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ANTIGO HINO BABILÓNICO RESSURGE APÓS MILÉNIOS

2025-07-07




Durante pelo menos 500 anos, as crianças babilónicas foram incumbidas de decorar um hino que celebrava a cidade da Babilónia, os seus cidadãos e a divindade principal, Marduk. Havia muito para louvar: a cidade era abundante como um jardim de frutas, os seus cidadãos generosos e sábios, e Marduk era o "arquiteto do universo" que protegia os fracos e vulneráveis.

O hino de 250 versos foi criado por volta de 1000 a.C. e fielmente copiado em tábuas de argila por escribas durante centenas de anos. Apesar da proliferação de um texto que seria familiar a todos os babilónios letrados, o hino era desconhecido dos estudiosos até há muito pouco tempo.

A sua descoberta é o resultado de uma colaboração entre a Universidade de Bagdade e a Universidade Ludwig Maximilian de Munique (LMU), que desde 2018 embarcaram na monumental tarefa de digitalizar todos os fragmentos de texto cuneiforme já descobertos. Um segundo passo chegou com a introdução da inteligência artificial, que vasculha a Plataforma da Biblioteca Eletrónica da Babilónia em busca de ligações. No caso do hino à Babilónia, a IA identificou 30 manuscritos relacionados, abrangendo desde o século VII a.C. ao século I a.C., processo que, segundo Enrique Jiménez, líder do projeto, demoraria décadas.

Um artigo que apresenta o hino reconstruído (aproximadamente um terço continua desaparecido) no periódico “Iraq, não poupou a importância da descoberta. A obra foi rotulada como um clássico da antiga Babilónia e central no objetivo principal da Assiriologia, o estudo da história e das línguas da Assíria e da Babilónia. Ou seja, "a recuperação e reconstrução de uma herança perdida".

O autor, que provavelmente pertencia à classe dos sacerdotes, oferece uma rara janela para visões do mundo natural, das mulheres babilónicas, dos valores sociais e das origens míticas da civilização.

“Foi escrito por um babilónico que queria louvar a sua cidade”, disse Jiménez num comunicado publicado a 1 de julho. “O autor descreve os edifícios da cidade, mas também como as águas do Eufrates trazem a primavera e verdejam os campos. Isto é ainda mais espetacular, pois a literatura mesopotâmica remanescente é parcimoniosa nas suas descrições dos fenómenos naturais.” Jiménez, juntamente com o seu colega da Universidade de Bagdade, Anmar Fadhil, identificam seis secções do hino. Começa por louvar Marduk e enumerar os seus epítetos, antes de uma segunda secção adotar a posição de um deus que se dirige a Marduk, que também louva as suas virtudes — fornece alimento e abrigo e ajuda em momentos de perda financeira. A terceira secção é dedicada a Esagil, o templo de Marduk, um templo "feito com arte" que é a entrada para o mundo inferior.

As restantes três secções são dedicadas aos Babilónios e à sua cidade, cujas ruínas são hoje Património Mundial da UNESCO, a 80 quilómetros a sul de Bagdad. A quarta secção apresenta uma cidade cujas "ordenanças são perfeitas" e descreve poeticamente a chegada da primavera e a profusão de ervas e flores nos seus prados. As secções cinco e seis (que são bastante fragmentadas) apresentam uma visão idealizada dos Babilónios. São justos, cumpridores da lei, generosos para com os cativos e "respeitam os estrangeiros que vivem entre eles".

A descoberta do hino à Babilónia é o segundo sucesso do projeto em tantos anos. Em 2024, Jiménez decifrou partes até então desconhecidas da “Epopeia de Gilgamesh”.


Fonte: Artnet News