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ANTóNIO JúLIO DUARTE

LIZ VAHIA


 


O sentido de viagem, de itinerância, de mapeamento, percorre a obra de António Júlio Duarte. Uma viagem de descoberta para o fotógrafo e para o espectador, onde o lugar se revela como espaço da intimidade e as imagens são marcas dessa atenção precisa sobre a dimensão humana dos objectos e dos lugares. Há um contínuo de rostos ocultos na série de fotografias que compõem o novo livro de António Júlio Duarte. Por ocasião do lançamento este mês, fomos falar com o fotógrafo sobre o seu processo de trabalho, entre o fotografar, o editar e o mostrar. A necessidade de regressar é tão forte como a de partir.


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LV: Japan Drug é o teu terceiro livro e vai ser apresentado no dia 23 de Maio na STET [1]. Queres dar-nos uma antevisão do que vamos encontrar?

AJD: É um trabalho que já foi feito há bastante tempo, em 1997. Na altura fiz uma exposição e em seguida um catálogo, mas foi um trabalho que nunca tinha ficado resolvido. A exposição talvez não fosse a melhor maneira de resolver aquele corpo de trabalho. E o trabalho ficou parado estes anos todos, até que surgiu uma oportunidade, e uma vontade minha, de olhar outra vez para ele. De alguma forma pedia para ser um livro.


LV: O livro faz com que o público se relacione de modo diferente com o teu trabalho?

AJD: Eu penso sempre os trabalhos como livros, mesmo quando não são para serem um livro. O livro é a forma ideal de apresentar um trabalho. Quando faço um trabalho de edição, quando estou a editar material para fazer uma exposição, a minha maneira de trabalhar é como se estivesse a fazer um livro. É o meio por excelência para apresentar e ver fotografia.


LV: É porque há uma relação mais próxima com os trabalhos, mais íntima, arredada do espaço público?

AJD: É tudo isso. Mas isso é mais da parte de quem vê e eu já não tenho nada a ver com isso! O trabalho de edição é das partes que mais me interessa. Interessa-me tanto como fotografar.


LV: As fotografias deste livro datam de 1997, o mesmo ano do material que compôs a tua última exposição no Centro Cultural Vila Flor. [2] Nesse material que expuseste estão incluídas as provas de contacto, o que nos revela um pouco desse processo de selecção e edição de que falas e que geralmente está oculto do público.

AJD: Quando me convidaram a ideia que me propuseram foi a de fazer uma retrospectiva, mas achei que não fazia muito sentido. Decidi então pegar no trabalho feito no Japão numa tentativa de resolver esse trabalho no seu todo. O trabalho não divergia muito da primeira exposição feita em 1999, havia apenas uma mudança de escala, mas mais do que querer mostrar as fotografias, queria mostrar o método, aquilo que não se mostra, o que se faz durante o processo de escolha. Talvez hoje, se tivesse que refazer a exposição de Guimarães, expunha apenas as provas de contacto. As provas de contacto são um bocado como a tua mente funciona, como trabalha, como passa de uma fotografia para a outra, como se vai de um sítio para outro.


LV: Havia um confronto entre o que se mostra e o que ficou por mostrar. Foi ali também que viste a possibilidade de organizar o livro?

AJD: Como estava nesse processo de olhar para o trabalho que tinha feito, decidi tornar esse processo público. O ideal teria sido o livro aparecer em simultâneo com as provas de contacto, para confrontar uma escolha minha com uma outra possível escolha, mostrando assim um processo completamente aberto.


LV: Voltar a esse material do Japão é voltar novamente ao Oriente, um motivo persistente no teu trabalho?

AJD: Cada pessoa tem um território em que trabalha, um tema ou seja lá o que for. Eu não tenho propriamente temas de trabalho, mas o Oriente é um território onde me sinto bem. Estou sempre a voltar ao Oriente, mas não sei se volto lá para fotografar, faz parte da minha vida como outras coisas fazem parte.


LV: A tua relação com os espaços, quer sejam interiores ou exteriores, tem sempre qualquer coisa de etnografia pessoal. Há um atentar nos detalhes, um mapeamento das coisas.

AJD: Fotografar é sempre mapear qualquer coisa, uma situação, um sítio, um espaço que pode ser um quarto de hotel, uma rua, um bairro qualquer... E eu gosto de mapear de maneiras diferentes, o pequeno pormenor é tão importante como um olhar geral, abrangente. Fotografar é a maneira como reajo.


LV: Fotografar é uma forma de fazeres sentido sobre um lugar?

AJD: É uma das formas de me relacionar com um lugar. No fundo, a pergunta é ‘porque é que fotografo aquilo que fotografo?’.


LV: Por trás das tuas fotografias há uma relação pessoal com aquele momento e aquele lugar, com aquele objecto, que por mais que tentemos arranjar uma história, vai ser sempre o teu momento escondido e misterioso. Há um certo mistério nas tuas fotografias, concordas?

AJD: Acho que tem que haver. Eu não quero convencer as pessoas de nada, nem arranjar nenhuma justificação. É melhor nem saber. E gosto que as minhas fotografias sejam um espaço para os outros projectarem aquilo que quiserem, que as pessoas se possam apropriar delas e vejam ali o que quiserem.


LV: Tens uma série que se chama “Peepshow”, onde estão algumas destas imagens. Achas que este nome revela o espírito do teu trabalho? A ideia de uma coisa que se olha atentamente, num momento preciso e durante um espaço de tempo, e que está isolada das outras coisas.

AJD: A intensidade com que se olha é muito importante nesta série.


LV: Tens algum sítio que consideres o teu atelier, ou seja, um espaço onde te sintas bem a trabalhar?

AJD: Eu trabalho na rua e o meu espaço de ‘atelier’, por assim dizer, é o espaço onde faço a edição, onde posso pôr as coisas na parede e ordená-las. Pode ser em qualquer lado, basta uma parede branca grande. Sobretudo, o atelier é um espaço de arquivo, um espaço privado para os filmes, as provas de contacto. Normalmente edito em casa, na cozinha. É o melhor sítio porque acordo, faço um café e tenho aquele primeiro olhar sobre as imagens, que ainda é um olhar pouco consciente. E é a altura em que edito melhor, quando não estou completamente acordado. É o momento em que as escolhas são mais espontâneas.

 


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Notas

[1] STET – livros e fotografias: http://stet-livros-fotografias.com/

[2] Japão 1997, exposição no Centro Cultural Vila Flor, Guimarães, de 21 de Setembro a 22 de Dezembro de 2013.