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ENTREVISTA


Ana Jotta.

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ANA JOTTA


Ana Jotta possui uma obra múltipla e repartida por diferentes técnicas, desde a pintura, escultura, instalação, fotografia, cerâmica... Referências provindas da história da arte misturam-se com referências da cultura popular e vernacular. Com duas exposições internacionais anunciadas para breve, em Paris no Le Crédac e na Bienal de Liverpool 2016, Ana Jotta conversou entretanto com Victor Pinto da Fonseca sobre a vida e a arte, o espaço e os objectos, as “coisas” que lhe interessam, o irracional, os lugares “para” ou “dos” artistas.

 

Por Victor Pinto da Fonseca

 

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VPF: Em julho participarás na Liverpool Biennial 2016, demonstrativo do interesse que o teu trabalho revela em curadores internacionais. Pessoalmente, gosto de pensar que a tua prática artística - a utilização de coisas e materiais próximos de ti, do dia a dia - é como experienciar e traduzir a simplicidade da vida; mas, a essência, o que mais admiro na produção da tua obra, é a força do teu carácter, a tua atitude. Uma ideia mais ou menos similar ao "Live in Your Head. When Attitudes Become Form", [1969], Harald Szeemanns.

- Parece-te fazer sentido semelhante abordagem do teu trabalho? Não me esqueço, ao mesmo tempo, que a tua obra também está ligada à pintura...O que te faz ser simultaneamente pintora e escultora...Existe conexão entre a pintura e os objectos?

AJ: A vida não é simples, linear sim - daqui até ali. O trabalho também não é simples, mas duma maneira muito diferente: a vida, já disse há tempos, é sujeita, púdica, quente; a arte é impudica, vital e fria.

- Mas eu sou uma pintora que muitas vezes, por falta de energia ou saúde, não consegue reduzir-se a uma superfície: é sempre mais fácil lidar com coisas, objectos, mais próximos, parecidos connosco, que também temos volume.


VPF: "É preciso uma vida para nos tornarmos um jovem artista", Jan Fabre.

- Que significado tem para ti teres recebido o grande Prémio EDP 2014 e mais recentemente o Prémio AICA 2015, como distinção de carreira? Ao mesmo tempo, que opinião tens sobre a cena artística actual em Portugal, num momento em que me parece que a arte em Portugal é cada vez mais estranha à natureza das pessoas?

AJ: Para nos tornarmos um jovem artista, mesmo velhos, é preciso não ter medo, ser económicos e certeiros.

- Dinheiro é sempre bem vindo, das honrarias, desconfiar. A cena artística é igual em todo o lado. Não é o mundo global?


VPF: Vamos falar da tua próxima exposição individual (em Abril) em Paris, no Le Crédac, e do que irás fazer lá. Sei que o Crédac é um centro de arte contemporânea de referência (bem dirigido e muito prestigiado); e conhecendo o espaço, acredito que tem um ambiente perfeito - refiro-me à escala e à arquitectura do espaço - para intervires de maneira que o teu trabalho possa ser visto não só individualmente mas também relacionando-se com o espaço...

- Podes partilhar com a Artecapital como é que surgiu o convite da Claire Le Restif? E revelar-nos o que apresentarás... trabalho recente, site especific?

AJ: O sítio é grande, sim. Espaço e arquitectura não me interessam nada, não tenho relações com espaços ( "A Arte do Escaparate, da Montra"), a não ser para tentar evitá-los, que não sejam um obstáculo e um estorvo para a vida das coisas. As coisas, essas sim interessam-me, têm vida própria; gosto muito de Artes Decorativas e de trabalhos manuais.

- [A Claire Le Restif] Viu por acaso. Tinha acabado de chegar a Lisboa, fazia anos, e alguém lhe disse que naquela noite havia um vernissage duma Ana Jotta, "A Conclusão da Precedente", que talvez lhe interessasse ver. E interessou. Quanto a trabalhos, só me interessam as novidades; o que está feito, está feito. Vamos lutar com o dito espaço e evitar que ele tome conta da situação e deles, dos trabalhos.


VPF: "Quando o cubismo começou a ser conhecido, falava-se sobretudo de Metzinger. Ele explicou o cubismo enquanto Picasso nunca explicou nada. Levou-se alguns anos para se dar conta de que não falar era melhor do que falar de mais" In: Entrevistas com Pierre Cabanne, Marcel Duchamp.

- A tua obra comunica extraordinariamente mas simultaneamente tu resistes à procura de popularidade, ao lado publicitário. Contrariamente, parece-me que - no tempo actual - a maioria dos artistas têm tendência para falar de mais do seu trabalho... Ou será uma espécie de tensão provocada pela maior visibilidade cultural da arte (muitas vezes associada ao entretenimento) e o maior interesse dos media pela arte contemporânea, que os faz explicar tudo?

AJ: Continuamos a não nos darmos conta de que não falar é sempre melhor. Ou se trabalha ou se fala. Para simplificar, as coisas todas, arte incluída, são agora objectos " transgénicos". Não tenho que resistir a coisa nenhuma, a não ser a mim própria. Apesar de, é possível ainda trabalhar. Basta dizer não. Não há só 1 mainstream, há muitos.


VPF: Ainda a propósito de teres recebido recentemente o Prémio AICA 2015, li um artigo sobre ti (num jornal diário), no qual a palavra "liberdade" surgia diversas vezes associada à crítica do teu trabalho e/ou à tua pessoa, o que num certo sentido, não deixa de ser romântico, considerando que o romantismo enquanto arte sempre apareceu ligado ao conceito de liberdade individual!

- A Ana Jotta que considera que, "A arte é vital (...) viver e trabalhar é absolutamente a mesma coisa, sem diferença alguma" (e aqui voltamos à questão da tua atitude, que muito admiro na tua obra), é uma romântica ou resiste às referências da história de arte?

AJ: Estás a falar do artigo no Público da V. R .? Se sim, se estás, ser-se livre, e no meu caso, como diz o João Fernandes, é ser "uma gata sem dono". Dizer não é um facto, não é romântico.

- Não tenho que resistir a coisa nenhuma, muito menos a referências, sou do irracional, que é um mundo muito vasto, inclassificável. Só faço o que me apetece.


VPF: O Eugène Delacroix, na época em que realizou a viagem ao Norte de África, retratou através de diversas cartas as suas visões e entusiasmos sobre Marrocos. A determinada altura, numa das cartas enviadas a um amigo parisiense, descreve mesmo Tânger como, "É um lugar totalmente para pintores. Se alguma vez tiveres uns quantos meses para perder, vem à Barbéria, aqui verás o natural, que nas nossas terras sempre se disfarça, e para mais sentirás a preciosa e rara influência do sol que dá a tudo uma vida penetrante."

- Tenho ideia que tens muito de viajante no teu percurso de vida e curiosamente terás mesmo realizado diversas estadias em Marrocos... Consideras que existem lugares totalmente para artistas, ou - um lugar totalmente para artistas -, é apenas uma ideia ilustrativa do romantismo da época?

AJ: Outros tempos. Gosto de Tânger, tenho lá casa. É uma cidade pequena, como Lisboa, a medida certa para mim; não gosto de cidades grandes, das grandes cidades, onde está tudo feito, onde há tudo, informação demais. E quando digo a medida certa, é precisamente para "não me perder". Outra vez o teu romantismo do "exótico".

- Já não há lugares para artistas, lugar para artistas (há poucos desses). A arte, a tal "transgénica", a desse tal mainstream, é a corrida do artista-jóquei para ganhar o troféu do "Estado das Artes".