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LUCAS CIMINO, GALERISTA


Este mês publicamos uma entrevista a Lucas Cimino, galerista da Zipper Galeria, de São Paulo. Conduzida por Juliana Arruda, a entrevista foi publicada originalmente na publicação digital Blouin Artinfo em Maio de 2013.

A Zipper Galeria está no mercado brasileiro há apenas quatro anos, porém sob o comando de Fabio Cimino, marchand com experiência de mais de 30 anos dentro do mercado da arte. O que pouca gente sabe é que Fabio conta com um braço direito ativo e apaixonado pela arte. Lucas Cimino, o seu filho de 24 anos, largou o emprego na área da administração e assumiu junto ao pai todo o processo de concepção da Zipper em 2009.




P: Lucas, como começou o teu envolvimento com arte?

R: O meu pai está há 30 anos no mercado de arte. Ou seja, quando eu nasci esse já era o mundo dele – e consequentemente tornou-se o meu também. Desde os 10 anos eu frequentava a Brito Cimino, a primeira galeria dele. O tempo passou e em 2009 surgiu a ideia de abrir uma galeria focada em jovens artistas para dar visibilidade aos novos talentos e expandir o mercado de arte. Eu ainda estava na faculdade de administração, mas nesse momento pedi demissão da empresa onde fazia estágio e, literalmente, pedi emprego para o meu pai. Tudo ocorreu naturalmente: participei de toda a concepção da Zipper – da escolha do nome ao projeto arquitetónico. Juntos, nós partimos até a parede do imóvel que hoje abriga a galeria. Nesses quatro anos entendi que o dia-a-dia de um galerista é intenso. E, como toda profissão, tem os seus desafios.


P: E você acredita que já existem características tuas que podem ser notadas no posicionamento da galeria?


R: A galeria tem uma atmosfera convidativa, uma energia que deixa todo mundo à vontade, isso reflete muito da forma como eu e meu pai trabalhamos. Para entrar não é preciso tocar a companhia, por exemplo. Nosso trabalho é feito com extrema seriedade, mas quebra a noção tradicional de que para isso é preciso ser sisudo ou intimidador.


P: Como avalia a arte nacional atualmente?

R: O Brasil vive seu melhor momento – não porque hoje temos mais criativos, mas porque finalmente o mundo reconhece nossos talentos. Isso fomenta um ciclo positivo à medida que os nossos talentos têm mais condições e abertura para dar aos seus trabalhos a visibilidade que eles merecem.


P: E o mercado brasileiro?


R: Em plena expansão. O Brasil está consolidado no calendário internacional das artes – isso se reflete de inúmeras formas: nos números de compra e venda de obras; na presença dos agentes do mercado internacional que hoje fazem questão de acompanhar o que acontece por aqui e na presença de importantes galerias internacionais nas nossas feiras – isso só para citar alguns exemplos.


P: Quais oportunidades encontra nas feiras de arte atuais? Sejam as nacionais ou internacionais...


R: Essa não é uma equação simples. Tanto para feiras nacionais quanto internacionais o nosso critério é o mesmo: priorizamos os eventos que garantam aos nossos artistas uma visibilidade junto a todos os atores do mercado: críticos, curadores, colecionadores e instituições. No caso das feiras internacionais esses resultados são alcançados mais no médio e longo prazo – o que é absolutamente natural.


P: Sobre a forma como a Zipper trabalha, existe algum tipo de incentivo aos artistas que vocês representam? 


R: Sem dúvida. Nosso papel não se restringe a apenas inserir o artista no mercado: é uma parceria que visa proporcionar ao nosso grupo de artistas condições para que desenvolvam, através de suas linguagens, os infinitos diálogos possíveis a partir de suas próprias proposições.


P: Quais são os parâmetros para decidir sobre a próxima exposição?


R: O cronograma é pensado pelo Fabio Cimino, que considera, sobretudo, o momento atual de cada artista. Isso implica em analisar, por exemplo, a sua produção e o histórico de exposições, tanto na Zipper quanto em outras instituições.


P: Como é a seleção de artistas da galeria?


R: Nesse sentido a palavra final é sempre do meu pai: ele tem mais de 30 anos de mercado, o que resulta numa visão global na qual eu confio muito. Ele sabe identificar e reconhecer talentos como ninguém. Acompanho todo o processo: visito os ateliês, analiso os portfólios, emito opiniões e questiono bastante – mas a decisão é dele. A essência da Zipper é promover e divulgar jovens artistas e talentos promissores. Assim, é natural que a gente esteja sempre de olho ao nosso redor. Não há um momento em que formalizamos uma abertura para recebimento de portfólio. Além disso, não se trata apenas de agregar mais um talento para a equipe – tem que se perceber na futura relação uma boa sinergia de trabalho. Apenas dessa maneira artista e galeria podem crescer juntos.


P: E os curadores?


R: É feita de diversas maneiras e é aí que mora a riqueza desse processo. A indicação pode partir do próprio artista, que às vezes sugere um nome com o qual tenha proximidade, e, outras vezes, justamente pelo inverso: para agregar uma visão mais fresca ao seu trabalho. Em outras ocasiões o próprio curador nos procura e aqueles que são mais próximos também indicam profissionais com excelentes propostas de trabalho.


P: Quais as principais dicas para um novo colecionador?


R: Pesquise! Primeiro, informe-se sobre onde você está comprando: é fundamental se informar sobre a idoneidade da galeria e do marchand. Em relação ao artista, o mesmo é válido: trajetória, inspirações, currículo – essa pesquisa deixa o ato da compra muito mais interessante e significativo. Por fim, não se prenda apenas aos critérios objetivos e formais: onde eles acabam é que começa o encanto, a surpresa, enfim, a áurea inexplicável da obra de arte.


P: Você pode indicar três artistas contemporâneos?


R: Claro! O Antonio Dias por ser minimalista, o Leonilson por ser intimista e a Adriana Varejão por ser incrível.


P: E três artistas emergentes?


R: Destaco o trabalho do Bruno Kurru, do Ricardo Rendón e do Jardineiro André Feliciano – cada um, à sua maneira, traz questionamentos inéditos e o executam com maestria técnica.



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