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Carlos França
Crítico de arte e investigador
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Qual a última boa exposição que viu?
A última exposição de pintura que vi, a bem dizer foram duas: na Galeria Duarte Sequeira, em Tibães, Braga. Uma era do pintor inglês Patrick H. Jones, a outra do pintor e escultor sul-coreano Young Do Jeong. Ambas as exposições eram excelentes, embora com estilos e temáticas diferentes; e o espaço que as acolhe também ajudou bastante a realçar as obras expostas.
Que livro está a ler?
Estou a reler o “Vermelho e o Negro” de Stendhal, um grande clássico da literatura francesa; mas também estou a ler pela primeira vez dois livros muito especiais de dois autores praticamente desconhecidos, mas de imensa qualidade. Um desses livros situa-se mais no plano das ideias metafísicas, enquanto o outro tem mais a ver directamente com a literatura. O primeiro chama-se “Segunda-feira existencial e o Domingo da História & Outros Ensaios” e é de um escritor romeno, Benjamin Fondane, nascido no seio de uma família de intelectuais judeus na Roménia, tendo vivido em Paris e morrido em Auschwitz. O outro é de uma escritora alemã, Charlotte Beradt e chama-se, curiosamente, “O Terceiro Reich do Sonho”, um livro preparado na Alemanha de Hitler, nos anos trinta, que reúne uma invulgar pesquisa realizada pela escritora. No fundo foram entrevistas feitas a alemães para recolher os seus sonhos durante o terror nazi, cuja duração vai até 1939. Ainda os estou a ler e acho-os perturbadores, mas intensos. Ambos têm a chancela VS, que é uma editora de culto de que eu gosto muito.
Que música está no topo da sua playlist actual?
Na música procuro ser um eclético intermitente: Bach, Beethoven, Schumann, Mozart, Monteverdi e Scarlatti, mas também Beatles, Doors, Billie Eilish, Philip Glass, Miles Davis, Arvo Pärt, Glenn Gould ou Carlos Paredes, entre muitos outros. Citar é sempre injusto…
Um filme que gostaria de rever…
Viridiana de Buñuel.
O que deve mudar?
O preconceito e a mentira.
O que deve ficar na mesma?
A verdade, a justiça e a beleza.
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
As “Demoiselles d’Avignon” (Picasso).
Qual a próxima viagem a fazer?
Talvez Paris.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
Ser pianista.
Se receber um amigo de fora por um dia, que programa faria com ele?
Se estiver no Porto levo-o a conhecer a Ribeira e depois levo-o a jantar à Marisqueira de Matosinhos. A Casa da Música, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira e os jardins de Serralves assim como o Majestic ou a Cooperativa Árvore são sítios especiais que também merecem uma visita.
Imaginando que organiza um jantar para 4 convidados, quem estaria na sua lista para convidar? Pode considerar contemporâneos ou já desaparecidos.
Kant, Pessoa, Hitchcock e Paula Rego.
Quais os seus projetos para o futuro?
Viajar um pouco e escrever alguns livros entre a filosofia e a ficção. Talvez organizar também uma exposição com artistas pouco conhecidos, mas com muita qualidade.