personnes sont entrées, hier... Émile Zola, Le Salon de 1875, Lettre de Paris, le 2 mai 1875 De regresso de Londres, da 6° edição da Frieze, onde o clima fora algo estóico entre os participantes, chego a Paris para acompanhar a continuação das feiras europeias neste Outono. Na capital inglesa alguns galeristas confessaram não ter tido grande sucesso enquanto outros afirmaram que apesar do receio inicial se fizeram vendas (como me confirmou um dos elementos da Galeria Chantal Crousel de Paris). Quinze horas da tarde, a chuva parece ter partido, uma fila começa a avolumar-se na entrada do Grand Palais, são os convidados e VIPs que chegam para a pré-inauguração da feira. Aglomera-se outra fila, igualmente numerosa, numa entrada paralela para a imprensa. Ás 15.15h foi quando abriram finalmente as portas para os coleccionadores impacientes e jornalistas irritados entrarem. “Este ano deram mais convites, para terem mais gente pois tinham receio ...” ouço ao meu lado. A verdade é que contrariamente à pré-inauguração da Frieze, em Paris o ambiente é mais festivo e nota-se uma grande afluência ao evento. Clientes russos procuram comprar as novidades dos artistas consagrados na galeria americana Cheim&Read “- quanto custa o da Louise Bourgeois?” Não nos podemos esquecer que desde que o galerista americano Larry Gagosian decidiu apostar no mercado russo, lado a lado de Daria Jukova, a noiva do bilionário Roman Abramovich, a arte contemporânea tornou-se tão apetecível quanto a alta costura. Os stands tem uma diferente “vitrine”: uma destina-se ao público anglo-saxónico, outra para o público francês. Este ano estão presentes 189 galerias, das quais 72 são francesas e 117 do resto do mundo, com duas participações portuguesas: a Galeria Filomena Soares e a Galeria Cristina Guerra. A Galeria Cristina Guerra mudou-se para uma das melhores localizações do Grand Palais, frente à porta principal e a Galeria Filomena Soares conta com o trunfo de ter um dos seus artistas a expor que individualmente no Jeu de Paume – Vasco Araújo. Infelizmente no Grand Palais as surpresas não são muitas, vê-se a nova série de Louise Bourgeois que apresenta aguarelas e uma versão sua da deusa dos mil seios, Ísis, que entra no seu universo familiar a vermelho. Porém, este ano, não se sente aquele espírito de festa contagiante das duas últimas edições. Os jornais diários como o Le Monde questionam se ainda é preciso ir à Fiac. As feiras, e aqui reside um dos seus grandes pontos de interesse, apresentam os produtos frescos do mercado, as obras recém-acabadas dos artistas, trazidas pela mão dos seus primeiros intermediários, os galeristas. É nas obras mais recentes de alguns artistas que surge a diferença, aquela que faz com que a arte pressinta sempre as mudanças geopolíticas. E surge assim a reflexão sobre o poder, o retrato da decisão de um homem em assumir o poder, reflectida pelo artista Renaud Auguste Dormeuil, apresentado pela Galeria In Situ / Fabienne Leclerque, numa série de retratos sem rosto de chefes de estado, mas com vestígios de fisionomia. Ao público compete reconhecer quais são os traços do poder por detrás da pose oficial. Na mesma galeria, uma actriz que boceja diante da câmara de Gary Hill, é a ruiva eterna, Isabelle Hupert na série “It’s turtles all the way down” (2008). A artista Sylvie Fleury, representada pela galeria Thaddaeus Ropac parece apelar para a renovação dos espíritos com a sua obra em néon “exfoliate” e a feira continua a encher-se de público. Dou um salto ao outro pólo da Fiac, na Cour Carré do Louvre onde se encontram as galerias com os artistas mais emergentes, bem como os nomeados para o Prix Marcel Duchamp deste ano. As obras representativas dos quatro nomeados encontram-se afastadas do centro desta tenda quadrada e reunidas num triste ângulo final, onde se encontram dispostas frente a frente. Parece que lhes foi pedido que mostrassem as suas capacidades num trabalho reduzido, uma amostra “para ver o tecido” de cada um. Michel Blazy, Stéphane Calais, Laurent Grasso e Didier Marcel são os quatro finalistas seleccionados pela associação de coleccionadores franceses. A minha preferência vai para Michel Blazy, o escultor da matéria viva, que esteve presente em duas grandes exposições comissariadas por Marc-Olivier Wahler no Palais de Tokyo e também para Laurent Grasso, autor de vídeos onde o real e os seus fenómenos são hiperbolizados até ao sobrenatural. Podemos ver outra artista que muito aprecio, Yael Bartana, na galeria Sommer Contemporary de Tel-Aviv e Wilfredo Prieto, vencedor do Prémio Cartier na Frieze deste ano, representado pela barcelonesa Nogures Blanchard, com uma obra que representa bem os “remainings of the day” tão presentes neste momento na arte emergente, que são quatro copos de plástico empilhados com os restos das comuns bebidas de bar: coca-cola, cerveja, água e sumo de fruta. Mona Hatoum, na galeria Chantal Crousel, cria um cubo mágico que parece conter, na sua transparência de plexiglass, uma escrita misteriosa vinda do Oriente; são as unhas da artista, cortadas ao longo de um ano para criar esta obra. As novidades desta edição são os concertos no Louvre, que apresentam Tony Conrad, Rodney Graham e Jeremy Deller a partir deste fim-de-semana. Como estava curiosa para observar como se manifestavam os eventos “Off”, nesta nova conjuntura económica, decidi assistir à inauguração da Slick, a feira mais alternativa de Paris, que ganhou as suas letras de nobreza, transferindo-se para o recentemente inaugurado Centquatre. Este gigantesco espaço de exposição no norte de Paris, ocupa as antigas instalações municipais destinadas às exéquias fúnebres (SMPF). É aqui na cave do espaço que se apresenta a 3° edição da Slick, que continua a ter o mesmo aspecto descontraído na aliança entre público e galeristas. Como sempre as obras e os artistas apresentados são díspares. Os americanos jogam às cartas enquanto esperam compradores, a directora da galeria Numeriscausa tem tempo para me apresentar o catálogo de um dos seus artistas que trabalham no campo digital: Miguel Chevalier. O que me surpreende é ver as dezenas de versões de crânios existentes nesta feira. Muitos artistas decidiram glosar o símbolo da vanitas absoluta revestido de diamantes para Damien Hirst, no seu “For the love of God” (2007). Aqui os crânios podem ser de grandes dimensões em plástico, em fotografia, em materiais diversos, mesmo em tricot. São estes os restos do meu primeiro dia pelas feiras de arte de Paris … SÍLVIA GUERRA Paris |