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© Marta Ziul
Gonçalo Antunes
Antropólogo e artista
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Qual a ultima boa exposição que viu?
A de Vivian Maier, em Cascais. Adorei a forma como ela se encontrava omnipresente em quase todas as fotos e a mestria das suas composições.
Que livro está a ler?
Vou a meio de vários: ‘Húmus’, de Raul Brandão, ‘Livro do Desassossego’ de Fernando Pessoa, ‘A Salvação do Belo’ de Byung-Chul Han, ‘Apenas Miúdos’ da Patti Smith e ‘Nota Sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos’ de Simone Weil.
Que música está no topo da sua playlist actual?
Tenho sempre um qualquer Samba e, neste momento, também o Etna, dos Sunn O))).
Um filme que gostaria de rever…
La Haine de Mathieu Kassovitz
O que deve mudar?
A forma como falamos das nossas emoções. Às vezes sinto-me muito ancorado, inconscientemente, pela mundovisão que nos é imposta pelos fantasmas dos meus antepassados. O Raul Brandão, no Húmus, descreve esse mundo exemplarmente.
O que deve ficar na mesma?
O Amor.
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
O Velho Guitarrista Cego, do Picasso. Os meus avós tinham uma impressão barata, na sala. Lembro-me que, ao ver o original, rodeado de vários outros exemplares da fase azul, se não me engano, em Barcelona, a obra ganhou toda uma outra dimensão.
Qual a próxima viagem a fazer?
A Atenas visitar grandes amigos que não vejo há quase 20 anos. Talvez vá espreitar, também, a Acrópole.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
O que quer que a vida atirasse ao meu caminho!
Se receber um amigo de fora por um dia, que programa faria com ele?
Praia do Magoito de manhã, passeio na Serra à tarde, jantar e vinho em minha casa seguido de uma cerveja na Graça.
Imaginando que organiza um jantar para 4 convidados, quem estaria na sua lista para convidar? Pode considerar contemporâneos ou já desaparecidos.
Ao ver Douglas da Hannah Gadsby, adorei a critica feroz que ela fez ao Picasso, acho que convidava os dois, para os ouvir falar. Para eu próprio falar, convidava a Andrêsa do Nascimento (Fernanda do Vale) e a Sarah Baartman.
Quais os seus projetos para o futuro?
Neste momento estou a desenvolver um projecto, Fato Macaco, em que convido músicos para me ajudarem a criar ambientes sonoros onde possam ser declamadas palavras. Tenho trabalhado muito com a obra poética de Artur do Cruzeiro Seixas e exploro agora o Húmus e o Livro do Desassossego. Gostaria de continuar a desenvolver este trabalho não só com outros autores, mas também explorando outros registos, como os relatórios existentes nos arquivos da administração colonial. Para complementar este trabalho gostaria de convidar artistas visuais que pudessem complementar estas apresentações com imagem e vídeo.