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O ESTADO DA ARTE


© Henrik Kam, Courtesy SFMOMA


© Henrik Kam, courtesy SFMOMA


SFMoMA © Sergio Parreira


Anselm Kiefer. German Art after 1960 © Sergio Parreira


Dan Flavin. Pop, Minimal and Figurative Art © Sergio Parreira


Louise Bourgeois. Spiders © Sergio Parreira


Kerry Tribe. New Work: Kerry Tribe © Sergio Parreira


Henri Matisse. Open Ended © Sergio Parreira


Bruce Nauman. Open Ended © Sergio Parreira


Walker Evans Retrospective © Sergio Parreira


Get With The Action. Political Posters © Sergio Parreira

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Come with an open mind. Leave with so much more.

 

Há cerca de um mês atrás estava a ter uma discussão curiosa com um "amigo" (Critico de arte/ artigos de opinião) aqui em Nova Iorque, que era basicamente sobre o fato de eu ver, grosseiramente, 5 a 10 exposições de arte semanalmente. A certo ponto a indignação e curiosidade dele centrava-se na minha capacidade, ou ausência desta, em não perder a acuidade no usufruto dos objetos artísticos; ou seja, se ao ver tantas obras de arte contemporânea de uma forma tão intensa se não acabava por perder a sensibilidade, interesse, e capacidade de me surpreender ou exercer um julgamento desinteressado, regulado, crítico e por fim isento. A minha primeira reação foi a de considerar o comentário um pouco ofensivo. Digamos que se pretendemos aperfeiçoar-nos na análise de uma determinada "disciplina" ou categoria de criação humana, devemos exaustivamente analisar a produção associada a esse ofício… (ou não). Após a surpresa inicial, a observação e preocupação dele que me pareceu pouco legítima, soou eventualmente sensata, embora não me tenha convencido de todo. Escusado será dizer que continuo, sempre que posso, a tirar proveito e benefício do fato de me encontrar a viver em Nova Iorque, para visitar Museus e Galerias numa periodicidade semanal que eventualmente se terá "agravado" (nos seus standards) desde que nos encontramos.

No início deste ano, dia 10 de janeiro, fui a São Francisco para a Untitled (Feira de Arte), e para explorar localmente a cena artística da costa "West". Após decidir que ia, comecei a procurar todas as coisas que tinha necessariamente que visitar durante aqueles curtos quatro dias. Um dos locais obrigatórios era o MoMA de São Francisco SFMoMA. Coloquei-o como prioritário na minha lista mesmo antes da preview da feira no dia 11 de Janeiro.

É exclusivamente neste museu que me vou focar, pelas múltiplas e inúmeras razões que vou tentar enunciar. Eu diria, para começar, que se justifica visitar São Francisco (para qualquer profissional ou meramente apreciador de arte contemporânea) para ir ao SFMoMA, e reservar no mínimo 48 horas apenas para isso. Pessoalmente, tinha reservado 3 horas desse meu dia, que se estenderam numa primeira visita para 5, e numa segunda instância noturna em mais 3. O que aconteceu quando iniciei a minha visita no interior do SFMoMA é exatamente a razão pela qual um indivíduo apaixonado por arte e criação artística contemporânea visita incessantemente espaços onde irá encontrar essa produção. É a procura da excelência, do espanto, do sublime da criação artística e do génio dos criadores. Não, não é algo que se encontre regularmente; mas quando se encontra justifica e explica o porquê de tal paixão e por vezes obsessão.

O SFMoMA encontrou-se encerrado por um período de três anos para expansão e renovação, reabrindo novamente apenas há cerca de ano e meio, 14 de maio de 2016. O novo edifício, que foi desenhado pela firma de arquitetura Snohetta, triplicou o espaço expositivo original nesta localização. De forma a dar uma ideia da amplitude das galerias e do edifício, este reabriu com a inauguração de 19 exposições simultâneas, com obras de coleções privadas, institutos e curadorias a partir da própria coleção, assim como novos projetos de artistas contemporâneos.

Quando iniciei a minha visita, não só não tinha explorado devidamente o site do Museu e as exposições patentes na altura, como desconhecia a maioria dos fatos e história do mesmo. Deparei-me in loco com 8 exposições temporárias de magnifica qualidade, 5 exposições permanentes (que o museu intitula de "Ongoing"), espaços com arte pública e uma performance ao vivo.

Comecei a minha jornada, ainda sem grandes expetativas, com a exposição do Walker Evans no Piso 3, fotógrafo americano, numa extraordinária retrospetiva que apenas estará patente nos Estados Unidos neste Museu, e creio que seguidamente no Centre Pompidou em Paris, visto tratar-se de uma coorganização de ambos. Ainda no mesmo piso, encontra-se a instalação de uma mostra de cartazes políticos que de alguma maneira fizeram história, desde os anos 60 até aos dias de hoje, com uma presença predominantemente nacional (EUA), mas com outros icónicos representantes da esfera política internacional: Get with the Action. Ainda no mesmo piso, fui surpreendido com uma performance DESIRE LINES: RETROFIT Durational Performance de Rashaun Mitchell e Silas Riener, e ainda uma genial vídeo-instalação da artista e cineasta Kerry Tribe New Work: Kerry Tribe, uma coprodução da artista que vive em Los Angeles e do SFMoMA. Esta extraordinária obra/filme oferece uma visão extremamente peculiar, incisiva, quase que microscópica dos pacientes clínicos standard (ficcionais / atores), num espaço cénico hospitalar, enquanto desafiam com o seu descrédito a inexperiência de estudantes de medicina. É uma instalação vídeo de dois canais em que se explora, através de meios extremamente sofisticados de encenação, questões de empatia, performance e comunicação que acontecem diariamente nas universidades/hospitais da América que são caraterizadas por oferecerem um serviço de saúde mais acessível.

Nesta altura, já me tinha apercebido da minha ingenuidade ao disponibilizar apenas algumas horas para este Museu que num único piso me tinha roubado 2/3 desse tempo. Num ato estratégico apanhei o elevador para o último piso na esperança de conseguir "eliminar" com mais eficácia galerias de exposição num sentido descendente.

Enganei-me rotundamente.

Inesperadamente, sou uma vez mais violentamente castigado pela não prévia consulta informativa sobre o Museu; entro nas galerias do 6º piso numa exposição "Ongoing" (Permanente) intitulada German Art after 1960 onde o conceito curatorial dedica salas separadas a exposições individuais de artistas como Georg Baselitz, Katharina Fritsch, Anselm Kiefer, Imi Knoebel, Sigmar Polke e Gerhard Richter, com obras emblemáticas e incomparáveis que espelham a carreira única de cada um deles. Ainda neste piso, obras surpreendentes de Rebecca Horn e Jannis Kounellis pertencentes à coleção de Doris e Donald Fisher (The Fisher Collection). O que é extremamente curioso no SFMoMA é que aparentemente há obras que subitamente são expostas (seguramente não será algo que não estaria previamente previsto), como é o caso destas salas "Newly On View" que acabo de mencionar, com obras desta coleção privada. O SFMoMA tem inúmeros parceiros e patronos, cujas coleções de arte mantêm o Museu com uma qualidade irrepreensível no que se pode demarcar de mais singular da história contemporânea.

Claro que nesta altura já tinha esgotado todas as horas predestinadas inicialmente a este Museu. Tinha percorrido dois pisos da totalidade de 6 sem contar com os pisos térreos ou os espaços de exposição exteriores…

Não me deixei amedrontar por esta constrangedora e limitante realidade do tempo e desci em passo acelerado ao Piso 5, Pop, Minimal and Figurative Art, numa imaculável exposição de obras que distam aos anos 60 e que diria que vai além do Pop, Minimal e Figurativo, com obras de Chuck Close, Philip Guston, Donald Judd, Sol LeWitt, Roy Lichtenstein e Andy Warhol. Aqui uma vez mais o Museu combina uma exposição que narra categoricamente uma história intemporal da arte e de artistas, com obras da coleção dos Fisher e do próprio Museu.

No final da narrativa deste piso, entramos numa sala imensa onde é apresentada a primeira obra do artista Walter De Maria que entrou na coleção do museu, Surface Waves (exposição temporária).

Ao dirigir-me novamente para as escadas, apercebo-me de mais uma exposição temporária, Louise Bourgeois Spiders. Entro num espaço arquitetonicamente instável, em termos formais, habitado por gigantescas esculturas de aranhas da artista. Esta sala, rasgada por enormes janelas que se abrem sobre o Financial District de São Francisco, coloca estas esculturas numa moldura de aranha céus exteriores que nos fazem recordar o fantástico, e inevitavelmente, o lendário King Kong dos anos 30.

O Piso 4 do Museu tem mais uma "Ongoing" exposição com o modesto título Approaching American Abstraction, que reúne obras da coleção do Museu e de Doris e Donald Fisher, e pontualmente outros empréstimos. Obras emblemáticas de Lee Krasner, Ellsworth Kelly, Martin Puryear, Brice Marden, Christopher Wilmarth, Cy Twombly, Morris Louis, Joan Mitchell, entre muitas outras.

Finalmente nesta altura tive que fazer uma pausa. Este museu às quintas-feiras encerra às 21 horas, o que foi uma agradável surpresa, permitindo-me sair e regressar novamente ao final da tarde pelas 18 horas.

Ao final do dia, entrei no Museu por uma outra rua diretamente para a Roberts Family Gallery onde se encontram duas esculturas massivas de Richard Serra, Sequence, de 2006. De seguida fui explorar no Piso 3, o Bill Wilson Terrace, uma área exterior onde se podem ver algumas obras, em que a mais curiosa atualmente em exposição é seguramente o boneco de neve (Snowman) de Peter Fishli e David Weiss que desafia as condições climatéricas dos espaços que tem visitado. Trata-se literalmente de um boneco de neve conservado numa caixa frigorífica feita de vidro que o preserva da sua condição artística, que eu arriscaria considerar ultra-efémera.

Regressei uma vez mais ao Piso 4, onde se encontra a extraordinária exposição do Robert Raushenberg (que já tinha tido a oportunidade de ver em Nova Iorque 3 meses antes), uma retrospetiva que reúne mais de 150 obras entre pinturas, esculturas, mixed media de ambas que lhe são tão características, fotografia e também gravuras. Raushenberg quebrou todas as barreiras e reinventou a produção artística por completo com a exploração de técnicas desde os anos 40 até falecer em 2008.

Por esta altura eu acreditava que já estava tudo mais ou menos visto e quando me dirigi às informações, apenas para me assegurar que a exposição do Raushenberg era a que eu já tinha visto em Nova Iorque, a pessoa que me esclareceu e confirmou essa minha dúvida rapidamente me incentivou a dirigir-me, nesse mesmo Piso (2), para a exposição Open Ended, com pinturas e esculturas desde 1900 até aos dias de hoje. Nesta altura faltava cerca de 30 minutos para o museu encerrar e como não poderia deixar de ser, o exímio repete-se: Henri Matisse, Marcel Duchamp (Fountain), Frida Khalo, Jackson Pollock, Mark Rothko, Elmer Bischoff, David Park, Bruce Nauman, entre muitos outros.

Ficaram por ver creio que apenas duas exposições, uma de Alexander Calder Scalling Up, protótipos/esculturas para projetos de arte pública de grande escala, e Designed California, que explora a evolução e transformação do design nesta região desde o início da revolução digital.

Como já tive oportunidade de referir, o SFMoMA merece por si só uma visita a São Francisco, o que realisticamente não é algo que possamos planear para a semana seguinte ou nem sequer daqui a um ano se não nos encontrarmos estrategicamente no continente Americano. Seguramente considerando esta realidade, o SFMoMA oferece um dos melhores sites que alguma vez explorei: www.sfmoma.org. Este é inquestionavelmente uma formação gratuita em arte contemporânea. Não há rigorosamente nada que não seja abordado, crucial e fundamental para essa aprendizagem e entendimento. Com base nas exposições e obras patentes, é disponibilizada uma apresentação para cada uma das exposições acompanhada de informação relativa aos respetivos eventos e um acesso para conteúdos adicionais. Na secção de conteúdos adicionais em cada uma das exposições há desde documentos e artigos a vídeos e entrevistas com dezenas, senão centenas, de testemunhos de artistas. Podem explorar-se todas as obras da coleção, áreas específicas da coleção por técnicas artísticas, assim como as coleções "especiais" de patronos e colecionadores privados, como os Fisher, que disponibilizam o seu espólio, vital para a construção deste genial e ambicioso projeto dedicado à cultura e produção contemporânea.

Posto isto, e em formato de esclarecimento ao meu "amigo" que questionou a minha capacidade para exercer um julgamento isento, ao "consumir" exaustivamente arte contemporânea, a resposta é necessariamente simples como é simultaneamente complexa; a genialidade da criação artística contemporânea não é denominador comum a todos os agentes/criadores que a ela se decidem aventurar, no entanto é singular e exclusiva de muitos outros. Eu diria que é a minha certeza que apesar de todos eles serem passíveis de ser expostos e exibidos, a surpresa catártica da genialidade acontece por si só, espontaneamente, perante a índole e o talento de sublimes artistas. Não haverá jamais potencial exaustão visual que não seja quebrada por tamanha distinção. É exatamente isso que me move. Foi isso que aconteceu neste museu com a singularidade das obras de arte que apresenta. É esta expetativa e surpresa que anseio a cada investida.

 


Sérgio Parreira
@artloverdiscourse

 

 

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