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NOVO NEW MUSEUMANA CARDOSO2007-12-17O novo New Museum, desenhado por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, da firma japonesa Sanaa, inaugurou na Bowery, no Lower East Side. Na manhã de quinta-feira, 29 de Novembro, para os jornalistas, quando ainda se acabava a montagem; nessa mesma noite para o mundo da arte; e na sexta-feira para os financiadores do museu – os trustees e os donors (entre os quais se incluem Maria e João Rendeiro). No domingo, dia 1 de Dezembro, o museu abriu portas durante trinta horas consecutivas, sem fechar, para o público em geral. Conheci o museu mesmo a estrear quando só lá estavam empregados, comissários e directores. Tomei um café com o Miguel Amado (é Curatorial Fellow do New Museum) na cafetaria New Food, sentámo-nos em cadeiras todas diferentes, de Franz West e designers e conversámos sobre a agenda do museu. Na entrada ampla, para além da cafetaria, está a loja do museu (New Museum Store) e ao fundo uma galeria separada do resto do espaço por uma parede de vidro, onde sete ecrãs de plasma bastante afastados entre si mostram a peça “Black on White, Gray Ascending†(2007), uma animação de texto que passa ininterruptamente, de Young-Hae Chang Heavy Industries. Nas galerias dos três pisos superiores está instalada a exposição inaugural “Unmonumental: The Object in the 21st Century†– que dedica a primeira parte de “Unmonumental: An Exhibition in Four Parts†a objectos feitos sobretudo de justaposições e relativamente precários. O New Museum expõe unicamente arte contemporânea e esta exposição – “Unmonumental†– situa-o numa estratégia global, propondo arte que se opõe ao caminho modernista pela atitude fragmentária e não impositiva, aparentemente transitória ou propositadamente frágil, e sobretudo mais complexa. Os três pisos estão cheios de objectos, o que a alguns parece demais e a outros (como a mim) revelou apenas as dimensões modestas do espaço arquitectónico. O edifÃcio que de fora parece bastante amplo, talvez pelo equilÃbrio em altura da sua construção, feita em cubos sobrepostos, deslocados e forrados homogeneamente por uma malha metálica é, no interior dos andares onde se situam as galerias sem divisões, muito menos impressionante, mas harmonioso no seu despojamento e nos materiais sólidos e sóbrios. Um dos aspectos mais interessantes da programação de “Unmonumental†é o facto de cada parte ser uma camada que se acrescenta à precedente. A exposição funciona na dinâmica dos seus pressupostos de colagem, montagem e experimentação, enchendo o espaço até à exaustão. “Collage: The Unmonumental Pictureâ€, em Janeiro, vai forrar as paredes das galerias, que actualmente estão cheias de objectos, sem os retirar. Em Fevereiro será “The Sound of Things: Unmonumental Audioâ€. O som será também acrescentado à s galerias e “Montage: Unmonumental Onlineâ€, material apropriado e remisturado para a web, estará disponÃvel em Rhizome.org/montage. Na exposição inaugural de objectos, comissariada por Massimiliano Gioni, Richard Flood e Laura Hoptman, encontra-se um português, Carlos Bunga, com três mesas IKEA onde estão colados em estilo miniatural os seus bocados de cartão geralmente arquitectónicos, mais envolventes e representativos. É interessante ver o seu processo adaptado ao fabrico de pequenos objectos, peças fetiche, sobretudo no contexto desta exposição que pretende mostrar o processo obsessivo que leva os artistas a fabricar esculturas, ou totems dadaÃstas. Podemos ver peças de Claire Fontaine, Rachel Harrison, Marc André Robinson, Urs Fisher, Carol Bove, John Bock, Jim Lambie, Rebecca Warren, Manfred Pernice, Isa Genzken, Sam Durant, Shinique Smith, Gedi Sibony, Sarah Lucas, Anselm Reyle, entre outros, contando-se ao todo trinta artistas. Quando entramos no primeiro piso da exposição, a sensação é de estranheza. É esse o objectivo desta exposição de escultura, que pretende mostrar a reinvenção contemporânea da assemblage – assaltar, invadir, chamar a atenção, competir, revelar conflitos, desigualdades, complexidades, falhas. Muitas peças são feitas de materiais recuperados, de detritos, outras de materiais provisórios, precários e manifestamente em decomposição. Há uma sugestão de declÃnio no contexto geral das obras, mas um declÃnio activo – com ansiedade, hostilidade e urgência na junção das partes, na colagem, na oposição e no atrito. Cada peça é um mundo que assume o modernismo em diferentes perspectivas, sem nunca o ter como ponto assente. À medida que nos enquadramos e subimos à s galerias dos pisos superiores, começamos a descobrir nas esculturas-objectos relações muito interessantes, tanto entre si como em si próprias. São esculturas complexas, de significados cruzados e que se formam por necessidade. Não são de facto monumentos à forma, à clareza racional ou à beleza clássica. São peças mais temporais que intemporais, como é a escultura de Urs Fischer, uma mulher feita de cera – uma vela – que irá derreter ao longo da exposição e deixar só uma poça de cera no chão. Em todas as peças há a iminência do desaparecimento, porque também estão, neste momento, num contexto de excepcional visibilidade. É fantástica a escolha das peças, assim como a densidade da exposição, porque nos faz descobrir lentamente relações imprevistas. Embora possamos não gostar de tudo, a seriedade Ãntima e polÃtica das obras, que não são simples piadas e o peso da sua matéria, fazem-nos querer mais, envolvem-nos numa rede narrativa. O que à primeira vista poderia parecer uma cacofonia, revela-se exactamente o oposto, uma estrutura de ideias que se materializaram, frágil e transitória mas onde não há sÃmbolos vazios. Por cima das galerias está o andar com o nome Museum as Hub – é o andar educativo, com acesso a material de projecção, online, visual e escrito (Resource Center). Nas paredes está instalada, entre outros materiais multimedia, uma série documental de Martha Rosler sobre o bairro onde se situa o museu, o Lower East Side – uma zona em transformação, dada a especulação imobiliária feroz que existe em Manhattan. Neste andar irá ter lugar a nightschool, um projecto de Anton Vidokle (fundador da e-flux e da unitednationsplaza) que adopta a forma de uma escola temporária, durante o ano de 2008. Os seminários serão dados por Martha Rosler, Walid Raad & Jalal Toufic, Paul Chan, Maria Lind, Owkui Enwezor e Rirkrit Tiravanija, entre outros, e concorre-se para participar até 15 de Dezembro, no site do New Museum. Finalmente o último andar, aquele de que todos gostam – uma enorme sala de festas com uma varanda em volta – e uma vista linda que vai da zona baixa da Bowery e do Soho até aos edifÃcios altos de City Hall. Ana Cardoso |