Links

NOTÍCIAS


ARQUIVO:

 


CARLOS BUNGA LEVA O PÚBLICO A “HABITAR A CONTRADIÇÃO” NO CAM: ONDE O MUSEU VIRA CASA

2025-11-09




O Centro de Arte Moderna Gulbenkian inaugura “Habitar a Contradição”, considerada uma das exposições mais amplas e pessoais de Carlos Bunga, patente de 8 de novembro de 2025 a 30 de março de 2026, com curadoria de Rui Mateus Amaral. A mostra ocupa todo o museu, do jardim à nave central, e inclui obras e criações do artista português em diálogo com peças da coleção do CAM, em uma instalação monumental de cartão site-specific.

Entre o dentro e o fora, o museu e a casa, o efêmero e o eterno, Bunga constrói uma travessia sensorial sobre o que significa habitar o mundo. No jardim, o público é acolhido pelo “Beijódromo”, espaço de encontro e empatia, onde o gesto simples de estar junto se torna resistência ao isolamento contemporâneo. No átrio, o artista devolve humanidade ao edifício institucional, chamando-o de “lar”, e nele dispõe móveis, televisões e lembranças, propondo um museu que se vive com o corpo e não apenas com o olhar.

O percurso conduz à imponente floresta de cartão que toma a nave central. Troncos frágeis e firmes erguem-se até o teto, desenhando um bosque interior que pulsa ao ritmo do visitante. O exterior entra pelas janelas, a natureza invade o espaço, e o fugaz torna-se arquitetura. Cada passo é convite: sentar, mover, dançar, permanecer. Porque aqui o museu não se contempla, habita-se.

Entre divisões criadas pelo artista, emergem recordações: a casa de infância, a mãe que partiu de Angola para Portugal, o ventre que foi o primeiro abrigo, as fronteiras que o corpo e a vida atravessam. Em “Motherhood” (“Maternidade”), essas vivências ganham forma e devolvem ao espaço uma emoção de origem: a casa como corpo, o corpo como casa.

Na mezzanine, obras de Maria Helena Vieira da Silva, Doris Salcedo, Lourdes Castro e outros nomes da coleção conversam com as criações de Carlos Bunga, entrelaçando tempos e linguagens. O resultado é uma coreografia de memórias e metamorfoses, onde pintura, escultura, instalação, fotografia e vídeo se unem para pensar o que permanece quando tudo muda.

“Habitar a Contradição” é uma floresta, um refúgio, uma dança. Um espelho onde o visitante se vê: múltiplo, transitório e vivo. No CAM, o museu torna-se lar, o lar torna-se mundo, e o mundo respira em constante transformação.


Por Julia Ugelli