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ORGULHO E PRECONCEITO*VICTOR PINTO DA FONSECA2025-12-14
Este é o texto que eu preferia nunca ter escrito: uma sensação de perda.
A incapacidade da Direção Geral das Artes em reconhecer a visão social do proprietário do edifício e director da Plataforma Revólver de propor/oferecer literalmente um prédio de quatro andares [3.600m2] como uma infra-estrutura cultural — um projecto aberto sem interesse de lucro através do qual a experiência artística, a programação de arte de ponta e a autoria podem circular livremente, fora das restrições do sistema centralizado, na freguesia da Misericórdia, é um Erro [fatal] semelhante ao procedimento do proprietário liberal que não reconhece o interesse cultural da Casa Independente para a cidade de Lisboa porque pretende realizar + valias com a venda do edifício. Os dois interagem, a ignorante DGArtes e o proprietário ávido por lucro: enquanto o proprietário que tem vontade de ganho financeiro impede a Casa Independente de prosseguir, a DGArtes que tem falta de cultura e realidade não apoia a sustentabilidade e a continuidade da Plataforma Revólver. Sem as virtudes que as pessoas generosas mantêm vivas, a cultura perde toda a substância na vida. A cultura é positiva no sentido em que nasce de nós; no sentido em que afirma valores. O funcionamento da Plataforma Revólver dependeu sempre do meu financiamento particular, no entanto, após o COVID [2021] programar exposições de arte e residências sem fins lucrativos tornou-se incomportável com a explosão de despesas de produção associadas a viagens, transportes, seguros, etc, montagem, desmontagem, manutenção do espaço, equipas, etc, etc, etc, tornando uma parceria com a DGArtes fundamental para permitir o equilíbrio e a estabilidade que uma estrutura de arte requer, principalmente quando programas + de 20 exposições por ano seguidas por milhares de visitantes. A capacidade + mágica da Plataforma Revólver sempre foi a de atrair uma enorme quantidade de visitantes. Sabemos quão difícil é arrendar um edifício no centro de Lisboa para programar cultura? Pergunto. Não é só a Casa Independente, a infeliz, que não tem a sorte de encontrar um edifício (na cidade de Lisboa), um local possível que lhe permita continuar a criar a sua programação cultural — a Patrícia bem me contou: “os esforços infinitos que desenvolveu sem sucesso.” E, por fim, neste mesmo tempo, quando és proprietário de um edifício com 4 pisos no coração de Lisboa onde generosamente concentras e promoves toda uma programação pública de arte e cultura excepcionalmente bem sucedida, sem fins lucrativos, numa cidade onde não se pode sequer arrendar uma cave ou um quarto, a generosidade, a inclusividade e a empatia constituem-se um castigo — a DGArtes prefere ignorar-te sistematicamente a visão social e cultural, sugerindo que a generosidade é um enobrecimento modesto, que não confere qualidades nem valor ao projecto de programação artística promovido por um privilegiado que criou a sua própria infra-estrutura — o que significa [a DGArtes] promover um preconceito / um julgamento pré-concebido ensinado pela nossa tradição cultural: como pode um privilegiado justificar actos públicos de generosidade criados por ele mesmo se não é suposto privilegiados reinventarem a forma como a arte deve ser programada? Não há registo de experiências assim. Não é condizente com um privilegiado direccionar os seus bens para uma infraestrutura de arte que acolhe exposições, residências artísticas, sem os interesses comerciais sobre a arte ou fins lucrativos sobre a estrutura. A DGArtes nunca esteve preparada para amplificar a visão social e cultural da Plataforma Revólver. Para ela, as avaliações distinguem-se se criares parcerias com câmaras municipais ou dentro dos circuitos cooperativos tradicionais, visto que não é de todo relevante e apropriado criares a tua própria infra-estrutura cultural através da qual a experiência artística pode circular livremente, fora do controlo centralizado. Tens forçosamente de ser dependente do sistema! É o sistema que nos governa, não o procures desafiar. Deixou isso sempre suficientemente claro nas suas apreciações baseadas em estereótipos e sem fundamento, que me sugeriam: “Não insistas em programar arte e cultura de forma independente — porquê combinar ser generoso e empreendedor cultural, se podes retirar + valias financeiras dos teus bens e contribuíres para a gentrificação? Não sejas tolo! Inaugura um novo capítulo na tua história, aproveita este momento decisivo como uma oportunidade para te desfazeres do teu Art Edifício Transboavista, não só para aliviares os custos de manutenção do edifício, como também, naturalmente, significa um negócio de milhões, mesmo que para ti nada signifique. Terás sempre sucesso com montanhas de dinheiro atrás de ti, vende lá o edifício e enche-te de montanhas de dinheiro. O fim de algo é sempre o princípio de outra coisa.” E era assim tão importante, programares arte e cultura, na Rua da Boavista, ou era apenas a tua obsessão? De qualquer forma a Rua da Boavista e o Bairro de São Paulo já desapareceram tal como o conheceste, e o que importa para qualquer sociedade perder a memória? Quando é que um arte edifício se torna uma necessidade, e depois um espaço útil? Não se percebe um país assim cujo panorama político-cultural destrói tudo o que é diferente, cultura, independência e generosidade. Faz tudo para o aniquilar, a princípio inconscientemente, depois já de modo deliberado. Até aos dias de hoje, só vi preconceito, mediocridade e estupidez na DGArtes. A verdade é que não é uma Direção Geral das Artes saudável, é mesmo doente e medíocre, dos pés à cabeça. É assustador. Nesta farsa da DGArtes o seu grande mal é o status-quo cooperativo com que se deixa guiar, onde parece que só domina o + primitivo instinto de conservação da ignorância consagrada como único meio para todos os fins. Não há realmente uma visão cultural e artística de futuro, cosmopolita, mas uma visão administrativa, provinciana. Numa palavra, numa época em que o universo da arte internacional - ver o ranking anual das pessoas que moldaram a arte no último ano na lista da Artreview - evidencia a presença de pessoas e o seu envolvimento em processos de “redistribuição” da renda que os seus bens geram, refletindo o desejo de reinventarem a forma como a produção de arte deve ser distribuída em estruturas fora dos contextos tradicionais de recursos comerciais e governamentais que ajudam a inspirar as novas gerações a reverem-se na arte e a experimentarem o seu poder incrível, e conservando a composição social e económica da cidade, com a sua atenção especial à generosidade, a novas formas para enquadrar as consequências físicas e morais de uma catástrofe social onde bairros são requalificados, atraindo residentes de maior poder económico, o que eleva o valor dos imóveis e o custo de vida, levando à expulsão da população original e à impossibilidade assumida de artistas encontrarem ateliers e espaços alternativos para mostrarem trabalho, num mundo em que a ganância e a ausência de valores são indistinguíveis — A DGArtes é preconceituosa contra pessoas que aplicam os seus valores ao mundo graças à sua educação e autonomia, deixando um vácuo de generosidade. O que procuro denunciar em cada linha deste texto é nada mais nada menos do que isto... a DGArtes nunca reuniu a competência necessária sobre arte e cultura contemporânea para avaliar os projectos da Plataforma Revólver, não há outra verdade. A cultura é realmente o valor dos valores. Mas para haver cultura necessitamos de estruturas independentes bem sucedidas que a promovam. É ridículo imaginar a ideia absurda que a virtude deva ser vista a partir da premissa da riqueza ou pobreza de uma pessoa, e da ideia segundo a qual uma pessoa ou entidade seria prejudicada no reconhecimento da sua visão social graças a ser proprietário de bens, o que lhe permite programar arte e cultura. Se não nos apercebermos deste disparate profundamente perverso, talvez seja porque nos habituaram a pensar na riqueza como negativa, apenas como uma questão de impedir a felicidade dos outros, e não como positiva, no sentido de criar condições para que as pessoas possam aceder [por exemplo] gratuitamente à arte e cultura. A vida pode ser muito melhor do que é, como indivíduos e como cidadãos. Afinal, olhar pelo lado bom - expressa esperança. É esse tipo de esperança que procura fazer avançar o mundo! Podemos tornar-nos respeitados. Será necessária muita reflexão da DGArtes, e talvez menos silêncio e cinismo leviano. E também + educação e sorrisos (estas pessoas da DGArtes não sabem responder quando questionadas? E também não sabem ser educadas? A competência não obriga a ser cinzento). Na terra dos justos era impensável a Plataforma Revólver não ser apoiada. A Plataforma Revólver transformou a cena artística da cidade de Lisboa. Desde a sua fundação em 2004, criou e formalizou muitos dos conceitos nucleares da programação de arte contemporânea: autonomia e independência sem fins lucrativos, o sistema de exposições simultâneas, e o conceito rigoroso de instituição alternativa. Porém, a DGArtes, cujo saber dificilmente se estende além do conhecimento artificial do universo das artes, não faz da arte contemporânea ideia nenhuma: avalia centenas de candidatos a apoio financeiro do Estado - portanto dinheiro dos contribuintes - e não faz ideia de coisa nenhuma do que se passa na arte. Aqueles que expressam factos, público e sucesso, são menosprezados como ingénuos. Deixemos que os mentirosos mintam e a verdade pereça. Aqueles que observam no terreno a cultura e a comunidade nunca dificultariam a prática da Plataforma Revólver! Uma avaliação a favor da verdade significa tomar o partido dos factos. Tomar o partido dos factos significa apoiar estruturas bem sucedidas, que apresentam diariamente resultados, que não vivem em mentiras como cartas de apoio e recomendação. Que interesse é que isso tem realmente? Pergunto. — O compromisso com a independência é aí que está o poder! Falta a experiência dos factos à DGArtes, a prática de observação no terreno, para ser conhecedora do funcionamento das estruturas de programação de arte. Uma boa DGArtes daria passos concretos para proteger as estruturas independentes que fazem história de arte e incentivar os factos, não as mentiras. A verdadeira e única ciência é o conhecimento dos factos. A DGArtes devia escrutinar as actividades dos candidatos com base em factos que se podem confirmar, excluindo ideias e dogmas que envolvem teorias. O conceito de história é a única maneira de fazer uma leitura coerente do presente. Não podemos livrar-nos do passado. A diferenciação precisa de se fazer não à maneira artificial - antes, terá de ser “totalmente inclusiva” assentando em tantos factos quantos forem possíveis. Noutros termos, é preciso um conhecimento prático pormenorizado de cada estrutura: de outro modo, como podemos encontrar diferenças que nem sabemos procurar? Se não há pessoas suficientes para verificar factos, se é um objectivo inalcançável, vemos claramente que os concursos de apoio às artes são um embuste. Tem a DGArtes de se concentrar nas observações, e não nos sistemas ou formulários, que fazem + para proteger os profissionais dos concursos - que cobram uma percentagem sobre o valor do apoio concedido, profissionais especializados em elaborar projectos formatados dirigidos ao que a DGArtes considera ser a agenda, de modo que funcionem teoricamente na perfeição para serem apoiados, do que os profissionais da programação de arte. Os concursos que a DGArtes chama de apoio financeiro às artes criaram uma nova profissão, os profissionais dogmáticos dos concursos que nunca houveram programar. O serviço que a DGArtes presta às artes, dificilmente será superior ao prejuízo que as suas avaliações fazem à mesma arte. Sempre preferi o prazer de ser parte da comunidade, de poder programar um edifício excitante de arte e consciência cultural, um espaço físico permanente onde todos sentissem que o universo da arte é acessível, que podiam entrar e falar com a pessoa que possui e dirige o espaço, como se uma nova experiência tivesse de ser inventada, para criar um novo ambiente onde pudesse experimentar um espaço que eu poderia imaginar que seria produtivo para a cidade e para o país, em que a arte e os artistas se envolvem com o público, e acima de tudo o público questiona e vive as exposições. (Sem o interesse do público a Plataforma Revólver teria sido simplesmente + um catálogo.) Uma programação que falava de autonomia dentro da arte e criava um nível de acesso e a possibilidade de novos e diferentes públicos. Não “um clube de amigos, o que se espera”. Eu não tenho nenhum interesse quando isso faz parte da conversa. O compromisso da Plataforma Revólver com a cultura e a sociedade guiou a sua programação independente. Foi assim que eu entendi sempre a Arte! No entanto numa cidade em que todos criticam a gentrificação, as rendas e o custo de vida a subir, nunca a DGArtes reconheceu qualquer mérito na minha visão cultural de me opor à especulação imobiliária, ao aumento da segregação socioespacial — de programar fora dos sistemas de valorização. Rejeitou sempre distinguir a generosidade dos meus projectos, que auxiliam artistas a concretizar as suas visões, rejeitou sempre distinguir o incomparável prestígio artístico internacional da Plataforma Revólver, antes, confrontando-me desavergonhadamente com as suas apreciações medíocres e ignorantes como lhe é própria, tantas vezes passando das marcas a sua ignorância — como provocando-me, “venda lá o seu edifício é o que todos devem fazer, convém-te + em todos os aspectos, não seja romântico apontando exatamente ao contrário do que é habitual. Encontrarás consolo no dinheiro”. No entanto, provavelmente esta DGArtes são as mesmas pessoas que revestidos de hipocrisia regularmente se manifestam e gritam gritam contra a gentrificação. A falta de financiamento público da DGArtes à programação da Plataforma Revólver que permitisse conservar a ideia transterritorial do Transboavista Art Edifício na qual baseei a programação do https://transboavista-vpf.net é um crime social, não há outra verdade. O resultado é a impressão que o país está permanentemente mal governado. Isto espalha-se pela sociedade e acaba por premiar as decisões centradas no corporativismo. A Direção Geral das Artes faz reflectir sobre preconceitos e valores pelo mal que faz à arte e à sociedade, pela sistemática ignorância e pelo uso dos programas de apoios às artes visuais para fins corporativos. O que significa a falência da administração do Estado! Arte, exposições sem interesse de lucro, artistas e um público interessado e feliz é o que sempre foi + importante para mim: mas pretenderes ter um prédio no centro de Lisboa e promover exposições e artistas sem interesse de lucro, custa dinheiro, tens de gastar muito dinheiro. Não é isento de dificuldades económicas. É saudável seres apoiado pela DGArtes: com + financiamento para além do teu investimento pessoal o projecto podia prolongar-se para criar ainda + oportunidades para os artistas crescerem e continuar a assumir riscos. Necessitamos de verdadeira generosidade. Foi a arte sem interesse de lucro que atraiu sempre a minha curiosidade, e não o dinheiro, que eu conheci desde sempre, penso eu. Nesta história, a ignorância, a indiferença e a estupidez da DGArtes são de certo modo idênticas às do proprietário liberal. Nada disto tem justificação, e é muito vergonhoso. “Eu tinha de dizer esta verdade!”, para descrever o que conheço sobre o funcionamento interno da DGArtes, observador dos programas de apoio às artes, mas também observador de mim mesmo. O funcionamento interno da Direção Geral das Artes é preconceituoso e medíocre de verdade. A DGArtes é autofágica e cínica. A direção geral da cultura não pode ser formada por pessoas provincianas cujo primeiro pensamento é tentar enfraquecê-la. É na verdade invulgar. Reflecte o preconceito do passado e projecta o preconceito para o futuro. Preconceito matreiro não deixa de ser preconceito. Não estou a tentar ser altivo; tenho as minhas razões. E, a propósito, eu não quero nem + um dia criticar a DGArtes! Nunca me tocou de modo nenhum as suas avaliações ignorantes e preconceituosas aos meus projectos - ainda que o efeito disto não é neutro: afasta-nos de programar a Plataforma Revólver, e portanto da utilidade cultural do edifício Transboavista. Primeiro reduz a nada a generosidade e a visão social. Depois destroem-na no momento exato em que a reduzem a nada. Mas contra um organismo assim, como a DGArtes, uma pessoa não se pode defender, ela vem e reduz a nada o que uma pessoa concebeu durante anos. No entanto, ter desenvolvido uma programação de arte totalmente independente, sem interesse de lucro e com uma forte visão social e enorme impacto na arte contemporânea nacional e internacional e no público, num país absurdo politicamente e culturalmente, foi provavelmente o maior de todos os prazeres. É onde somos realmente diferentes. No meio de toda esta pobreza de espírito que nos rodeia uma coisa é clara: termos um director da DGArtes que literalmente não sabe nada sobre arte contemporânea mina o programa de apoio às artes visuais e coloca em risco a cultura em Portugal. A mediocridade da Direção Geral das Artes em perceber a visão social que representa um espaço crítico, independente e alternativo aos interesses comerciais, enorme e fantástico de programação de arte e cultura, retira, particularmente aos jovens que entram na idade adulta a possibilidade de crescerem culturalmente e artisticamente. O que + podem fazer? Uma resposta óbvia será desviarem a atenção para outro lugar, serem atraídos por políticas radicais, não é de admirar. Depois espantam-se com o crescimento entre os eleitores mais jovens que planeiam votar nos partidos radicais. Não é uma história alheia à política da DGArtes. A política da DGArtes dos apoios financeiros está a provar ser um caminho perigoso a seguir. Enquanto isso, o espaço público torna-se mais grosseiro e violento. O risco é claro!
victor pinto da fonseca
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** Comunicado da Casa Independente: “Vamos encerrar em dezembro de 2026. Fizemos diversas tentativas para encontrar uma solução que nos permitisse permanecer abertos para além dessa data. No entanto, as negociações não foram suficientes: o proprietário seguiu a tendência que hoje domina Lisboa, onde hotéis e condomínios têm mais valor do que projetos culturais que servem a comunidade. Mesmo a tentativa de arrendar um espaço camarário com o apoio da autarquia não teve resultados, revelando como a cidade continua sem respostas para proteger os seus espaços independentes. O nosso encerramento é mais um alerta para o futuro da cidade, juntando-se aos muitos espaços culturais que fecharam nos últimos anos. |















