|
FRIEZE ART FAIR - PICKLEDSÍLVIA GUERRA2009-10-20FRIEZE ART FAIR 2009 Londres, 15 a 17 de Novembro de 2009 “Oh, Hamlet, how camest thou in such a pickle?” William Shakespeare, Hamlet (Act 5, Scene 1.) Não foram certamente os ingleses que inventaram os pickles, pois a arqueologia comprova a sua existência em 2030 a.C., entre os habitantes do Vale do Tigre. Porém, um ano após o crash económico e financeiro mundial que abalou os alicerces do capitalismo desenfreado, os pickles podem ser uma boa metáfora para o mundo da arte contemporânea e para o espírito de uma feira fleumática - um certo picante em conserva. Quarta-feira, foi o dia dedicado às diversas pré-aberturas da Frieze, com os convites especiais a serem utilizados pelos coleccionadores super-vip, que acederam ao recinto da feira por volta das 11 horas da manhã, enquanto a “plebe” lutava para ter um convite para a visita privada das 17.00 horas... Entre eles encontramos um casal de São Francisco, Norah e Norman Stone, que após visitar a feira se decide por uma única aquisição: “Pickled E.K7302-244-0502” (2006), de Tony Conrad à venda na galeria suíça Daniel Buchholz. Cinco frascos de pickles, com fitas magnéticas de filmes em conserva por um valor de 5.000 euros. Esta é uma prova de moderação no mundo da arte, como me conta uma das assistentes da galeria Yvon Lambert ( Paris, Nova Iorque): “agora os coleccionadores deixaram de comprar euforicamente e impulsivamente, vêem, meditam e se voltarem no final da tarde é bom sinal!” Este galerista francês que no espaço de três meses abriu e fechou uma sucursal em Londres aguardava, expectante, o desenrolar das vendas deste ano, mostrando no seu stand alguns artistas mais jovens como Michael Brown (1969), com peças como “David Bowie, Iggy Pop/the Stooges (2009), um balde e uma esfregona com cabo em vinil ou Jill Magid (1973) e o seu projecto “Secret Agency” (2009), uma obra que faz referência a todas as censuras e sobretudo à dos serviços secretos holandeses, que a convidaram a fazer um projecto artístico utilizando os seus ficheiros, para contribuir à boa imagem e transparência da instituição perante o público mas depois impediram a divulgação dos conteúdos da mesma pesquisa artística. Mais uma das contradições do eterno Big Brother da sociedade contemporânea. Aliança Luso-Britânica de 1373 até hoje A Frieze, nesta sua 7° edição, apresenta 168 galerias internacionais e conta igualmente com um grande número de ausências (a galeria portuguesa Cristina Guerra é uma delas) mas tenta recuperar o fôlego com a participação de galerias mais jovens do panorama inglês e internacional como a Limoncello de Londres ou a Marz de Lisboa. Seria por um dos directores da Frieze, Mathew Slotover, ter visitado a Arte Lisboa na edição passada, que este ano foram 3 + 1 as presenças nacionais na Frieze? Temos a Galeria Filomena Soares como veterana e a Lisboa 20 Arte Contemporânea como recém-chegada; a Marz Galeria está nos projectos especiais da secção Frame e a Arte Contempo, composta por Miguel Amado e Filipa Oliveira, participa como projecto curatorial associado. Estas são razões para celebrar esta aliança luso-britânica que não se manifestava desde as guerras napoleónicas. Porém a imprensa diária nacional fecha os olhos a estes eventos artísticos não enviando nenhum repórter cultural à capital britânica, lamenta-se Miguel Amado. O projecto “Troca Impossível” com a performance diária de Joana Bastos foi um dos stands dos Frieze Projects mais visitados da feira, com presenças diferentes em cada dia da semana, entre Carey Young, Julieta Aranda e Anton Vidockle. A Marz apresenta também um artista luso que se tem distinguido na cena britânica: Bruno Pacheco (Lisboa, 1974). Aqui e ali, encontramos algum clássico contemporâneo, como John Baldessari (Santa Mónica, 1931), que tem uma magnífica exposição monográfica na Tate Modern ou o fotógrafo Juergen Teller (Londres, 1964), que continua a apresentar em grandes formatos os mitos do século XX, de Charlotte Rampling a Vivienne Westwood. Não podemos esquecer que os súbditos de Sua Majestade são grandes consumidores de imprensa cor-de-rosa. As galerias brasileiras também se encontram em força no mercado inglês, com presenças como a Luísa Strina, a Vermelho ou a Gentil Carioca a apresentar criadores nacionais e internacionais. Pela mão da Galeria Vermelho de São Paulo temos o colectivo SUPERFLEX (Copenhaga, 1993) que vende a possibilidade de ser um dos 5 participantes numa futura experiência de habitat artístico ou How to live your life como um molusco ou um outro animal num workshop com outros 4 participantes num lugar distante do globo. Por 7 000 euros adquire-se o cartaz/bilhete. Do conjunto salientam-se esculturas de outra dupla de artistas nórdicos, Elmgreen & Dragset, que apresentaram “Os coleccionadores” no Pavilhão Nórdico da Bienal de Veneza deste ano. Aqui a galeria Nicolai Wallner de Copenhaga apresenta obras de pequeno formato da dupla, como o inter-comunicador doméstico, em que num vídeo em formato reduzido vemos um pobre apaixonado de ramo de flores na mão e sem aparente reciprocidade. Ryan Gander (Chester, 1976), sendo um artista que define o objecto artístico contemporâneo num período social de reavaliação económica, apresenta-se com obras como “Things that mean things and things that look like they mean things” (2008) nos Frieze Projects pela mão do curador Neville Wakefield. O prémio Cartier foi este ano atribuído ao artista Jordan Wolfison, com uma abordagem da instalação numa linha que poderíamos qualificar de neo-arte povera. It’s a POP WAY OF LIFE... A cidade fervilha de exposições em que os artistas Pop reemergem, desde a colectiva “Pop Life Art In a Material World” na Tate Modern , a Eduardo Paolozzi, um dos precursors da arte pop britânica com “The Jet Age Compendium” na recentemente criada, e já muito hype galeria Raven Row. De novo os brilhos do common people para fazer esquecer a crise? Uma feira de arte muito bem orquestrada este ano e, perdoem o anglicismo, muito cool. Sílvia Guerra |