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Criar, colecionar e divulgar arte no espaço online é cada vez mais comum e reflete a atual era tecnológica, na qual o digital se afirma enquanto principal meio de percepção e de interação com o mundo. A esfera da internet e das redes tem vindo a tornar-se numa forte alternativa aos tradicionais circuitos da arte, consistindo numa plataforma eficaz tanto na apresentação e na disseminação, quanto na validação das obras, algo que outrora se encontrava circunscrito às instituições culturais e ao mercado da arte.

O digital é, pois, um lugar paralelo, desterritorializado, transversal e, de certo modo, autónomo, na medida em que permite maior liberdade não só ao nível da criação, como da circulação e da recepção dos objetos artísticos. Os artistas autonomizam-se e, em certa medida, desvinculam-se das entidades institucionais e dos seus respetivos modelos e condicionalismos. A internet permite uma certa independência face às hierarquias e aos regimes de legitimação da arte, ao mesmo tempo que propicia um contacto mais direto com o público e uma maior participação deste último (Couchot e Hillaire, 2003, p. 190). Se o sistema da arte era definido por circuitos fechados, agora, com a digitalização, torna-se num campo aberto.

Recorde-se que a atual condição digital foi impulsionada pelos novos media, de estética e dinâmica organizacional próprias, que lançaram inúmeras possibilidades de exibição, coleção e arquivo, bem como de reunião de distintos objetos, ou referências e representações, num mesmo espaço virtual. Como tal, rapidamente as instituições recorreram a meios tecnológicos enquanto ferramentas para inúmeros fins. No caso da internet, a sua utilização só se popularizou a partir dos anos 2000, primeiramente para anunciar artistas, exposições e eventos e, depois, para a criação de databases de museus e galerias. Mais recentemente, surgem instituições sustentadas em metaversos, ou seja, em universos virtuais e espaços expositivos inteiramente digitais, a par de novos formatos, tais como galerias e feiras virtuais.

Contudo, embora a internet tenha afirmado o seu lugar na esfera da arte, prevaleceu uma falta de acordo por parte da comunidade museológica relativamente ao valor da “web-specific art” (Dietz, 1998), algo que também sucedeu com os restantes novos media. Isso decorre da temporalidade ambígua e da elevada interatividade do digital, por um lado, e, por outro, da transfiguração dos objetos, nomeadamente da sua condensação em dados. Com as novas tecnologias emerge um novo permanente e o efémero passa a registado, ao mesmo tempo que se dificulta a distinção entre arte e não arte e se diluem as fronteiras entre local e não-local. Dá-se, assim, o colapso dos conceitos espaço físico e materialidade, o que, por sua vez, problematiza a posse dos objetos e a economia da arte.

Observem-se os non-fungible tokens (NFT), com os quais se evidenciam inúmeros desafios do online. Eles fazem corresponder obras de arte a unidades de dados e permitem que as mesmas sejam adquiridas sem a sua deslocação física, ao mesmo tempo que facilitam a circulação tanto de objetos e artistas, como de compradores, mesmo com menor poder de compra, como os jovens. Ora, embora isto se traduza na evolução e na ampliação do mercado da arte, também o altera estruturalmente, sobretudo ao retirá-lo do domínio dos magnatas e grandes colecionadores. Indique-se a leiloeira Phillips cujas exposições e leilões, de obras “materiais” e “imateriais”, introduzem peças nos circuitos da arte e afirmam valores.

Contudo, note-se que, sendo os NFT representativos do valor da arte, consistindo na sua propriedade (digital), garantem a autoria e a posse. Ademais, preservam o “original”, pois os algoritmos circunscrevem os exemplares de uma dada obra, ao contrário das infinitas possibilidades de reprodução da fotografia. Não obstante, é a partir desta última e da problemática da reprodutibilidade técnica, teorizada por Benjamin (1935), que se requer pensar a atualidade digital.

Recorde-se que a fotografia, sendo acessível a todos e tendo possibilitado a cópia, a apropriação e a colagem, democratizou a produção de imagens. Conduziu à desmistificação da arte e da capacidade autoral, criativa e de génio, o que, até então, determinava a autenticidade e a originalidade das obras. Esta situação acentua-se com os novos media, e enuncia-se com conceitos tais como copyright e propriedade intelectual. Há, igualmente, uma renovada democratização das massas, e se a fotografia banalizou a criação e a produção imagéticas, e o cinema estimulou a atividade crítica, as redes digitais e a ampla esfera da comunicação incitam permanentes partilhas, cópias e opiniões públicas. Para tal também contribui, como sublinha Bragança de Miranda (2007, p. 202), a capacidade da tecnologia em transpor toda a matéria em imagem total, numa espécie de “imagem-da-técnica”. O resultado é um excesso de imagens que contribui para a perda da aura e do valor cultural, e a substituição deste último pelo valor expositivo, para além do previsto por Benjamin.

Relativamente aos desafios próprios do digital, decorrem, sobretudo, das suas inovação e imprevisibilidade. Desde logo, na internet, tudo tende a sofrer alterações e a caducar com o tempo, conduzindo a páginas vazias e “404-Object not found”. Ademais, os novos media são raramente concebidos de raíz, pois as técnicas de reprodução e sintetização instalam inéditas formas de ready-made, num copy past que permite utilizar e redefinir elementos pré-existentes em infinitas manipulações e conjugações. Como refere Manovich (2013, p. 352), é sempre possível, através de “data fusions”, criar novos algoritmos ou expandir os existentes.

O digital permite selecionar, utilizar e redefinir elementos, numa infinidade de criações, edições, adições e transformações, contexto no qual se destaca o computador. Por conseguinte, e como explica Flusser (1984, p.108), com o digital, uma das noções basilares da arte, a criação, passa a ser entendida enquanto produto de uma informação pré-existente, associada a um processamento data. Acrescenta-se que, mesmo na sua apresentação, cada objeto pode apresentar-se de diversas formas e ocultar ou revelar, de cada vez, distintos aspetos da sua composição visual, física ou, mesmo, conceptual.

Perante este complexo e revolucionário panorama verifica-se um prevalente paradoxo entre uma tecnocracia, ou determinismo tecnológico, e uma tecnofobia expressa, sobretudo, pela defesa do sistema da arte postulado desde a modernidade. Ora, o que aqui se propõe é abraçar o desenvolvimento tecnológico através da sua integração nas várias dimensões da esfera da arte, mas, simultaneamente, preservar os contínuos debates e crítica, os quais são fundamentais tanto na reestruturação dos quadros e modelos do sistema da arte, como na preservação do valor e de uma certa “aura” do objeto artístico.

 


Constança Babo
Doutoranda em Arte dos Média na Universidade Lusófona de Lisboa e bolseira FCT, tendo como área de investigação o objeto artístico dos novos média e os seus modelos expositivos. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e licenciada em Artes Visuais - Fotografia pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos.

 


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Referências bibliográficas

BRAGANÇA DE MIRANDA (2007). Teoria da Cultura. Nova Vega.
BENJAMIN, W. (2006 [1935]). A Obra de Arte na Época da Sua Possibilidade de Reprodução Técnica. Assírio & Alvim.
COUCHOT, E.; HILLAIRE, N. (2003). L’Art Numérique. Éditions Flammarion.
DIETZ, S. (1998). Curating (on) the Web
FLUSSER, V. (1996). “Digital Apparition”. In Druckrey, T. (ed) Electronic Culture. Technology and visual representation. (p. 242-245). Aperture.
MANOVICH, L. (2013). Software takes command. Bloomsbury.