Links

ENTREVISTA


Direção coletiva do Doclisboa’12: Cíntia Gil, Cinta Pelejà, Susana de Sousa Dias e Ana Jordão


Imagem do Doclisboa’12


Chantal Akerman, La-bas


Chantal Akerman, Aujourd’hui dis moi


Chantal Akerman, D’Est


Chantal Akerman, De l’autre coté


Chantal Akerman, Les années 80


Chantal Akerman, Chantal Akerman par Chantal Akerman


Songs Black Audio Film Collective, Handsworth


Colectivo Sankofa Film and Video, Territories

Outras entrevistas:

ANA PI



ROMY CASTRO



AIDA CASTRO E MARIA MIRE



TITA MARAVILHA



FERNANDO SANTOS



FABÍOLA PASSOS



INÊS TELES



LUÍS ALVES DE MATOS E PEDRO SOUSA



PAULO LISBOA



CATARINA LEITÃO



JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA



FÁTIMA RODRIGO



JENS RISCH



ISABEL CORDOVIL



FRANCISCA ALMEIDA E VERA MENEZES



RÄ DI MARTINO



NATXO CHECA



TERESA AREGA



UMBRAL — ooOoOoooOoOooOo



ANA RITO



TALES FREY



FÁTIMA MOTA



INÊS MENDES LEAL



LUÍS CASTRO



LUÍSA FERREIRA



JOÃO PIMENTA GOMES



PEDRO SENNA NUNES



SUZY BILA



INEZ TEIXEIRA



ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA



CRISTIANO MANGOVO



HELENA FALCÃO CARNEIRO



DIOGO LANÇA BRANCO



FERNANDO AGUIAR



JOANA RIBEIRO



O STAND



CRISTINA ATAÍDE



DANIEL V. MELIM _ Parte II



DANIEL V. MELIM _ Parte I



RITA FERREIRA



CLÁUDIA MADEIRA



PEDRO BARREIRO



DORI NIGRO



ANTÓNIO OLAIO



MANOEL BARBOSA



MARIANA BRANDÃO



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO E SANDRA VIEIRA JÜRGENS



INÊS BRITES



JOÃO LEONARDO



LUÍS CASTANHEIRA LOUREIRO



MAFALDA MIRANDA JACINTO



PROJECTO PARALAXE: LUÍSA ABREU, CAROLINA GRILO SANTOS, DIANA GEIROTO GONÇALVES



PATRÍCIA LINO



JOANA APARÍCIO TEJO



RAÚL MIRANDA



RACHEL KORMAN



MÓNICA ÁLVAREZ CAREAGA



FERNANDA BRENNER



JOÃO GABRIEL



RUI HORTA PEREIRA



JOHN AKOMFRAH



NUNO CERA



NUNO CENTENO



MEIKE HARTELUST



LUÍSA JACINTO



VERA CORTÊS



ANTÓNIO BARROS



MIGUEL GARCIA



VASCO ARAÚJO



CARLOS ANTUNES



XANA



PEDRO NEVES MARQUES



MAX HOOPER SCHNEIDER



BEATRIZ ALBUQUERQUE



VIRGINIA TORRENTE, JACOBO CASTELLANO E NOÉ SENDAS



PENELOPE CURTIS



EUGÉNIA MUSSA E CRISTIANA TEJO



RUI CHAFES



PAULO RIBEIRO



KERRY JAMES MARSHALL



CÍNTIA GIL



NOÉ SENDAS



FELIX MULA



ALEX KATZ



PEDRO TUDELA



SANDRO RESENDE



ANA JOTTA



ROSELEE GOLDBERG



MARTA MESTRE



NICOLAS BOURRIAUD



SOLANGE FARKAS



JOÃO FERREIRA



POGO TEATRO



JOSÉ BARRIAS



JORGE MOLDER



RUI POÇAS



JACK HALBERSTAM



JORGE GASPAR e ANA MARIN



GIULIANA BRUNO



IRINA POPOVA



CAMILLE MORINEAU



MIGUEL WANDSCHNEIDER



ÂNGELA M. FERREIRA



BRIAN GRIFFIN



DELFIM SARDO



ÂNGELA FERREIRA



PEDRO CABRAL SANTO



CARLA OLIVEIRA



NUNO FARIA



EUGENIO LOPEZ



JOÃO PEDRO RODRIGUES E JOÃO RUI GUERRA DA MATA



ISABEL CARLOS



TEIXEIRA COELHO



PEDRO COSTA



AUGUSTO CANEDO - BIENAL DE CERVEIRA



LUCAS CIMINO, GALERISTA



NEVILLE D’ALMEIDA



MICHAEL PETRY - Diretor do MOCA London



PAULO HERKENHOFF



CHUS MARTÍNEZ



MASSIMILIANO GIONI



MÁRIO TEIXEIRA DA SILVA ::: MÓDULO - CENTRO DIFUSOR DE ARTE



ANTON VIDOKLE



TOBI MAIER



ELIZABETH DE PORTZAMPARC



PEDRO LAPA



CUAUHTÉMOC MEDINA



ANNA RAMOS (RÀDIO WEB MACBA)



CATARINA MARTINS



NICOLAS GALLEY



GABRIELA VAZ-PINHEIRO



BARTOMEU MARÍ



MARTINE ROBIN - Château de Servières



BABETTE MANGOLTE
Entrevista de Luciana Fina



RUI PRATA - Encontros da Imagem



BETTINA FUNCKE, editora de 100 NOTES – 100 THOUGHTS / dOCUMENTA (13)



JOSÉ ROCA - 8ª Bienal do Mercosul



LUÍS SILVA - Kunsthalle Lissabon



GERARDO MOSQUERA - PHotoEspaña



GIULIETTA SPERANZA



RUTH ADDISON



BÁRBARA COUTINHO



CARLOS URROZ



SUSANA GOMES DA SILVA



CAROLYN CHRISTOV-BAKARGIEV



HELENA BARRANHA



MARTA GILI



MOACIR DOS ANJOS



HELENA DE FREITAS



JOSÉ MAIA



CHRISTINE BUCI-GLUCKSMANN



ALOÑA INTXAURRANDIETA



TIAGO HESPANHA



TINY DOMINGOS



DAVID SANTOS



EDUARDO GARCÍA NIETO



VALERIE KABOV



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO



PAULO REIS



GERARDO MOSQUERA



EUGENE TAN



PAULO CUNHA E SILVA



NICOLAS BOURRIAUD



JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES DIAS



PEDRO GADANHO



GABRIEL ABRANTES



HU FANG



IVO MESQUITA



ANTHONY HUBERMAN



MAGDA DANYSZ



SÉRGIO MAH



ANDREW HOWARD



ALEXANDRE POMAR



CATHERINE MILLET



JOÃO PINHARANDA



LISETTE LAGNADO



NATASA PETRESIN



PABLO LEÓN DE LA BARRA



ESRA SARIGEDIK



FERNANDO ALVIM



ANNETTE MESSAGER



RAQUEL HENRIQUES DA SILVA



JEAN-FRANÇOIS CHOUGNET



MARC-OLIVIER WAHLER



JORGE DIAS



GEORG SCHÖLLHAMMER



JOÃO RIBAS



LUÍS SERPA



JOSÉ AMARAL LOPES



LUÍS SÁRAGGA LEAL



ANTOINE DE GALBERT



JORGE MOLDER



MANUEL J. BORJA-VILLEL



MIGUEL VON HAFE PÉREZ



JOÃO RENDEIRO



MARGARIDA VEIGA




DOCLISBOA€ 12


Com o 10º aniversário, este ano, do já mais do que estabelecido festival de cinema Doclisboa, damos a conhecer a sua nova direção numa entrevista aos quatro membros que a formam: Cíntia Gil, Cinta Pelejà, Susana de Sousa Dias e Ana Jordão. Ficamos a saber o que esperar deste Doclisboa’12, as mudanças concretizadas e os planos para o seu futuro. Bem como as opiniões destas quatro mulheres em relação à situação atual do cinema português, para a qual afirmam que “Um Doclisboa de excelência é o melhor contributo que podemos dar, mantendo sempre no horizonte duas questões fundamentais: as condições presentes com que trabalhamos e a necessidade de pensar o cinema de modo profundo e rigoroso”.


27 de julho de 2012
Por Zara Soares



>>>>>>>>>


P: No seu 10º aniversário, o que podemos esperar deste DocLisboa’ 12? Como têm assistido à evolução do festival e à sua crescente importância? E o que podemos esperar para o seu futuro?

R: A décima edição do Doclisboa pautar-se-à pelos critérios de qualidade e exigência que têm marcado o festival desde o seu início, afirmando-se não só como uma celebração do cinema mas também como um lugar de pensamento vivo, de encontro e partilha de ideias, de visões do mundo. Quanto à programação do festival, além das secções competitivas (longas e curtas, nacional e internacional, e a secção Investigações), do “Heartbeat” e da secção “Riscos” (comissariada por Augusto M. Seabra), abriremos duas novas secções: “Verdes Anos” e “Cinema de Urgência”.

Apresentaremos uma retrospetiva integral da realizadora belga Chantal Akerman, em parceria com a Cinemateca Portuguesa e uma retrospetiva comissariada por Federico Rossin, “United We Stand, Divided We Fall”, que será uma viagem pelo cinema coletivo dos anos 60, 70 e princípios de 80.

O Doclisboa teve uma evolução muito estruturada e consistente, própria de todos os projetos que nascem de critérios de rigor claros e profundos. O seu público tem vindo a crescer – em 2011, mesmo com a crise a fazer-se sentir e tendo reduzido o número de sessões do festival, aumentámos a taxa de ocupação das salas. O Doclisboa é um festival que de facto tem um grande público. A sua importância é crescente no plano internacional, como se pode ver pela repercussão que tem tido na crítica mas também no modo como os filmes que mostrámos têm circulado. E esta é uma das missões fundamentais de um festival como este, fazer circular, em lugares de excelência, os filmes que programa. Isso consegue-se com critérios rigorosos mas também com um intenso trabalho e investimento, trazendo ao Doclisboa críticos, programadores, pessoas interessantes que podem olhar para os filmes e valorizar a sua proposta. O futuro do Doclisboa passa por aqui: é um festival que assume apostas claras, de qualidade e rigor, que defende um cinema independente e o promove, e que desse modo se impõe no panorama internacional.

Temos a profunda convicção de que o público do Doclisboa é exigente, curioso, inquieto e temos muita confiança nos filmes que mostramos, nas pessoas que connosco trabalham, nos nossos parceiros e amigos nacionais e internacionais. É a partir destas premissas que pensamos o futuro.


P: Consagram cada vez mais os novos realizadores e o cinema de urgência, com a criação das secções “Verdes Anos” e “Cinema de Urgência”. É uma intenção clara da parte da direção do festival continuar com estas linhas orientadoras no futuro?

R: A criação destas duas secções respondeu a duas realidades muito claras, que já vinham a fazer-se sentir há algum tempo. Por um lado, o aparecimento de cada vez mais jovens realizadores que fazem filmes durante a sua formação, quer eles sejam ou não produzidos pelas escolas, e que com esses filmes vão construindo um caminho que importa olhar, debater e sobretudo acolher de modo a que tenham algum retorno. É uma secção não competitiva, precisamente porque tem na sua génese objetivos muito específicos: reforçar o interesse em pensar o ensino do cinema e estimular os estudantes a apresentarem o seu trabalho num lugar que não é o da comunidade escolar, mas sim um lugar abrangente, crítico e sobretudo atento àquilo que de novo ou surpreendente eles podem trazer ao cinema.

Por outro lado, vivemos numa época de enormes crises, que se sucedem, interligam e se concretizam de forma muito imediata em imagens, filmes, debates que decorrem quase em tempo real na internet, nas redes sociais. A grande diferença entre o presente e algumas épocas passadas, em que as pessoas também saíam regularmente à rua para se manifestarem ou para agirem politicamente, é que hoje as pessoas têm uma consciência muito clara da insuficiência do trabalho dos media tradicionais para darem conta das suas inquietudes, preocupações. As pessoas, hoje, tomam em mãos a função de documentar, divulgar, informar, denunciar, construindo comunidades de discussão e crítica que se formam de modo rápido e se organizam de modo mais ou menos eficiente. Ao mesmo tempo, o controlo destas mesmas imagens aumenta: vídeos retirados misteriosamente das redes sociais, pessoas interrogadas pela polícia após declarações e divulgação de imagens nas mesmas. Entendemos que um festival de cinema centrado no documentário tem também a função de pensar estas novas produções de imagens, estas novas práticas que estão também na história do próprio cinema documental. Existem neste momento, inclusive, cineastas que se dedicam quase exclusivamente a viver o seu cinema como modo de ação direta, como exercício de cidadania, recusando uma clivagem entre a sua prática e a realidade política e vivencial presente. O Doclisboa pretende criar, assim, um lugar onde estes filmes realizados com modos de produção muitas vezes precários e sobretudo marcados pela urgência, possam ser pensados, debatidos, rececionados, criando um contexto em que o cinema também pode ser visto na sua força de mudança da realidade. Trata-se de um movimento muito consciente: mostrar, pensar, legitimar. Aliás, o ano passado foram já exibidos filmes que se aproximavam deste espectro, filmes sobre a Primavera Árabe no Egito, na Tunísia, sobre as lutas no Irão, por exemplo.

É evidente que estas secções foram criadas com um sentido de futuro: são secções para continuarem a existir enquanto fizer sentido. E parece-nos que fará durante muito tempo. Não confundamos, no entanto, as linhas orientadoras destas secções com as de todo o festival, que é muito maior, mais complexo e plural do que isto.


P: Como têm assistido à situação atual do cinema português e como pretendem que o DocLisboa continue a “resistir e a lutar pela existência de condições autónomas de exibição, discussão, formação de públicos e pensamento crítico”? O que preveem para os próximos anos da nossa divulgação cinematográfica?

R: O cinema português está neste momento numa situação muito ambígua, na qual é difícil prever o futuro de modo claro. O facto de a lei ter sido já aprovada na sua generalidade é fundamental, mas não nos dá muitos elementos concretos. Falta a sua definição, criar contornos, critérios, explicitar de facto as prioridades que este governo concebe, tanto ao nível da produção como da distribuição, formação e dos diversos setores envolvidos. Do nosso ponto de vista, é sobretudo urgente esclarecer alguns pontos básicos, e um deles, primordial, é o de saber se há ou não uma posição clara deste governo quanto à responsabilidade do Estado na garantia de criação de um património cultural nacional, neste caso cinematográfico. Esta responsabilidade estatal implica, em segundo lugar, uma tomada de posição quanto à regulação do papel das empresas privadas do setor – empresas essas que têm também uma responsabilidade muito clara. Por outro lado, entendemos que os profissionais do cinema têm aqui uma oportunidade e um desafio, que é o de lutarem em conjunto por este património e por estruturas consistentes de trabalho e criação.

É aqui que vemos o lugar do Doclisboa: através não só da criação de espaços de reflexão sobre o cinema e sobre os filmes, mas também de uma valorização dos filmes que se fazem de modo independente e dos jovens realizadores que aparecem. Temos desenvolvido um grande esforço e investido muito na divulgação dos filmes portugueses internacionalmente. Não temos uma competição nacional muito extensa, porque acreditamos que cada filme que mostramos deve ser acompanhado e cuidado para além das datas do festival, criando condições para que seja visto e pensado nos melhores contextos possíveis. Um Doclisboa de excelência é o melhor contributo que podemos dar, mantendo sempre no horizonte duas questões fundamentais: as condições presentes com que trabalhamos e a necessidade de pensar o cinema de modo profundo e rigoroso.

Por outro lado, é importante não esquecer que o Doclisboa é organizado por uma Associação Cultural sem fins lucrativos, a Apordoc – Associação pelo Documentário. Que tem sócios, amigos, pessoas que se esforçam por pensar e agir em conjunto. Que faz outras atividades e festivais (como o Panorama – Mostra do Documentário Português, por exemplo, que se constituiu precisamente no sentido de ser uma montra de toda a produção de documentário em cada ano). E é este conjunto de pessoas, de atividades, de encontros que permitem não só um Doclisboa de qualidade mas sobretudo o desenvolvimento aprofundado de pontos de vista e estratégias quanto ao cinema em Portugal e no mundo.


P: Em relação a estas mudanças, como foi o seu processo de criação e de concretização?

R: Foi como qualquer processo de mudança, sobretudo no contexto de um coletivo de trabalho, que tem também uma equipa coesa e implicada: as mudanças fazem-se a partir de reflexão, diálogo, ponderação, coragem e risco. A concretização plasma todo este processo.


P: Há planos para uma ainda maior descentralização? Um DocPorto, por exemplo?

R: O Doclisboa tenta todos os anos aumentar o número de extensões que realiza, dando a possibilidade a vários municípios e comunidades, nacionais e internacionais, de tomarem contacto com alguns dos filmes exibidos. Para além disso, a Apordoc tem inúmeras atividades para lá deste festival, com critérios, linhas programáticas, objetivos diferentes. A descentralização, do nosso ponto de vista, deve ser feita através destas atividades. O Doclisboa é um festival que nasceu em Lisboa, que tem uma identidade ligada a esta cidade. Um DocPorto seria outro festival, como um DocCoimbra, por exemplo. O que faz um festival de cinema é a necessidade sentida pelos habitantes de uma comunidade de criarem condições para verem, pensarem e também divulgarem os filmes que se fazem fora e dentro da própria comunidade. É um início marcado por uma grande curiosidade e uma grande coragem e força de vontade. Temos um exemplo muito claro com o Festival de Curtas de Vila do Conde. Um festival não pode nem deve transformar-se numa espécie de franchising, e o Doclisboa não tem com certeza esse objetivo.


P: Como geriram os cortes orçamentais de cerca de 20%? E qual o papel dos voluntários para a realização do festival?

R: É importante dizer de onde vêm estes cortes. O Doclisboa continua a receber, no contexto de um protocolo plurianual, financiamento do ICA. Tem também o apoio do Media e da Câmara Municipal de Lisboa, além da Culturgest, nossos coprodutores. Os patrocínios privados diminuíram por razões evidentes.

Mas o grande corte vem de um facto que tem de ser dito explicitamente: a Apordoc teve um corte de 100% no apoio anual que recebia do ICA. Por decisão muito consciente e assumida, decidiu-se desenvolver um esforço por continuar com as atividades regulares desta associação – porque existe por parte da sua direção uma noção muito precisa da importância dessas atividades. Mas isto teve e tem um custo, que aceitamos com muito coragem, porque é o custo de não deixar cair o trabalho de tantas pessoas ao longo de tantos anos. E o Doclisboa está, como não poderia deixar de ser, alinhado com o esforço suplementar que tudo isto implica. Não só está o Doclisboa, como está a sua equipa, reduzidíssima e incansável, e toda a comunidade com quem trabalhamos. Neste contexto, os voluntários são fundamentais, tal como são também os estagiários que recebemos e formamos. Todas estas são pessoas que estão sobretudo a lutar pelo cinema português, que sabem que podem contribuir e que veem no Doclisboa e na Apordoc um lugar no qual os seus contributos são bem acolhidos e reconhecidos.

Fazer um festival de cinema como o Doclisboa com um corte desta grandeza implica duas coisas fundamentais: em primeiro lugar, desenvolver esforços para envolver os privados através de parcerias justas e proveitosas para todos; em segundo lugar, olhar para a nossa equipa (nuclear e alargada) como um bem fundamental que deve ser valorizado, cuidado e reconhecido. Na Apordoc e no Doclisboa todos trabalhamos muito, pensamos e dialogamos muito, mas com muita energia e sem nenhum tipo de utopia. Existe uma certa felicidade associada ao facto de sabermos que se trabalharmos bem podemos em certa medida transformar a realidade.


P: Qual o legado deixado por Sérgio Tréfaut? E por Anna Glogowski?

R: É muito difícil definir numa entrevista o legado de alguém que dirigiu um festival tão grande com a seriedade e a dedicação com que Sérgio Tréfaut e depois Anna Glogowski o dirigiram. Para nós é um orgulho suceder-lhes, dar continuidade ao seu trabalho, repensar o festival sempre a partir de uma base rigorosa e muito séria como eles o pensaram. Mas o Doclisboa tem uma história ainda mais antiga, que é preciso não esquecer. Outras pessoas o dirigiram, e é toda esta história que o marca. Evidentemente que temos uma memória, mesmo enquanto espectadores, muito clara do legado de Sérgio Tréfaut, que dirigiu o festival durante oito anos e o abriu ao panorama internacional de modo tão consistente, que o alargou, que tomou riscos enormes sempre com um imenso sentido de futuro e uma grande coragem. E não podemos esquecer que foi sob a direção de Anna Glogowski que o atual comité de programação foi formado, que duas de nós entraram como programadoras no festival. Tudo isto é fundamental para o Doclisboa e, enquanto nova direção, queremos simultaneamente inserir algumas mudanças e fazer jus ao excelente trabalho que foi feito antes de nós. Também por isso contamos nesta edição com Anna Glogowski como Consultora de Programação e como membro do comité nacional.


P: Como é ter uma nova direção com quatro pessoas, e todas mulheres? Como se organizam e relacionam profissionalmente?

R: O facto de a direção ser de quatro pessoas decorre precisamente do modo como olhamos o papel da equipa – e, em primeiro lugar, como a direção da Apordoc também a encara. Esta é uma direção que sempre se desenhou enquanto coletivo de trabalho. A nossa organização é própria ao nosso modo de trabalho – intransmissível, nesse sentido. A nossa relação também – é evidente que assenta numa grande união e num enorme diálogo e respeito pela diferença. Quanto a sermos mulheres, sugerimos que comecem também a perguntar aos festivais de direção exclusivamente masculina como é ter uma direção só de homens.


P: Estando já todas envolvidas no DocLisboa anteriormente, o que significa para vocês esta nova responsabilidade?

R: Significa olhar para o festival como um todo e encarar o desafio de estar à altura da sua história, da sua qualidade, e das exigências futuras que se desenham. Significa sobretudo manter e desenvolver critérios sólidos, encontrar a flexibilidade e a criatividade necessária para manter um Doclisboa vivo e atento ao mundo, e saber valorizar os parceiros e as pessoas que confiaram e confiam em nós, que nos acompanham e apoiam tanto nacional como internacionalmente. Temos muita confiança na qualidade do nosso trabalho e na seriedade com que aceitámos este desafio.


P: Que preferências pessoais, dentro do género documental, podem referir (um ou dois exemplos)?

R: Enquanto diretoras de um festival de cinema documental o nosso trabalho consiste em relacionarmo-nos de modo aberto, atento, disponível e interessado com os novos filmes que a cada ano nos propõem, independentemente de termos, no nosso património pessoal, filmes que são autênticos marcos para cada uma de nós. Portanto, não poderíamos de maneira nenhuma particularizar seja que filme for. Cada filme que é mostrado no Doclisboa é um filme que defendemos, que pensámos, de que gostamos por diversas razões.



>>>>>>>>>

DOCLISBOA’12
www.doclisboa.org