Links

PERSPETIVA ATUAL


One Ton Prop (House of Cards) (1969), Richard Serra.

Outros artigos:

2024-11-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2024-10-21


AISHWARYA KUMAR


2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



ARTE NO MEIO DA VIDA (HOMEM NA ESCURIDÃO)



VICTOR PINTO DA FONSECA

2016-06-28




A utilização contínua de placas de aço e chumbo por Richard Serra levou-o a One Ton Prop (House of Cards), 1969, obra considerada central na história da arte: quatro placas usam o seu próprio peso para se segurarem umas às outras num castelo de cartas de chumbo. As propriedades da escultura (físicas e visuais), nomeadamente a gravidade, peso, equilíbrio, e outras, estão incorporadas no material; o processo está implícito na energia usada na composição da peça. O elemento de perigo também está presente na possibilidade de o castelo de cartas cair: em House of Cards o observador (o público) é mais alto do que as placas de 120 cm de altura e pode contorná-las, mas com algum cuidado de forma a não perturbar a peça.

As qualidades da escultura One Ton Prop (House of Cards) são suficientes para nos ensinar que a simplicidade é a essência da mestria exemplar de Richard Serra. A compreensão da arte, e do trabalho artístico, é essencial para revolucionarmos a vida e progredirmos.

A Arte não pode ser desligada da realidade

A maneira como actualmente continuamos a pensar a arte contemporânea (sinónimo de cultura) em Portugal já não é atractiva. É tempo de pensarmos o futuro da cultura com uma total mudança de mentalidade, que dissolva a inércia cultural e que destrua todas as relações e ou ligações desnecessárias ao progresso da arte contemporânea em Portugal; ligações, que na sua maioria se instalaram através de amizades e favores de quem nasce e se reproduz dentro de determinadas bolsas, que transcendem a arte. Temos de aprender a usar o mérito consistentemente, de maneira que o mundo da arte deixe de estar orientado sempre para os mesmos.

É prioritário convertermos o centro do interesse para o mérito - criar novas oportunidades - onde não conte de onde se vem, a posição social, a herança e o passaporte, para alcançar o sonho da arte – que o pensamento actual exige. Relevar o trabalho importante, em vez dos favores, é que deve dirigir toda a organização do sistema da arte contemporânea (sinónimo de cultura) como inspiração para a execução artística e impulso para transformar o dia a dia da vida, de forma que a arte seja de todos; finalmente, mencionar os problemas centrais da arte em Portugal não pode ser tabu, para esquecer o medo de ser prejudicado no quotidiano (a verdade é que o medo esconde as oportunidades de mudança). É fácil criticar a falta de acção dos outros, eu sei. Eu sei.

Mas, que desenvolvimento artístico teremos, se continuarmos a não prestar uma particular atenção à diversidade de ideias, à relação com o ‘outro’ (não há qualquer motivo para acreditarmos na realidade imutável das coisas num mapa de conhecimento em constante expansão): refiro-me à visão do mundo actual globalizado – novas relações sociais exigem novos espaços de liberdade e vice-versa – que nos traz novas identidades (mistura de uma série de culturas), e novas práticas para a construção da arte contemporânea à escala global.

Por exemplo: o impacto consistente na sociedade portuguesa da consciência/influência da complexa matriz híbrida luso-tropical (descendentes de africanos) - que inevitavelmente toma uma vantajosa largura de espírito, medida de dois mundos, Europa e África -, não se reflete (expressa) na cena artística, há excepção da música popular que comunica de forma directa para ser avaliada pelo público (fora do circuito do poder que legitima a produção artística contemporânea em Portugal). A arte contemporânea, particularmente, permanece como um tímido vácuo (exclusivamente monocultural), onde não estão representados artistas de outras nacionalidades ou o luso-tropicalismo por não terem as mesmas oportunidades e ou não suscitarem o mesmo interesse que os outros; a construção da organização da arte contemporânea é um circulo desenhado sobre uma ideia burguesa da arte, uma ideia de classes economicamente favorecidas; fora deste sistema monocultural todos os contributos são preteridos em favor dos que gravitam à sua volta! Continuamos no passado: estamos presos dentro do sistema.

Muito poucos têm uma visão clara e compreensiva da realidade, das ligações entre a cultura portuguesa e uma série de outras culturas. Consequência: a programação e o debate internacional é algo quase inexistente a nível da arte em Portugal... Com uma evidente repercussão na criação nacional: razão para a falta de um consistente network internacional que encoraje e promova projectos e iniciativas transartísticas, capaz de criarem uma consistente ligação entre a arte que se faz em Portugal e o mundo!

Como é que alguém se pode considerar verdadeiramente versado e devidamente informado no que diz respeito à arte contemporânea, se não possuir, uma compreensão do ‘outro’, e dos novos desenvolvimentos culturais à escala nacional e internacional?

Como é que os curadores, críticos, negociantes e colecionadores, identificam os artistas emergentes – o pensamento e a estética contemporânea – se não exigirmos uma total imersão num universo de conhecimento em constante expansão. No que diz especialmente respeito à crítica, a arte exige ser avaliada a par da história, e das diferentes culturas, ao ponto de ser necessário possuir uma visão orientada para o futuro, uma compreensão das perspectivas actuais à escala internacional, de maneira a integrar a diversidade, nos trabalhos a analisar.

Por exemplo: mestrados formativos em “Estudos Museológicos e Curatoriais” deveriam dar o mote para um debate (nos circuitos académicos) entre artistas, curadores, educadores e teóricos conhecedores das artes, para uma análise intelectual capaz de examinar as relações entre os artistas, os curadores, os espectadores e as instituições onde estes se encontram. Sobretudo no contexto académico, perceber-se a razão porque quem escolhe fazer uma formação superior em artes, não tem oportunidades para exercer o seu conhecimento e a dificuldade de todos em entrar na profissão para poderem seguir os seus sonhos até onde o mérito os conseguir levar. A educação curatorial deve encontrar um bom equilíbrio entre a teoria e a práctica sem se denegrirem.

Nós estamos no passado. Eu adoro o passado. É muito mais seguro que o futuro.

No contexto institucional, é fundamental o poder político encontrar uma nova mentalidade que proteja a arte contemporânea: talvez inspirar-se na simplicidade de One Ton Prop (House of Cards), e nos valores que a arte representa, para formar ideias culturais e fugir do conservadorismo (regressivo) do tradicional pensamento político, da ideia - dos sucessivos governos - meio burguesa, meio não, meio talvez, da cultura.

Por exemplo: que progresso teremos quando se recusa tradicionalmente os concursos públicos para as instituições, como processo democrático de escolha, e ninguém parece dar por nada (e não devemos sentir que os concursos são só apropriados às Instituições do Estado: muito melhor seria a Fundação edp e a Culturgest, por exemplo, terem procedimentos democráticos).
Além do mais, temos de vencer o corporativismo – que afasta constantemente os melhores -, a actual descrença, a falta de objectivos ou de esperança que destrói aos poucos as nossas expectativas – só possível com o privilégio da meritocracia, capaz de representar um mundo de possibilidades e de oportunidades, impossível de aprisionar.

A questão ideológica é esta: a arte contemporânea é para ser levada a sério. Nesse sentido tem de ser descoberta em Portugal como um bem comum da comunidade, o bem comum que fundamenta toda a cultura, e não um bem de interesses individuais ou corporativos, como acontece!

A arte não precisa da atenção dos políticos, mas precisa do seu contexto; não se trata aqui de dar a diligente visão excessiva: não é a velha história de estar contra o sistema. Antes, parece-me que todos nós somos a cultura e devemos promover a ideia de que todos temos o dever de questionar o estabelecido (afectando até os mais impassíveis), de sonhar com o futuro como gostaríamos que ele fosse, mesmo que não esteja na nossa natureza por razões culturais sermos pensadores radicais! É possível que o momento certo dependa de nós: ou devemos abdicar dele porque perdemos a esperança de alcançar uma realidade diferente ou porque não queremos saber dela?

A questão é que tipo de sistema institucionalizamos (interessa olhar para a arte em busca de orientação?); que formas de práticas premiamos...os favores (a ignorância), substituindo o verdadeiro saber (o mérito)?; e que organização e estrutura queremos para a arte – a ortodoxia das amizades que imobilizam o desenvolvimento e o progresso, tomando o poder em absoluto?

Por outro lado, a arte (sinónimo de cultura) precisa do estado para ter investimento, para cumprir o seu papel de elevar o estatuto cultural do país, da sociedade civil. Acontece que a distribuição dos apoios da DGArtes é insuficiente, e a sua materialização pouco encorajadora para a comunidade artística (tem uma aproximação minimalista especialmente à arte contemporânea): motivo para ser repensada - para que os apoios sejam ditados com a intenção de serem reprodutivos.

Primeiro, a DGArtes não pode manter o modelo dos apoios do anterior governo! Antes, deve assumir a responsabilidade de fazer as coisas bem: uma maior concentração dos apoios deve transferir-se dos apoios pontuais (apoios circunscritos à analise dos projectos a uma simples dimensão técnica, e não multidimensional de conhecimento e boas práticas; a ideia retórica da cultura desligada da realidade está aposentada), para os apoios anuais, sendo certo que a dimensão anual dos projectos é mais credível e produtiva: programar anualmente é sinónimo de produção contínua - influenciar o dia a dia -, de formação e transformação cultural das pessoas, à semelhança de uma sala de aulas. Portugal, actualmente, é um país de eventos culturais (sazonais), consequência do distanciamento da DGArtes, que nos últimos anos ignorou o ecossistema cultural do país fazendo tábua rasa da história das estruturas de arte de programação anual.

Ainda na política de financiamento (refiro-me ao programa dos apoios directos anual e bienal), é totalmente mal-entendido pela DGArtes, a prioridade estratégica das candidaturas admitidas deverem incluir circulação nacional, em mais do que uma região do país: decisão que condiciona especialmente os projectos de arte contemporânea, podendo inclusivamente o plano curatorial contradizer-se, na impossibilidade conceptual de se ligar a mesma exposição em intimidade com diferentes espaços. O critério da circulação significa um total desrespeito pelo contexto da arte contemporânea - uma exposição de arte deve ser um diálogo diferente em cada espaço e em cada cidade -, razão porque a existência deste parâmetro de referência para apreciação parcelar deve ser abolido dos programas de apoio à arte contemporânea, especialmente se queremos falar sobre o impacto da arte nas pessoas e o seu papel na sociedade.

Também deve a DGArtes saber cumprir as datas para o lançamento dos concursos: atrasos nos lançamentos dos concursos, atrasos na avaliação dos projectos, na contratualização dos apoios e nos pagamentos, interrompe sistematicamente o ritmo (ritmo é perfeição: o ritmo permite-nos ser cada vez mais precisos) de programar, e a inovação; o bem mais essencial e necessário para desenvolver programação é o tempo!

A DGArtes tem de progredir e dar o salto necessário para perceber rapidamente como a arte contemporânea é, e, deve ser comprometida na formação da sua identidade, com o mundo pluralista, cosmopolita, e global (não rústico e provinciano). Este tipo de conhecimento e competência é especializado - a qualificação deve desenvolver-se ao longo de toda a vida -, mas não há aprendizagem na DGArtes; é rigoroso, mas não tem uma supervisão.
A DGArtes precisa desesperadamente desta consciência, para poder merecer o nome. A arte é feita de diferentes ideias, crítica e experimentação sem fim, é um meio de compreensão privilegiado da essência mais íntima do mundo: paradoxalmente, a DGArtes não pensa a arte através da vivencia; antes, vai tirando coelhos da cartola discursiva. A boa visão da arte - a sua conceptualização - precede da vida. A tarefa de pensar a arte, a sua apreensão, não dispensa nem a intuição sensível, nem a observação próxima do estado fluido e variável do mundo da arte em oposição às demonstrações do saber discursivo que têm dominado na DGArtes, particularmente a tendência para a conceptualização académica (os académicos não são o olhar visionário da arte, antes são a realidade meramente clássica), que não passa de passividade!

Por outro lado, a ancestral falta de uma comunidade filantrópica no país – contentando-se com o menos que poderem –, a dificuldade de financiar o sector, também contribui para a inércia e estagnação evidente da arte contemporânea em Portugal.

“A coragem é mais do que a capacidade de suportar, é o poder de criar a nossa própria vida contra tudo o que Deus ou os homens nos possam infligir, para que cada dia e cada noite sejam aquilo que imaginamos. A coragem faz de nós sonhadores”, Novalis.

O mundo da arte contemporânea portuguesa – salvo raras excepções – vive um clima totalmente resignado de aceitação do status quo, da verdade única e conveniente. A hierarquia dominante é um pequeno universo cheio de frívolos contemporâneos – onde tudo é sobre dinheiro -, de pretensão de controle, de acumulação de favores entre pessoas pouco preparadas…É uma espécie de moral, que suplanta o facto de ser possível que se possua uma coluna vertebral. Sinto a falta do sentido da arte maravilhosa. Vejo-me na escuridão. 

 

Victor Pinto da Fonseca