Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


The Forty Part Motet, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Forty Part Motet, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


Curtain, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


House Burning, 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Infinity Machine, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


Imbalance.6 (Jump), Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Cabinet of Curiousness, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Cabinet of Curiousness, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Cabinet of Curiousness, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Cabinet of Curiousness, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


Wings, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


Wings, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Instrument of Troubled Dreams, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Instrument of Troubled Dreams, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


The Instrument of Troubled Dreams, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


To Touch, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


To Touch, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


To Touch, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


Blue Hawaii Bar, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves


Blue Hawaii Bar, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves

Outras exposições actuais:

JOÃO MARÇAL

PIZZA SPACE-TIME


ZDB - Galeria Zé dos Bois, Lisboa
CATARINA REAL

NADIR AFONSO

EUTOPIA


Ap'Arte Galeria Arte Contemporânea, Porto
RODRIGO MAGALHÃES

MANUEL SANTOS MAIA

NAMPULA MACUA SOCIALISMO


Galerias Municipais - Galeria Quadrum, Lisboa
MADALENA FOLGADO

GIL DELINDRO

A AUDIÇÃO VIBRATÓRIA


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
SANDRA SILVA

COLECTIVA

THE POETICS OF DIMENSIONS


ICA - Institute of Contemporary Art San Francisco,
CATARINA REAL

COLECTIVA

LE JOUR IL FAIT NUIT


Kubikgallery, Porto
CONSTANÇA BABO

MICHELANGELO PISTOLETTO

TO STEP BEYOND


Lévy Gorvy Dayan, Nova Iorque
THELMA POTT

JORGE GALINDO

BLACK PAINTINGS


Galeria Duarte Sequeira, Braga
THELMA POTT

COLECTIVA

'SE EU TIVESSE MAIS TEMPO, TERIA ESCRITO UMA CARTA MAIS CURTA.'


Fidelidade Arte, Lisboa
LIZ VAHIA

JOANA VASCONCELOS

TRANSCENDING THE DOMESTIC


MICAS — Malta International Contemporary Arts Space,
CATARINA REAL

ARQUIVO:


JANET CARDIFF & GEORGE BURES MILLER

A FÁBRICA DAS SOMBRAS




MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-NOVA
Calçada Santa Isabel
3040-270 Coimbra

05 ABR - 05 JUL 2025

Da procura pelo som presente, e dos ressurgimentos através da sombra

  

 

Na iminência da comissão total do espaço do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova para uma unidade hoteleira, a Anozero, 10 anos após a sua primeira Bienal: Um lance de dados, apresenta o seu 3º soloshow, que sucedendo ao anterior, de Ragnar Kjartansson em 2023, e do primeiro, de José Pedro Croft em 2020, escolheu Janet Cardiff e George Bures Miller como dupla convidada a criar uma exposição num lugar onde o fantasmagórico, a eufonia e a placidez envernizam todo o ambiente pelo qual esta exposição foi desenhada.

Enquanto Janet Cardiff (1957) vem da exploração em impressão fotográfica, George Bures Miller (1960) inicia a sua carreira enquanto pintor e cineasta. No decorrer dos anos 90, Janet começa as suas explorações na criação de áudios escultóricos, levando a um reconhecimento internacional do seu trabalho ao longo da década com apresentações em Canadá, França, Inglaterra, Alemanha, Áustria e Estados Unidos. Uma das obras resultantes dessa experimentação das propriedades espaciais do som encontra-se na maior sala desta exposição: The Forty Part Motet (2001). Para esta obra, a dupla gravou “Spem in Alium” de Thomas Tallis, uma obra polifónica de 1573 que é reproduzida dentro de um coro circular de colunas que ocupam os lugares dos cantores. Ao percorrer o perímetro da instalação, experimentamos as diferentes texturas sonoras que emanam individualmente de cada uma das colunas, às quais corresponde uma voz distinta do coro.

 

 

The Forty Part Motet, Janet Cardiff & George Bures Miller. 'A Fábrica das Sombras', Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Pedro Vaz

 

Ganhando vários prémios ao longo dos últimos anos, destacam-se os Prémio Speciale e Prémio Benesse em 2001 enquanto artistas representantes do Canadá na 49ª Bienal de Veneza; e mais recentemente, o Prémio Wilhelm Lehmbruck atribuído em 2020 pela sua influência escultórica para o paradigma contemporâneo das artes plásticas. Em 2023, a dupla inaugurou o Cardiff Miller Art Warehouse que, situado em Enderby, BC, é um espaço utilizado exclusivamente para a exposição permanente do seu trabalho multimédia.

A sua obra procura a criação de espaços liminares para a exploração da modulação do fragmento, a sobreposição, recuperando muitas vezes a dinâmica do “cadáver esquisito” recuperado da estética surrealista na qual as obras transparecem o seu processo de criação, assim como oferecem novas amplitudes da mesma obra. Ou seja: as suas obras convidam-se a participar de um fenómeno de abertura estética na qual, estruturalmente, as obras convidam à exploração de perspetivas diferentes, da criação de uma relação física com a obra, da ativação de dispositivos que alteram a ambiência da obra pela sua flexibilidade audiovisual da sua estrutura.

Nesta que é a primeira exposição da dupla canadiana em Portugal, com a curadoria do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), é-nos mostrada uma retrospetiva selecionada das quais constam vídeos, instalações interativas, desenhos, e até obras sonoras a partir das quais mapeamos a exposição e nos aproximamos do jogo de sombras invisíveis quanto físicas a que se propõe a exposição e à qual se deve o nome da mesma. Umas obras convidam o visitante, outras mantêm a sua distância para se metamorfosearem com um espaço que preza por uma monumentalidade caraterizada por uma carga de matriz religiosa e militar que advêm da história do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, assim como do seu abandono prévio à sua utilização enquanto espaço expositivo. Há obras que convidam o olhar, e outras o corpo, e assim a exploração do visitante faz-se multiangular: o som ensina-nos a perspetivar o espaço, e dele surge uma nova perspetiva para diagramar/habitar o invisível, e as sombras.

 

Imbalance.6 (Jump), George Bures Miller, 1998. Da série «Simple Experiments in Aerodynamics», 1998. Vista da exposição Janet Cardiff & George Bures Miller: A Fábrica das Sombras, Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, 2025. © Jorge das Neves

 

O elemento tecnológico é colocado em jogo em várias das obras expostas. A utilização de ferramentas cinéticas nas duas obras da série Imbalance apresentadas, nas quais os elementos escultóricos se tornam extensões estetizantes das videoperformances integradas nas obras, harmonizando o movimento do corpo filmado com a movimentação programada dos objetos como é exemplo em Imbalance.6 (Jump) (1998) onde a própria televisão onde é projetado o vídeo se move de acordo com as ações do corpo no vídeo. Outro elemento de tecnologia presente na exposição é a de sensores na composição das instalações site-responsive nos quais o uso da tecnologia procura o ultrasensorial e a exploração ativa do visitante como The Cabinet of Curiousness (2010), uma instalação na qual a ideia arquivística agregada à imagem do armário ganha vida à medida que o visitante abre e fecha as suas gavetas das quais saem sons enquanto permanecem abertas, conferindo ao visitante uma experiência de modulação narrativa, de storytelling participativo no qual as memórias do espaço do mosteiro encontram os arquivos sonoros de Janet e Cardiff para criar sobreposições sonoras onde se confundem e agregam o diálogo, o canto, recortes radiofónicos, máquinas e animais.

Existem nesta exposição outras propostas mais contemplativas como a instalação sonora Counting (1-1000) (2004-2025), que localizada na zona exterior do Mosteiro, convida o visitante a um breve exercício peripatético no qual podemos seguir um caminho por entre arbustos, levando a uma área remota onde um megafone colocado a uma grande altitude transmite uma contagem sussurrada de 1 até 1000, lembrando o visitante da sua condição cronológica e da familiaridade inerente à aceitação da mesma.

 

Counting (1-1000) (2004–2025), Janet Cardiff & George Bures Miller, Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, 2025. © Pedro Vaz

 

Outra das obras mais reflexivas da exposição é House Burning (2001): uma luz ao fundo de corredor na qual contemplamos um incêndio supervisionado de uma casa pertencente à família de Janet, que juntamente com sirenes e crepitações, arde lentamente e distante do visitante. Assim, diante da consumação do edifício pelo fogo, há uma reflexão coletiva pela qual se reflete uma sensação de impotência, e respeito pelo poder violento e misterioso do fogo, que vai deste o trauma de tragédias passadas pelo qual a obra reflete uma consciencialização para a prevenção de desastres de natureza incendiária, assim como simultaneamente atinge um pensamento de renovação e desconhecimento que nascem da incineração de um pensamento ou de um espaço, para dar lugar a outro.

No âmbito do histórico das bienais e exposições individuais curadas pelo CAPC no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, destaca-se nesta exposição a obra Blue Hawaii Bar (2007) cuja proposta expositiva tornou acessível ao público o espaço da cisterna do mosteiro pela primeira vez.

 

Blue Hawaii Bar (2007), Janet Cardiff & George Bures Miller, Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, 2025. © Pedro Vaz

 

Com esta obra, descemos ao antigo reservatório de água para explorar um bar onde a água chega aos tornozelos, rodeado por uma acústica envolvente pela qual escutamos Blue Velvet ressoando no jogo entre as luzes coloridas da instalação, e a escuridão do lugar, que se torna palco para uma experiência Lynchiana de ambientação invulgar por um espaço originalmente criado para não ser habitado por pessoas, mas por água, quase como um convite para coabitar a arquitetura, a humidade, o frio e o vazio do lugar, na qual a obra se torna peça central para esse convívio entre o visitante e o inanimado.

A exposição “A Fábrica das Sombras” compõe um exercício de perspetiva e reflexão, no qual os espaços siderais, do sonho e da memória, se encontram pelos corredores deste Mosteiro do século XVII através da sombra, de imagens camufladas pelo desenho da realidade como a conhecemos. Uma chamada de atenção delicada do quanto aquilo que nos esquecemos nos acompanha sorrateiramente numa luta harmoniosa entre a condição do “estar com” e “olhar para”. Aqui, no meio da graciosidade e audácia das obras expostas, o visitante torna-se intermediário de um exercício de reorganização de fragmentos que podem ser recordações ou pontuações visíveis no mundo, e ainda assim fazerem parte da sombra, ou até sê-la totalmente, mesmo que por breves instantes.

 

Janet Cardiff & George Bures Miller: A Fábrica das Sombras está em exposição no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra até 5 de Julho de 2025, de quarta a domingo, das 11h às 19h com entrada livre.
Anozero - Bienal de Coimbra é uma iniciativa proposta em 2015 pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, organizada em conjunto com a Câmara Municipal de Coimbra e a Universidade de Coimbra.

 

 

 


Pedro Vaz
Começou desde 2014, em Coimbra, a organizar exposições e performances. Completou entre 2013 e 2018 a Licenciatura e Mestrado em Estudos Artísticos pela FLUC. Atualmente é doutorando em Artes e Mediações pela FCSH da Universidade NOVA, e integra o laboratório IN2Past enquanto investigador do grupo Museum Studies do Instituto de História de arte da FCSH. A sua investigação doutoral beneficia de bolsa FCT, e conta com a parceria do museu MAAT enquanto instituição coorientadora do projeto.



PEDRO VAZ