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ENTREVISTA


Xana. Fotografia: Fábio Fábregas


Xana durante a montagem de LABIRINTO X001. Fotografia: Jorge Gonçalves


Vista da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia


Pormenor da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia


Pormenor da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia


Pormenor da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia


Pormenor da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia


Pormenor da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia


Pormenor da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia


Pormenor da instalação LABIRINTO X001. Fotografia: Liz Vahia

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XANA


  

Quem visita neste momento o espaço dos Artistas Unidos, em Lisboa, depara-se com um percurso por entre caixas de plástico, pontuado por palavras e objectos. É o “Labirinto X001” de Xana. A propósito desta instalação, a Artecapital conversou com o artista sobre este e outros projectos recentes, e também sobre o seu percurso nas artes desde os anos 1980.


Por Victor Pinto da Fonseca e Liz Vahia


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LV: Tens neste momento uma instalação intitulada “Labirinto X001” no espaço dos Artistas Unidos, em Lisboa. Usaste novamente caixas contentoras de plástico para criar um circuito labiríntico, que dizes ser o primeiro de uma série a construir. Tendo em conta a tua produção anterior de construções básicas (casa, arco, assembleia...), parece-te natural que surja este tipo de arquitectura no teu trajecto? É também uma construção mais assumidamente simbólica que as anteriores.

X: Apesar de ter declarado que este labirinto é o primeiro de uma série que me proponho realizar… e se pensar em outras exposições anteriores, por exemplo a “Super Plástica” na Galeria EMI-Valentim de Carvalho em 1993, já aí realizei um percurso complexo que sugeria um labirinto, curiosamente também com centenas de objectos industriais, que incluía muros construídos com caixas de plástico. 
Só que, agora, essa tipologia de construção tornou-se consciente e simbolicamente enriquecedora para o prosseguimento do meu percurso de intervenção… 
Mas tens razão, nos últimos anos, talvez a partir de 2009 com os “arcos do triunfo” realizados em Lisboa e Barcelona, iniciei um processo construtivo que explora formas primordiais da arquitectura com uma carga simbólica inata que marcam o local de intervenção, gerando em cada momento e perante cada espectador formas e significados em permanente mutação.


LV: Como é que se deu a génese deste projecto?

X: O LABIRINTO X001 surge, como disse anteriormente, de um modo progressivo e “natural”. Digamos que, normalmente, a minha metodologia é do tipo sequencial, em que cada nova intervenção é influenciada pela anterior , pelas minhas preocupações sociais e “poéticas” e pelo novo contexto que me é proposto. Neste caso, os “Artistas Unidos” convidaram-me e deram-me inteira liberdade para intervir numa sala negra e com alguma dimensão. E, imediatamente, surgiu a convicção de seria o lugar indicado para tentar um labirinto. Objectivo esse, que foi aparecendo depois da realização da “Casa no Céu” em Vila Nova da Barquinha, construção que também já era labiríntica nos percursos internos, já continha várias entradas e escadas que se dirigiam para um espaço central , mais elevado, mas sem saída terrena.


LV: Este teu labirinto está povoado de palavras, uma característica muito presente no teu trabalho. As palavras aqui aparecem em vários formatos, tanto em placas, escritas ao contrário, em livros, em néones, etc. Seguindo os caminhos do labirinto, vamo-las encontrando pelos cantos, culminando o percurso em “palavras de ordem” que ouvimos numa gravação em loop.

X: Pois,... as palavras aparecem no meu trabalho, em contradição com o desejo, e até com afirmações públicas, de procurar uma “pureza” assente no discurso visual, evitando símbolos verbais. Mas já numa exposição de desenhos, curiosamente intitulada “Raspar as palavras” (1987), todos os 100 trabalhos tinham frases. E as palavras foram sempre aparecendo ao longo dos anos, estabelecendo, numa leitura da totalidade de cada obra, uma relação orgânica com os outros ícones. Estes vocábulos não se agrupam numa informação objectiva, estão inseridos num diagrama subjetivo, talvez poético. Talvez por isso ouvimos, neste labirinto, frases parcialmente distorcidas digitalmente, dos gritos urbanos do “Maio de 68” ou da “Revolução de Abril” ou do quotidiano… como emanações dos muros.


LV: E na saída do labirinto deparamo-nos também com a palavra “Felicidade/Happiness”, cortada ao meio e camuflada, o que dá um jogo engraçado porque aparece de repente a palavra “cidade”. A saída do labirinto devolve-nos ao urbano, à vida em sociedade? É este um labirinto-ritual de passagem, onde essas palavras nos guiam? Amor, Liberdade, Sabedoria...

X: Essa “FELICIDADE” já aparecia como elemento central da intervenção que realizei nas montras do Palácio Foz, para a “Experimenta 2003”. Aliás as placas que referes, no LABIRINTO X001, são as mesmas que usei, então. Essa é outra característica do meu trabalho que por vezes não é óbvia: é a necessidade de reutilização/reorganização de objectos ou obras, noutros contextos ou com outras configurações, como se esses elementos fossem um alfabeto flexível, mas sem pretender constituir uma linguagem codificada com significados precisos.
Claro que o contexto social, em que vivo, se reflete neste labirinto, mas também se estabelece uma dinâmica emocional, mais intimista: como no Labirinto de Creta o herói vai matar o “terror” do Minotauro”, mas será salvo pelo amor , pelo fio de Ariadne. 
São sempre os valores que prosseguimos que guiam o nosso percurso de vida, mesmo que por vezes misturados com pulsões inconscientes ou “maléficas” (risos)... 
Sim, … é sob o lema do Amor à humanidade, da Liberdade livre dos poetas e da Sabedoria em permanente transformação que tento, com os outros, construir o mundo, prosseguir o labirinto que é a vida e a sociedade.


VPF: "Milarepa", encerrado na sua caverna dos Himalaias - sem luz, sem sons, sem nada para cheirar -, conseguiu atingir a iluminação para visitar os antípodas da mente e levar a cabo viagens visionárias: pesquisas levadas a cabo por psicólogos permitiram perceber que uma vida de eremita que infligia a si próprio e ensinamentos recebidos (considerados esotéricos), podem ser a porta para o paraíso! 
- Em 2001, realizaste uma instalação temporária, "O Caminho do Paraíso" na Fundação EDP: foi uma experiência visionária, uma transcendência espiritual ou uma reflexão sobre o paraíso?

X: A minha crença no “caminho do paraíso” passa mais por um processo colectivo, seja na experiência a dois, no amor intimista, seja em comunidade, criando relações menos mercantis e mais humanistas. Não acredito na tendência para manter ou ampliar os estados nações , numa lógica “guerreira”, com uma hierarquia centralizadora, com um “iluminado” no seu topo. Parece-me que esse tem sido o paradigma de todos os projectos políticos, sejam “nacionalistas”, “socialistas” ou “liberais”, que tem afastado os cidadãos da política e desumanizado as nações. Acredito que ainda é possível construir com a Humanidade e em harmonia com o Universo, mais do que o “paraíso”, um caminho para uma sociedade mais equilibrada, mais dialogante… … até já ouço as trompetas celestiais na entrada do “amanhã radioso”... (risos)


VPF: Ainda a propósito do Milarepa, recordo-me de uma pequena pintura do Álvaro Lapa, "Milarepa"...
- Em outubro de 1984, mudaste-te para Lagos: nessa época ainda encontraste o Lapa a viver em Lagos?! Mas, o Bravo, certamente que sim... Tens artistas que te influenciaram no teu percurso?

X: Desconheço o Milarepa e a sua filosofia de vida e apesar de gostar muita da obra do Álvaro Lapa nunca tinha reparado nessa ligação, talvez porque raramente leio as tabelas que acompanham as obras de arte, por vezes se a obra me interessa reparo mais na data, para contextualizar na época e mais tarde procuro informação sobre essas obras. 
Mas é curiosa essa referência porque parece que o Lapa teve alguma experiência próxima do eremita, nomeadamente, em Lagos nos anos setenta, quando viveu sozinho, numa pequena casa perto da praia de Porto Mós… só o vim a conhecer pessoalmente muito mais tarde. A obra do Lapa interessou-me especialmente quando era estudante nas Belas Artes (1978/1984), até pela forma livre como ele usava as técnicas, a temática estranha, as letras/texto que faziam parte da composição… depois fui-me inclinando mais para a “certeza” formal dos desenhos do Joaquim Bravo. 
Mas as minhas grandes influências, talvez nem sejam as desses dois autores, até porque na fase inicial, de estudante de Belas-Artes, admirava os desenhos de outro pintor, o António Sena, ou a atitude do Ângelo de Sousa, com o qual fiz um workshop na escola AR.CO e que foi uma excelente aproximação, e influência, ao seu original “minimalismo irónico”... onde destaco a sua pintura manifesto: “Catálogo de algumas formas ao alcance de toda as mãos” (1970-71), obra não muito conhecida e que tenho como referência, sobretudo nos dias mais cinzentos.
Depois existe um grupo vasto e diversificado de artistas portugueses mais novos que por serem amigos nem sei o real impacto que têm no meu trabalho… não digo nomes para não me esquecer de ninguém, nem suscitar ciúmes (risos).
Claro que, na arte internacional, tenho uma admiração inicial, e especial, por toda a obra do Matisse, interessa-me a pesquisa dos Minimalistas, da pintura da Bridget Riley, 
de alguns escultores ingleses (Tony Cragg, Hanish Kapoor...), do Allan Kaprow, do Thomas Hirschhorn e acho sempre uma especial graça ao Andy Warhol.
E interessam-me, actualmente, os trabalhos de artistas que trabalham na área da instalação (como o Illia Kabakov, o Matt Mullican e outros mais jovens que não me recordo dos nomes...) 
Mas continuo a ser muito influenciado pela “cultura popular”. Por vezes visitar um super-mercado pode ser mais estimulante que visitar um museu. Interessa-me mais intervir numa rua e alterar, assim, o quotidiano de milhares de pessoas, que é de certeza modo mais eficaz para a mudança do mundo do que expor numa galeria privada.


VPF: Começaste a trabalhar nos anos 80: quando se olha para a tua obra, desde os objectos (esculturas), à pintura, até às instalações de arte pública, descobre-se que és um inventor de formas... Mas na tua obra a forma não embeleza o conteúdo, cria-o. A tua obra não se serviu das convenções prevalecentes e temas relevantes da época: optaste pelo compromisso radical da arte pela arte; nunca foste um artista militante, nem as tuas obras declarações políticas, ou repetiste falsamente o que se fazia no contexto internacional... 
- Qual era concretamente a ideologia que inspirava o teu trabalho na década de 80? Do que te servias para a tua produção de atelier apresentar uma intrigante atmosfera orgânica?

X: Agrada-me essa ideia de “inventor de formas” até porque continuo a acreditar na procura do “novo”, e apesar de dizerem que esse é um paradigma modernista, a realidade, as formas, os conceitos continuam sempre em mutação, num processo incontrolável que o Adorno classificou de “violência do novo”. Essa é a dialética radical que é essência da experiência artística como processo não canónico de acção no mundo. 
Quanto aos outros artistas, estou sempre curioso sobre o que andam a fazer, mas nunca para seguir tendências, porque gosto de construir pontes, relacionar, contrariar, desenvolver ideias em conjunto. 
Quanto aos anos 80: apenas era mais ingénuo, menos informado, menos experiente, mas talvez fosse mais selvagem... até acreditava na “espontaneidade forçada” (riso)… sobretudo já estava instintivamente deslumbrado com o movimento ondulatório da vida. 
Hoje, até penso nesse movimento como resultado do choque dialético entre instinto e racional, entre desconhecido e científico e classifico-o de “movimento da serpente” e ultimamente, questiono: será que isso tem alguma relação com as agora confirmadas “ondas gravitacionais” ?


VPF: Literária ou científica, liberal ou especializada, toda a nossa educação é predominantemente verbal, marginalizando os sentidos, e permitindo uma desaceleração da percepção; portanto, aprender com o olhar ou com qualquer outro dos sentidos e aumentar a acuidade das percepções humanas é-nos estranho enquanto tal... 
És um artista que se exprime de um modo puramente visual sem recorrer normalmente a textos e conceitos explicativos...
- A realidade da arte em estado puro é um infinito que supera toda a compreensão, mas que ao mesmo tempo se presta a uma apreensão de certo modo ilimitada?

X: Tudo se mistura porque temos consciência da complexidade do conhecimento e do mundo… apesar de nos quererem formatar/normalizar, os sentidos ainda estão alerta.
A ilusão da pureza da arte advém da sua génese se situar no terreno do estranho, do desconhecido … mas podemos dizer isso e seu contrário ou como escrevi a tinta azul num balde de plástico vermelho: toda a teoria é uma mentira !


VPF: Considero-te um dos mais criativos e originais artistas portugueses nas décadas de 80 e 90; realizaste uma obra extraordinariamente inovadora, mesmo considerando o contexto universal. No entanto, não tens no teu curriculum exposições e publicações antológicas das tuas obras em museus e instituições (à excepção da Culturgest em 2005, comissariada por Alexandre Pomar e Lúcia Marques):
- O que sente um artista “middle-aged” quando não se vê justamente reconhecido pelo universo dos museus, das instituições e dos críticos?

X: Agradeço o elogio. Em relação às instituições artísticas e outras só me preocupa quando não pagam o trabalho, até por parte de instituições/empresas mais abonadas, porque é uma questão de sobrevivência. Quanto ao reconhecimento, não estou nada preocupado, porque como tu dizes, estou ainda no meio,... horrível é o fim. E como, a seguir, vou construir o “LABIRINTO X002” que prossegue para o “caminho do paraíso”, depois passarei outra vez pela casa da “FELICIDADE”, então recuperarei forças.


VPF: É um problema não usares a autopromoção para o culto da própria personalidade, ou a nossa crítica é monolítica? Prefere enganar-se unida porque, pensando em conjunto - elogiando repetidamente os mesmos artistas -, sustenta o poder do status quo dominante...

X: Já pensei em criar um jornal intitulado “Propaganda e Má-língua” mas depois, como dizem na região longínqua e quase independente do Algarve, aborrece-me… 
Quanto à questão do poder, direi: a revolução é permanente e a arte é a sua semente!