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SNAPSHOT. NO ATELIER DE...




Francisco Rivas, 2022. © José Artur Macedo


Francisco Rivas, En Playa Uricao me dieron un dato, 2023. © Patrick Simard


Francisco Rivas, Pasame la madera, 2023. Tintas acrílicas e óleo, 150 x 150 cm. © Patrick Simard


Francisco Rivas, Pescador de Lebranche, 2023. Tintas acrílicas e stick óleo, 166 x 196 cm. © Patrick Simard


Francisco Rivas, Saliendo de Choroní y todo en dólares, 2023. © Patrick Simard


Montagem da exposição Brut Life, 2023, Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sôr. Cortesia do artista e curador.


Vista da exposição Brut Life, 2023, Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sôr. © Patrick Simard


Francisco Rivas, AUTOBUS de besitos y diablos (detalhe), 2023. Tintas acrílicas, stick óleo, pastel e spray, 6 x 2 m. © Liliana Duarte

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Nástio Mosquito



José Pedro Cortes




FRANCISCO RIVAS

PEDRO VAZ


 

  

No último dia 4 de novembro inaugurou no Centro de Artes de Ponte de Sôr a nova exposição a solo de Francisco Rivas: Brut Life, na qual está reunida uma nova série do artista venezuelano residente em Portugal na qual é trabalhada a ideia do bruto no quotidiano. Este tema foi traduzido num conjunto de peças que repensam a forma como a estética do bruto consegue afrontar as dualidades do mundo contemporâneo, na medida em que assume o incompleto enquanto humano face a uma era onde o digital cada vez mais toma conta da perceção das texturas do campo visual. Numa luta entre as memórias e o universo pictórico do artista, a exposição pretende traduzir a ideia de que a incompletude faz naturalmente parte da perceção humana.

Nascido em Caracas, na Venezuela, em 1982, Francisco Rivas reside em Portugal há mais de 10 anos. Desde cedo demonstrou interesse pelas artes plásticas e ainda muito jovem começou a pintar. Tendo frequentado a Licenciatura em Artes da Universidade Central da Venezuela, estudou também Design e Animação Gráfica. Em 2020, expôs pela primeira vez no MAAT Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia – Lisboa, no âmbito da iniciativa Interstício, e em 2021, destacou-se pela participação na Venezuela Art Fair, em Nova Iorque. Atualmente é artista residente na Art Room, em Lisboa, onde tem também o seu atelier.

Antes da inauguração de Brut Life, foi feita uma entrevista com o artista, na qual eu, enquanto curador desta última exposição, propus um conjunto de perguntas alusivas ao seu universo estético e como este é transportado para a sua obra. Através de uma obra de videoarte integrada na exposição, o artista misturou esta entrevista com pequenos exercícios de mutação visual a partir de modelos das obras originais exibidas em Brut Life.


Por Pedro Vaz

  

 

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PV: Como foi concebida a osmose entre o teu trabalho e o espaço do Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sôr?

FR: O ponto de partida para este projeto foi a expansão da minha exposição anterior que aconteceu noutro Centro Cultural (Centro Cultural John dos Passos – Madeira) e este projeto chega a ser também a expansão da minha estética brutalista. Fui convidado pelo Centro de Artes de Ponte de Sôr a fazer outro projeto artístico aqui na área, e pode-se dizer que aqui originou o que é a Brut Life. Ao início, Brut Life tinha sido concebido como um projeto para fazer o bruto do quotidiano: são vários estudos, notas de investigação que tenho feito desde o início deste ano com o apoio de programadores, curadores e equipa de produção do Centro Cultural. O Centro Cultural viu em mim uma maneira de expressar e produzir arte num formato bastante grande, que também me pulsou o desafio de converter uma sala que estava anteriormente dedicada a música em uma sala para exposições, uma sala que tinha uma certa opacidade; e o Centro Cultural viu em mim o potencial de fazer umas paredes mais coloridas, com uma expressão um pouco mais orgânica e natural. E daí surge o desafio e um convite do Centro Cultural a mim como artista. Estes são novos formatos que tenho trabalhado com tamanho grande, esta é a primeira vez que estou a fazer formatos que me dão uma expansão de 6m por 2m de altura, e isto deverá ser muito importante para a minha carreira artística.


PV: Com que motivação desenhas o equilíbrio entre as tuas memórias e o teu universo pictórico?

FR: A minha motivação principal, eu diria que é a luta entre estes dois universos, destes dois mundos que são as minhas origens e de onde me encontro agora mesmo, que de certa forma tenciona ser parte do meu chão onde atualmente estou: essa é a maior motivação que tenho todos os dias, de uma luta que converto, que expresso de uma forma universal, uma linguagem universal através de músicas, de canções, de arquitetura, de urbanismo, de uma quantidade de memórias que busco e consigo expressá-las numa linguagem que diria universal, nesta exposição.

 

Francisco Rivas, Casa con piscina en valle arriba, 2023. Tintas acrílicas e óleo, 150 x 150 cm. © José Artur Macedo

 


PV: De que forma achas que os elementos naif das tuas pinturas colocam o olhar adulto em perspetiva com o seu próprio passado?

FR: O Naif é uma resiliência de um olhar adulto que pode ser o de uma criança em frente de uma obra minha: entre os dois encontra-se o meu ponto de vista. Um cartoon ou uma experiência de quando éramos pequenos de ver comics, de comprar gelado, que são momentos de ecstasy que desfrutamos, podem ser sentidos diante da minha obra, e muitas pessoas, sobretudo adultos, quando a vêem, conseguem reinventar uma nova história através da minha obra, então creio que a resiliência é um ponto muito importante.


PV: Com que ferramentas calculas a distância entre a tua estética e de quem a vê?

FR: A minha ferramenta principal é a cor e a desproporção dos objetos. Interessa-me que as pessoas, a partir das minhas obras, revivam uma nova história dentro das suas vidas. Muitas acabam por ser novos filtros da obra que está à frente delas, começando a reviver histórias que, para mim, compõe cada vez mais o fim da obra.

 

Francisco Rivas, Amigos en el juego no!, 2023. Tintas acrílicas, óleo e spray, 150 x 150 cm. © José Artur Macedo

 


PV: De que forma é que a estética brutalista pode responder às perguntas do mundo?

FR: Eu diria que assumir o incompleto é humano também. Hoje em dia vivemos num mundo digital, da inteligência artificial, que nos mostra o resultado final, um resultado bastante matemático. Todos perdemos a paciência de apreciar uma obra, uma textura, de como a sentimos, porque vivemos num mundo muito digital, então a apreciação hoje em dia é meramente digital. Creio que vale muitíssimo a pena ter em conta o importante que é ver uma obra, sobretudo uma obra de estética bruta, porque mostra o esqueleto de como foi feita. Mostra-te a via, as veias, os erros, camada sobre camada, e isso é algo que temos de pensar como seres humanos: que o incompleto faz parte da perceção.

 

 

 

 

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Pedro Vaz organiza desde 2014, em Coimbra, exposições e performances. Completou entre 2013 e 2018 a Licenciatura e Mestrado em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Atualmente é doutorando em Artes e Mediações pela FCSH da Universidade NOVA, e faz curadoria independente pelo Coletivo Gambuzino, fundado por si e por Emanuela Boccia em 2023.