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BASQUIAT ENCONTRA A DEUSA VÉNUS DE TORLONIA

2024-10-18




Num raro encontro entre o clássico e o contemporâneo, a galeria parisiense de Gagosian apresentou uma exposição que combina uma escultura romana antiga com obras de Jean-Michel Basquiat. A escultura da deusa Vénus justaposta à pintura de Basquiat de 1982 oferece aos espectadores uma nova lente através da qual podem ver a obra ainda ressonante do falecido artista.

A pintura, “Untitled”, que apresenta o contorno de uma estátua clássica de Vénus, faz parte de uma série que Basquiat pintou aos 21 anos, enquanto estava em Modena, no norte de Itália. Tinha sido convidado pelo galerists Emilio Mazzoli para produzir uma exposição, mas, depois de a dupla se ter desentendido, as oito obras acabaram por ser vendidas pela galerista nova-iorquina do artista, Annina Nosei. Só foram vistas juntas pela primeira vez no ano passado, numa exposição única na Fondation Beyeler, perto de Basileia, na Suíça.

Questionado sobre a sua experiência em Modena anos mais tarde, Basquiat comparou-a a “uma fábrica doente. Eu odiei. Eu queria ser uma estrela, não uma mascote de uma galeria.” Pouco antes desta estadia de pesadelo, porém, visitou Roma com a sua então namorada, Suzanne Mallouk, a quem se costumava referir como “Vénus”.

As formas como a arte que viu nessa viagem deve ter informado Basquiat são particularmente evidentes no seu ambíguo “Untitled”. Uma estátua romana de Vénus é combinada com uma figura feminina tipicamente expressiva, com os braços estendidos e uma cabeça coroada por caracóis dinâmicos. Acima dela brilha uma auréola e à sua esquerda estão pedaços de fruta. O cacho de uvas evoca cenas clássicas de bacanal e uma natureza morta semelhante em “Les Demoiselles d’Avignon”, de Picasso, que Basquiat admirava frequentemente no MoMA de Nova Iorque. Esta pintura foi também comparada a “O Nascimento de Vénus”, de Botticelli, e às telas de Cy Twombly.

“[Basquiat] tinha um grande domínio da história da arte e da cultura visual e era brilhante a dar vida ao passado nas suas pinturas”, disse Larry Gagosian. “O seu trabalho recorda-nos os acordes e ressonâncias comuns de beleza e identidade ao longo da história da arte.”

Captando a amplitude das referências de Basquiat, “Untitled” reencontrou outra das suas inspirações. A estátua foi emprestada pela Coleção Torlonia, em Roma, a maior propriedade privada do mundo de antiguidades romanas que raramente é vista em público.

“Queremos aproximar o espectador das influências que Basquiat absorveu durante a sua viagem a Itália”, explicou a diretora sénior da Gagosian em Paris, Serena Cattaneo Adorno. “Baseava-se em tantas referências, reunidas nas suas viagens, e despejou-as nas oito obras [de Modena], numa série que é única na sua prática pelo seu ímpeto, emoção operática e narrativa abrangente.”

“As composições são dominadas maioritariamente por figuras únicas, pelo que dão a impressão de leitmotifs numa narrativa operática que se desenrola em múltiplos actos”, acrescentou, “através das personagens de um anjo, um demónio, um profeta, um avarento, um lavrador, e - claro - a deusa Vénus.”

Adorno disse que Gagosian escolheu a Vénus de Torlonia porque a sua “forma completa e perfeita” fornece “uma evocação de motivos clássicos que vemos influenciar fortemente os pensamentos de Jean-Michel no momento em que criou esta série incomparável de Modena”.

“Jean-Michel Basquiat: Venus” estará em exibição na Gagosian Paris até 20 de dezembro.


Fonte: Artnet News