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A ESCALA INSONDÁVEL DE “A PÁTRIA CHAMA”

2024-10-22




A União Soviética não conhece escassez de projectos de construção espantosamente enormes e (portanto) não realizados. A Torre de Tatlin, também chamada Monumento à III Internacional, que deveria ter sido a sede da Internacional Comunista em São Petersburgo, teria mais de 400 metros de altura, ultrapassando a sua fonte de inspiração: a Torre Eiffel de Paris.

Depois, há o Palácio dos Sovietes, um centro de convenções políticas de 416 metros de altura em Moscovo que terá sido construído num terreno anteriormente ocupado pela Catedral de Cristo Salvador. Com um salão principal planeado para acomodar 20 mil pessoas, o volume total do palácio teria ultrapassado o dos seis arranha-céus mais altos dos Estados Unidos.

Infelizmente, as restrições financeiras e arquitetónicas impediram que muitos destes grandes projetos fossem concretizados. Um recorde arquitetónico que viu a luz do dia é “A Pátria Chama!”, uma estátua de 52 metros de altura de uma mulher a levantar uma espada (85 metros se incluirmos a própria espada) localizada em Volgogrado. Anteriormente conhecida como Estalinegrado, em homenagem a Joseph Estaline, esta cidade foi palco de uma das mais longas, maiores e mais importantes batalhas da Segunda Guerra Mundial.

Como o próprio nome autoexplicativo sugere, a figura feminina de “A Pátria Chama!” simboliza a Mãe Rússia, apelando aos seus cidadãos para se juntarem ao esforço de guerra e a seguirem até à vitória. Na altura da sua conclusão, em 1967, era a estátua mais alta da Terra – um título que entretanto passou para uma série de estátuas religiosas e políticas cada vez mais gigantescas no Leste Asiático.

“A Pátria Chama!“ foi desenhada por Yevgeny Viktorovich Vuchetich, um escultor nascido em Ekaterinoslav, na atual Ucrânia. Foi uma figura importante no realismo soviético, um movimento artístico que rejeitou a experimentação futurista de artistas do início do século XX, como Kazimir Malevich, em favor de representações mais representativas e alegóricas dos ideais soviéticos. Recebeu também cinco vezes o Prémio Estaline e desenhou vários monumentos dedicados aos heróis da URSS.

A escala insondável de “A Pátria Chama!”, que é duas vezes mais alta do que a Estátua da Liberdade de Nova Iorque e 40 vezes mais pesada, tornou o processo de construção trabalhoso. Vuchetich terá exigido mais de 5.5000 toneladas de betão e 2.500 toneladas métricas de metal, que tiveram de ser montadas com a ajuda de engenheiros estruturais. Qualquer estrutura deste tamanho ameaça ruir sob o seu próprio peso, e a pose elegante da estátua – dando um passo em frente, de braços abertos e levantados – tornou esta ameaça ainda maior.

Existem várias explicações para porquê tão grande “A Pátria Chama!” Por um lado, a sua dimensão pretende representar a escala de sacrifícios que o povo russo foi forçado a fazer durante a guerra. Outra explicação, possivelmente mais útil, tem a ver com a geopolítica. Afinal, a estátua foi concluída em plena Guerra Fria, uma época em que a URSS competia com os EUA em muitas competições diferentes, desde o envio de pessoas para o espaço até à construção das estruturas mais altas do mundo.

Mas o tamanho tem um custo. Com o passar do tempo, a estátua foi renovada em diversas ocasiões. Uma das primeiras ocorreu no início da década de 1970, quando os engenheiros reforçaram a espada da estátua para evitar que esta balançasse com o vento e pudesse partir. A mais recente restauração começou em 2019, depois de um relatório ter mostrado que a fundação da estátua estava a deslizar por ter sido construída no topo do leito de um rio.

Décadas após a sua construção, “A Pátria Chama!” continua a ser um dos destinos turísticos mais populares da Rússia. Mesmo que já não seja a estátua mais alta do mundo – a “Estátua da Unidade” da Índia é quase duas vezes maior – não deixa de ser uma das estátuas mais impressionantes do mundo.


Fonte: Artnet News