|
HOTEL EVERLANDSÍLVIA GUERRA2008-01-07Hotel Everland. Um Projecto de Sabina Lang e Daniel Baumann PALAIS DE TOKYO, de Novembro a Dezembro de 2008 I’m in Everland… just in Everland…! … and my heart beats so that I can hardly breath… - … et voilà! O Museu transforma-se em Hotel, pela mão dos artistas suiços Sabina Lang e Daniel Baumann. Neverland, ou como dormir numa obra de arte; com vista para o Sena, a Torre Eiffel como catavento, e um ambiente de cápsula espacial que pode partir para Saturno a qualquer momento. Disfarço-me de terrível Sophie Calle por umas horas e peço para dormir uma noite no Hotel Everland. Máquina fotográfica escondida na carteira, óculos escuros (para que Marc-Olivier Wahler não me reconheça) e as chaves na mão de um quarto único do Hotel. A escadaria que me leva ao hotel-cápsula é batida pelo vento de Inverno de Paris, o corredor é o tecto do Museu e finalmente entro. A porta fecha-se. O sonho do coleccionador do “Amante do Vulcão” de Susan Sontag realiza-se. Estou sozinha dentro do Museu que se transformou num quarto de Hotel só para mim. Da janela vejo o Musée de La Ville de Paris, antecipo as exposições de Helene Schjerfbeck e de Alfred Kubin, e por baixo de mim, tal como os dinossauros que dormiriam a noite dos séculos estão as obras escolhidas por Ugo Rondinone na carta branca que lhe lançou o director artístico do Palais de Tokyo. Tudo isto permite, ao mesmo tempo, sonhos e pesadelos, num misto de réverie “linchyana” pelo Everland e de arte para os sonhos, arte no tempo do sono e do dia. Como é o Hotel Everland? É uma suite no estilo rétro da arte nova com os detalhes do design contemporâneo holandês. Cama de casal king size, quarto de banho e lounge. Pode parecer um décor de um filme de Jacques Demi revisitado, onde podemos ouvir velhos discos em vinil enquanto abrimos o champanhe do mini-bar ( mini-bar gratuito, que nos prova que o Hotel Everland é irreal). No momento em que vamos tomar banho sentimos a possibilidade da existência dos olhos de um qualquer guarda-nocturno; os museus são na sua solidão nocturna paisagens de filmes de terror. As toalhas e os lençois são verdadeiros, com as iniciais do Hotel bordadas a ouro e os clientes podem deixar as suas impressões no “Livre en or”, que não se trata de um livro de reclamações mas de um pequeno diário de bordo deixado à livre participação dos hóspedes. A noite custa 333 euros aos domingos, terças e quartas-feiras, e 444 euros às quintas, sextas e sábados. So é permitida a reserva de uma noite no Hotel. A arquitectura, a instalação e a arte Inicialmente esta instalação dos artistas L/B (Sabina Lang et Daniel Baumann) foi exposta na Suiça em 2002, tendo sido criada para a exposição colectiva “Eleverland” comissariada por Gianni Jetzer. Depois permaneceu no topo de um edíficio sobre o Lago Neuenburger. De Junho de 2006 até Agosto de 2007 toda a gente podia ver o Hotel Everland no telhado da Modern Art Gallery em Leipzig. Neste momento é o Hotel de uma noite do Palais de Tokyo. A questão que me coloco após o ter visitado e experienciado é a seguinte: O Hotel Everland é uma obra de arte pela sua localização dentro das instalações de um museu? Ou é a materialização de uma “noite em arquitectura” como diria citando o título da mais recente publicação de Jorge Figueira? Penso que se dormisse dentro de uma escultura de Brancusi ou na “Totes Haus Ur” de Gregor Schneider (Pavilhão Alemão, 49ª Bienal de Veneza) me sentiria mais próxima de dormir numa obra de arte. O Everland Hotel desilude pela sua hiper-realidade, de hotel-design, onde a individualização artística mais marcante é o percurso a que nos submetemos para entrar nele, ou seja, a entrada pelo museu à noite e a sua localização. A questão das fronteiras entre a instalação artística e o papel do design na arquitectura são aqui prementes e ficam sem resposta, pois a operação comercial sobrepõe-se à questão estética. O desafio lançado pela instituição ao público é interesante na medida em que permite uma nova abordagem à arte contemporânea, pela intimidade de um sono partilhado. No entanto, os sonhos que se podem ter nessa noite serão a forma mais surrealista de arte. Sílvia Guerra |