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MEMBRO DO PARLAMENTO NA GRÉCIA DESTRÓI ARTE NA GALERIA NACIONAL ALEGANDO “BLASFÉMIA”

2025-03-12




A Galeria Nacional da Grécia foi forçada a fechar na segunda-feira depois de um político fundamentalista religioso de direita ter vandalizado obras de arte que considerou blasfemas numa exposição de arte grega contemporânea. Com a ajuda de um cúmplice, o eleito terá atacado quatro quadros, que retirou à força da parede e atirou para o chão, partindo o vidro de proteção de pelo menos duas obras.

O museu de Atenas confirmou que o ataque ocorreu por volta das 11h35, hora local, do dia 10 de março. As obras são caricaturas de ícones religiosos.

Nikolaos Papadopoulos é membro do parlamento na Grécia, representando o partido de extrema-direita e ultraconservador Niki, que se traduz como “Vitória”. Após o ataque de segunda-feira, foi inicialmente detido no museu e depois pela polícia local antes de ser libertado. Segundo relatos dos meios de comunicação gregos, as autoridades confirmaram que enfrentará acusações de vandalismo agravado.

Papadopoulos ameaçou “tomar todas as medidas legais” contra o museu, que alega tê-lo detido ilegalmente, uma vez que a constituição grega “prevê que um membro do Parlamento não pode ser processado, preso ou restringido de outra forma sem a permissão do Parlamento”.

O deputado já tinha criticado as obras visadas como ofensivas do cristianismo ortodoxo no parlamento, ao dirigir-se à ministra da cultura da Grécia, Lina Mendoni. O seu ministério declarou sobre esta questão que “nunca se envolve em atos de censura”.

Em comunicado, o conselho de administração do museu disse que “condenamos inequivocamente qualquer ato de vandalismo, violência e censura que viole a liberdade de expressão artística constitucionalmente garantida”.

Katsadiotis, um artista sediado em Paris, também se manifestou em defesa do seu trabalho para os meios de comunicação locais, afirmando que se tratava de uma expressão “poética” que não tinha a intenção de ofender. Defendia que qualquer artista “tem o direito de expressar o seu ponto de vista pessoal, de reagir e, ao fazê-lo, fazer as perguntas que quiser, como, por exemplo, sobre a guerra travada sob o pretexto da pureza e da justiça sob qualquer deus”.

Katsadiotis explicou que se sente intrigado pela ambiguidade e pela natureza implicitamente ameaçadora da religião, representada pelos santos “que ameaçam que, se não estivermos do lado deles, enfrentaremos todo o tipo de provações e tribulações”. Acrescentou que a religião “é o elemento mais kitsch da nossa história popular — cheia de milagres, tragédias e maldições, é a nossa mitologia moderna”.

Após o ataque, Papadopoulos defendeu as suas ações num longo post no X intitulado “Governo de Ateus e Anticristos”. O político grego revelou que tinha escrito uma carta ao diretor do museu, Syrago Tsiara, a pedir que as obras de Katasadiotis fossem removidas. Alegou que a sua intenção original ao visitar o museu era falar com ela pessoalmente, mas, como não estava disponível, visitou a exposição e atacou as obras.

“Sinto-me comovido que a grande maioria da sociedade abrace a defesa do Sagrado e do Santo da Pátria, partilhando a minha indignação”, afirmou.

A exposição temporária, intitulada “The Allure of the Bizarre”, apresenta o trabalho de 10 artistas gregos e encerra a 30 de setembro de 2025. Realiza-se ao lado de uma exposição paralela de Los Caprichos de Goya de 1799, destacando interpretações contemporâneas do fantástico ou grotesco que o Velho Mestre espanhol também explorou, bem como experiências de marginalização ou ansiedade existencial.


Fonte: Artnet News