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2006-09-04
ELLIPSE FOUNDATION - NOTAS SOBRE O ART CENTRE

MARCELO FELIX

2006-08-17
BAS JAN ADER, TRINTA ANOS SOBRE O ÚLTIMO TRAJECTO

JORGE DIAS

2006-08-01
UM PERCURSO POR SEGUIR

SÍLVIA GUERRA

2006-07-14
A MOLDURA DO CINEASTA

AIDA CASTRO

2006-06-30
BIO-MUSEU: UMA CONDIÇÃO, NO MÍNIMO, TRIPLOMÓRFICA

LÍGIA AFONSO

2006-05-17
VICTOR PALLA (1922 - 2006)

JOÃO SILVÉRIO

2006-04-12
VIENA, 22 a 26 de Março de 2006


NEM TUDO SÃO ROSEIRAS



COLECTIVO*

2006-06-14




Na passada semana foram endereçados à ARTECAPITAL vários textos em resposta ao artigo do nosso colaborador José Roseira – “A Informalidade como Alternativa”–, publicado na secção PERSPECTIVA ACTUAL no dia 7 de Junho. Neste espaço de OPINIÃO publicamos um deles, de autoria colectiva, com o objectivo de dar a conhecer as questões deste debate sobre espaços alternativos, na cidade do Porto. A resposta de José Roseira surge no seguimento do artigo inicial.
– Esclarecimento da ARTECAPITAL –


Nem tudo são roseiras

No texto, “Informalidade como alternativa“ publicado na revista online, ARTECAPITAL, em 07.06.06 há a pretensão da parte de José Roseira de apresentar, informar e dar a conhecer a actividade de espaços cujo campo de actuação é exterior ao circuito comercial e institucional, na cidade do Porto.

Num tão breve comentário José Roseira incorre em graves falhas e erros, ou por displicência, ou por desconhecimento, não sabemos precisar, contudo cabe-nos questionar, a partir do referido texto, o autor com vista a obter os devidos esclarecimentos. Estamos em crer que depois de colocadas estas questões deverá ser feita a rectificação desse mesmo texto.

Numa leitura transversal do texto, este pretende dar conta de uma realidade artística emergente no Porto nos últimos sete anos, mais concretamente a emergência de projectos, de eventos e espaços onde são apresentadas criações de jovens artistas. Contudo, numa análise mais atenta direcciona-se apenas para dois projectos surgidos nos últimos três meses – O Apêndice e a Sala – direccionando-se na segunda metade do texto para o projecto Salão Olímpico com um discurso depreciativo. Com que objectivo e porque exclui ou omite outros espaços – fá-lo-á por desconhecimento? Se sim, porque não procurou investigar, conhecer junto dos programadores?

No primeiro parágrafo refere o nome de quatro programadores responsáveis por dois dos espaços, sobre os quais pretende recair a sua análise – porque o faz? Porque não especifica? Estamos em crer que não será por falta de espaço, mas se esta for uma limitação, incorreu numa falta de visão em querer abordar um assunto tão vasto.

Depois destas questões, obtidas a partir de uma leitura transversal, passemos então a outras que são resultado de uma leitura mais atenta do pequeno texto. Sobre o primeiro parágrafo não sendo exaustivo a sua abordagem é minimamente suficiente, mas logo no parágrafo seguinte, quando refere num tom de menosprezo o cruzamento de nomes nas programações dos referidos espaços, porque o faz? Está a par das dinâmicas de grupos informais de artistas? Se sim, sabe que as energias internas destes grupos, desencadeiam o aparecimento de diversos projectos em que os responsáveis pelos mesmos poderão ser diferentes e/ou coincidirem em um ou mais. Na segunda frase, alude que estes projectos estão limitados ao universo da arte contemporânea – que outros enquadramentos ou universos prevê? O da arte moderna? Ou da arte antiga? Pelo despropósito, acreditamos que não, e lamentamos mais uma vez o facto de não ter requerido as linhas orientadoras de cada um dos projectos. Ainda na mesma frase pretende informar o leitor quanto à proveniência e informação dos promotores e do público dos referidos espaços. Qualquer leitor gostaria de saber certamente o que motivou os estudantes a realizar tais projectos, quais os seus objectivos, as suas aspirações. Tentou conhecê-los? Se sim, porque não informou o leitor? Neste mesmo parágrafo, caracteriza de forma redutora o público “que lhe tem acesso” como sendo restrito. Tentou conhecer o esforço que os referidos programadores e todos aqueles envolvidos com estes projectos têm feito com vista à formação ou criação do seu público? Mais uma vez porque não se quis informar junto destes programadores sobre as características dos públicos?

José Roseira tenta distinguir os espaços enquanto alternativos e informais. Quais os (seus) critérios? Refira e sustente quais são no seu entender os alternativos quais os informais. Informe-nos ainda quanto aos critérios que sustentam tal caracterização, deverá referir igualmente as fontes de onde provém a informação e o conhecimento destes projectos e que o ajudaram a sustentar essa mesma caracterização.
Se não nos quisermos cingir na análise dos espaços e se nos quisermos remeter ao universo da criação artística, as questões a serem colocadas serão ainda outras: Como caracteriza as diferentes obras apresentadas nos diversos espaços? Serão informais, alternativas ou os seus conceitos não se adequam às obras? Se não se aplicam a estas a que é que se referem?
Quanto ao conceito de alternativo ele é sinónimo de independência? E esta independência deve-se a quê? À inexistência de relação com o comércio e as instituições? À inexistência de relação com os decisores institucionais? À inexistência de relação com os agentes do mercado da arte? Ou à inexistência de relação com os artistas consagrados, emergentes ou outros? Explicite.

Por último, e ainda neste segundo parágrafo, refere que as linguagens artísticas utilizadas pelos artistas, que apresentaram obras nestes espaços, são aceites pelo mercado. Conhece a quantidade de artistas que apresentaram a sua obra nestes espaços? As áreas artísticas de intervenção que utilizaram? Se sim, e segundo a sua afirmação, certamente nos poderá avançar a percentagem de artistas que têm uma “relação” com o mercado. E já agora refira os seus nomes. Quanto ao mercado qual a percentagem de obras produzidas dentro de áreas artísticas como o som, a performance, o vídeo, a intervenção pública, as intervenções de artista, as instalações e outras que são apresentadas nos espaços expositivos galerísticos? Referimos estas áreas, pois estas têm sido algumas das áreas artísticas adoptadas pelos criadores que apresentaram o seu trabalho nos espaços que presumivelmente constituem o seu objecto de estudo.
Refere que “a maioria dos artistas” que dinamizam estes espaços, “têm já uma relação com o mercado e as suas criações jogam com as linguagens aceites por este.” Exponha quais as ligações existentes entre os artistas e os vários agentes do mercado? Mencione o tipo e as características dos diversos compradores (que são responsáveis por colecções institucionais, privadas ou por outras colecções), que adquiriram obras a estes artistas nestes espaços, avalie também em termos percentuais a quantidade de obras apresentadas nestes espaços que foram adquiridas por estes coleccionadores. E não se esqueça de referir como são realizadas e quais as partes ou intervenientes que participam no acto de aquisição. Se diz existirem relações entre os vários agentes do mercado da arte e os artistas, quais os objectivos ou mais valia que estas têm para o artista e em especial para a sua criação e ainda para a arte.

No terceiro parágrafo, associa o nascimento destes projectos com a abertura de Serralves (confiamos não errar que queria referir a abertura do Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves - M.A.C.F.S. em 1999), com a concentração das galerias na Rua Miguel Bombarda (e não só como diz “abertura das galerias na Rua Miguel Bombarda”) e com o facto de os artistas responsáveis pelos espaços informais serem alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (F.B.A.U.P.). Porque associa estas duas instituições (F.B.A.U.P. e M.A.C.F.S.) e os espaços privados galerísticos com os espaços dinamizados por artistas?
Quais os tipos de relações que este últimos estabelecem com os três primeiros? Conhece a realidade de um aluno da referida faculdade? Quantos emergem no mercado? Fazem-no directamente? E quais os que têm oportunidade de expor nas instituições? Refira-nos nomes, exemplos de eventos e/ou mostras e os nomes dos estudantes/artistas. Afirma ainda a ausência de mecanismos de integração institucional, para sustentar o aparecimento destes espaços e enquadrar o percurso artístico realizado pelos alunos/artistas entre a universidade e a galeria. Que tipos de mecanismos de integração institucional deveriam existir no seu entender? Qual deverá ser a actuação de um aluno/ artista ao querer dar continuidade à sua vontade de criar sem que tenha que apresentar o seu trabalho na “montra de publicitação de novos nomes e trabalho”? Quanto à caracterização dos espaços expositivos dinamizados por artistas, porque os designa depreciativamente por “montra de publicitação”? Qual o seu objectivo? Qual a sua intenção? Só para esclarecer o leitor, já que não o fez, os espaços surgidos nos últimos oito anos, mais precisamente entre 1998 e o presente ano, compreendem não só Caldeira 213, o Salão Olímpico, PÊSSEGOpráSEMANA, mas também W.C. Container, IN. Transit, Artemosferas, Maus Hábitos, Ateliers Mentol, Projecto FIG-Nova Delux, umdiapositivopravôce, Mad Woman in the Attic, Wasser-Bassin, 555, CLAP (Clube de Arte do Porto – do qual confiamos não errar faz parte) e projectos como inter+discilinar+idades, pontos de contacto, Zoina, sociedade anónima, balancete, e eventos como Quartel e Apagão, não podendo esquecer a intensa actividade de João Sousa Cardoso, para só referir alguns. Pelo exposto esta é uma realidade que se caracteriza por uma pluralidade de espaços que revelam formas de estar diferentes, linhas de programação diversificadas e que abrangem um vasto número de artistas cuja actividade não se limita única e exclusivamente à apresentação do seu trabalho.

No quarto parágrafo, José Roseira associa “a emergência destes projectos ao vazio institucional e à depressão que efectiva e que progressivamente degrada a cidade no seu todo”. Como caracteriza o referido “vazio institucional”? Como é que este vazio favoreceu a emergência dos projectos de artistas. Por esclarecer ainda fica a ligação com a cidade do Porto e o seu estado de degradação (creio que se refere à urbana). Neste mesmo parágrafo reforça, que os espaços surgem com o Museu (M.A.C.F.S.) e “para serem vistos por ‘ele’, contestando-o por vezes mas sempre com deferência”. Neste ponto implica todos os espaços? Concretize o que significa serem “vistos por ‘ele’” e caracterize este tipo de relação. Quais os objectivos dos artistas ao quererem ser vistos pelo Museu? Quais os “projectos” que contestam com deferência o Museu? E quais os artistas?
Mal intencionadamente José Roseira afirma que este dinamismo criado pelos espaços, projectos e artistas acaba por ser bem pago. Como avalia tal pagamento – remuneração? Para sustentar tal pagamento adianta um exemplo que a um leitor desinformado parece factual – “Serralves co-produz (em Coimbra e em Guimarães) uma ‘retrospectiva’ do Olímpico”. Com que objectivo o faz? Onde obteve tais informações? Nesta última frase os erros somam-se sucessivamente, pelo facto teremos que colocar mais algumas questões e requerer mais esclarecimentos. Em que moldes acontece esta exposição? Pelo conjunto de informações que supostamente tem, ao avaliar que ela é o resultado de uma relação de “sedução”, deverão ser apresentados por sua parte mais esclarecimentos, para que o leitor possa compreender o porquê de tal “sedução”. Onde obteve informações suficientes que lhe permitam aventurar-se a informar o leitor? Caracteriza ainda que o referido evento a acontecer será uma retrospectiva da actividade do Salão Olímpico (e não como afirma do Olímpico). Onde obteve tal informação, pois esta é estranha aos responsáveis pela mesma? Qual o seu objectivo? Sustenta ainda, de forma especulativa e mal intencionada, que há uma cumplicidade entre o Salão Olímpico, a Sala e O Apêndice, apenas pelo facto de alguns dos nomes coincidirem. Quais o nomes, dos artistas? O dos artistas/programadores? Ou de Ambos? O que sugere? Que os artistas envolvidos sejam apenas comissários de um evento do qual não participem e apenas convidem pessoas exteriores? Não estariam nesse caso a direccionarem-se apenas e exclusivamente para as questões da curadoria e não para o que lhes interessa, a criação e apresentação da sua obra?

Por fim, no último parágrafo a indignação não é menor, pelo contrário, os erros são tais que nos leva a questionar a sua vivência e a sua experiência nestes espaços e com estes artistas na cidade do Porto. Menosprezando o seu dilema com a atribuição do “epíteto de alternativo”, afirma que “nunca as [iniciativas] vimos operar numa lógica exterior à instituição, fomos, pelo contrário, sempre testemunhas de um subtil cortejo de parte a parte”. Nesta sua afirmação está subentendido um sujeito colectivo – nós. Nós quem? Quem foi testemunha do dito subtil cortejo? Quando e onde? Em que moldes se formalizou? Onde obteve tais informações? E qual o rigor e credibilidade destas? Como teve tais visões? Sustenta ainda o referido com o facto de esta ser uma geração corrompida, ou pela suas palavras “modelada pela instituição”. Avançando-o com uma afirmação que se apresenta como factual em que “muitos destes artistas são hoje empregues em funções diversas no museu”. Quantos e quais os artistas que hoje estão empregues no Museu? E em que funções? Em que medida é que tais pessoas, pelas suas funções, são modeladas pela entidade empregadora? Porque avança com este dado? Terminando a análise do seu pequeno texto, refere a existência de um prémio. Que prémio? O que pretende premiar tal prémio? Em que medida é que os artistas são “excitados” por este prémio? Pode concretizar?

Pelo exposto, estamos a responsabilizá-lo por todas e cada uma das palavras escritas no seu pequeno texto, certamente estará ciente de que estas marcarão não só o presente como também o futuro. Também destas resultará uma avaliação não só do texto em si como do seu autor – José Roseira.

*
António Lago, Membro de a Sala
Carla Filipe, Membro do Salão Olímpico e de O Projecto Apêndice
Eduardo Matos, Membro do Salão Olímpico
Isabel Ribeiro, Membro do Salão Olímpico e de O Projecto Apêndice
José Maia
Nuno Ramalho
Renato Ferrão, Membro do Salão Olímpico
Rui Ribeiro, Membro do Salão Olímpico
Susana Chiocca, Membro de a Sala


Este texto não prescinde da leitura dos seguintes textos publicados no blog Sombra Chinesasombrachinesa.blogspot.com

“Moralina“ de Rui Ribeiro
www.sombrachinesa.blogspot.com/2006/06/moralina.html#links

“Lamentável“ de Susana Chiocca
www.sombrachinesa.blogspot.com/2006/06/lamentvel.html#links

de António Lago
www.sombrachinesa.blogspot.com/2006/06/venho-desta-forma-eu-antonio-lago.html#links

“Aqui ninguém derreteu ao sol“ de Renato Ferrão
www.sombrachinesa.blogspot.com/2006/06/aqui-ningum-derreteu-ao-sol.html#links

“Uma opção entre duas ou mais possibilidades“ de Isabel Ribeiro
www.sombrachinesa.blogspot.com/2006/06/uma-opo-entre-duas-ou-mais.html#links

“A sede de suspeita“ de Carla Filipe
www.sombrachinesa.blogspot.com/2006/06/sede-de-suspeita.html#links