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AS MUITAS VIDAS DA ‘HAGIA SOPHIA’

2025-05-15




Poucos edifícios, incluindo locais de culto culturalmente significativos, têm uma história tão rica e complicada como a Hagia Sophia. Erguida pela primeira vez no século VI d.C., a estrutura foi utilizada como catedral ortodoxa, igreja católica, mesquita islâmica e museu secular, com decorações apropriadas. Apropriadamente, o seu nome é grego e significa “Santa Sabedoria”. Localizado em Istambul, na Turquia, não é simplesmente uma relíquia do passado antigo do país, mas um testemunho da sua identidade cultural e religiosa em constante mudança.

Embora já não seja um dos maiores locais de culto mais utilizados no mundo (essa honra pertence agora à mesquita Masjid al-Haram de Meca, lar da Caaba), a Hagia Sophia continua a ser uma obra de arquitetura incrivelmente grande. Composta por três cúpulas e quatro minaretes, a estrutura de 55 metros de altura abrange uma área de 18.000 metros quadrados e é capaz de acomodar aproximadamente 18.000 pessoas em simultâneo.

Construída por ordem do imperador bizantino Justiniano I em 537 d.C., a Hagia Sophia substituiu uma catedral que tinha sido originalmente construída por Constantino I vários séculos antes e posteriormente reformada pelos seus sucessores Constâncio II e Teodósio II.

A iteração de Justiniano, a base daquela que conhecemos hoje, foi nada menos do que uma maravilha da engenharia. Desenhado pelos matemáticos Isodoro de Mileto e Antêmio de Trales, a sua característica mais marcante era (e continua a ser) a sua cúpula circular. Ligado à sua base por suportes triangulares, parecia, nas palavras de um estudioso e escritor do século VI, “não estar fundado em alvenaria sólida, mas estar suspenso do Céu”. Ao contrário de outras cúpulas do género, permitia também que a luz solar abundante penetrasse no edifício, iluminando adequadamente o seu interior cavernoso coberto de mosaicos.

Quando Justiniano ordenou a construção de Santa Sofia, Bizâncio tinha-se separado oficialmente de Roma para formar o seu próprio império independente. À medida que Constantinopla rompeu com a península Itálica como capital, o mesmo aconteceu com as suas igrejas, com a nova e melhorada Hagia Sophia a tornar-se um dos primeiros locais de culto do mundo dedicados ao cristianismo ortodoxo.

No entanto, a Hagia Sophia não se manteve como igreja ortodoxa por muito tempo. Após a queda de Constantinopla durante a Quarta Cruzada, em 1204, a estrutura foi convertida numa igreja católica. Quando o sultão otomano Mehmet II conquistou Bizâncio em 1453, a Santa Sofia correu o risco de ser destruída mais uma vez. Felizmente para as gerações seguintes, porém, Mehmet, talvez reconhecendo o valor arquitectónico e artístico do edifício, poupou-o, substituindo as suas decorações cristãs por iconografia islâmica e transformando-o assim numa mesquita.

A Hagia Sophia manteve-se como mesquita até 1935, quando Kemal Ataturk, o fundador da atual Türkiye, a transformou num museu secular. Em 2020, o atual líder da Turquia, Recep Tayyip Erdo?an, tomou a controversa decisão de transformar a Hagia Sophia novamente numa mesquita funcional. Para se preparar para esta destransição, o governo turco anunciou amplos esforços de renovação que se mantêm até hoje. Estas renovações não visam apenas melhorar a integridade estrutural do edifício — ameaçada pela idade e pela exposição a vários sismos — mas também abrir ao público os seus muitos túneis subterrâneos, abóbadas e túmulos.

Alguns destes espaços subterrâneos são tão antigos como a própria mesquita, tendo sido construídos entre 523 e 537 d.C. Outros podem ser ainda mais antigos — os últimos vestígios das catedrais cristãs há muito perdidas, erguidas por Constantino e Constâncio.

Quase dois milénios depois, a história da Santa Sofia está longe de terminar.

Fonte: Artnet News