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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Lebohang Kganye, Setupung sa kwana hae II, 2013. Impressão a jacto de tinta. © Lebohang Kganye, cortesia AFRONOVA Gallery, Johannesbourg


Kapwani Kiwanga, Praxes of a Dialectical Dialect, 2012. Vídeo, 20'. © KAPWANI KIWANGA / Adagp, Paris, 2021


Gabrielle Goliath, Roulette, 2012. Instalação, © Cortesia da artista e Goodman Gallery


Reinata Sadimba, Sans titre, 2019. Cerâmica e grafite. © Reinata Sadimba / Foto: Perve Galeria


Kudzanai-Violet Hwami, Newtown, 2019. Óleo sobre tela, 180 x 120 cm. © Kudzanai-Violet Hwami / Foto: Andy Keate


Senzeni Marasela, Waiting for Gebane, 2013-2019. Instalação. © Senzeni Marasela e AFRONOVA GALLERY / Foto: Nico Krijno,


Keyezua, The Power of My Hands, 2015. Tapeçaria de cabelo sintético, 200 x 300 cm. © Keyezua, cortesia MOVART Gallery


Portia Zvavahera, Kubuda mudumbu Rinerima (Rebirth from the Dark Womb), 2019. Óleo sobre tela. © Portia Zvavahera, cortesia Stevenson, Cape Town and Johannesburg / Foto: Mario Todeschini

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ARQUIVO:


COLECTIVA

THE POWER OF MY HANDS. AFRIQUE(S) : ARTISTES FEMMES




MUSÉE D’ART MODERNE DE LA VILLE DE PARIS
11, avenue du Président Wilson
75116 Paris

19 MAI - 22 AGO 2021


 

Uma outra exposição de mulheres artistas, desta vez no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris (até 22 de agosto). Cerca de vinte artistas, a maioria da África do Sul e da Nigéria, apresentadas por duas curadores, uma das quais angolana, Suzana Sousa; da minha parte, só conhecia três das artistas, Lebohang Kganye e as suas fotografias duplicando a sua mãe (e, aqui, também a personagem do seu avô), Kapwani Kiwanga (recentemente prémio Duchamp, com o vídeo de um duelo silencioso entre duas mulheres cobrindo-se com tecidos tradicionais), e Grace Ndiritu (se bem que há mais de 15 anos o seu trabalho se centrava em revelar o seu próprio corpo, mudou drasticamente em 2012, tornando-se mais espiritual e também mais formalista). Como em França se conhecem apenas os artistas africanos das ex-colónias, com poucas exceções, estas artistas são portanto descobertas, que no entanto, colocam algumas questões. Em primeiro lugar, a ênfase é colocada na pertença das artistas ao continente africano como um todo, sem individualizar as culturas específicas de cada artista, tanto as das suas origens como as herdadas do colonialismo; todas essas diferenças não são explicitadas e parecem ser apagadas aqui. Estou longe de ser um especialista no assunto, mas imagino que as diferenças históricas entre um ugandês e um nigeriano devam ser tão grandes quanto entre um grego e um norueguês que fossem apresentados juntos numa exposição de arte europeia; para mais, ser oriundo de um país de apartheid ou de uma colónia portuguesa também molda diferentes personalidades. Mas em nenhum lugar isso é explicitado na exposição. A minha segunda surpresa vem do facto de que se a maioria das artistas liga muito bem as suas raízes culturais e a sua pertença ao mundo contemporâneo, não é o caso para todas. Assim, a peça de Gabrielle Goliath, que denuncia os feminicídios ao fazer soar periodicamente detonações de armas de fogo, poderia vir de qualquer país do mundo; a sua única "africanidade" é que a frequência das detonações corresponde à dos feminicídios no seu país ... Assunto gravíssimo, mas realização um pouco fraca.

 

Mas a maioria das peças são, pelo contrário, intrigantes e fascinantes. Tudo gira em torno do corpo da mulher, da sua afirmação, da sua emancipação; todas, ou quase todas, são subtis e jogam mais com metáforas que com uma afirmação militante básica. Começamos com uma magnífica instalação da sul-africana Buhlebezwe Siwani, uma obra mágica onde tranças de lã colorida navegam sobre a parede até ao tecto, enquadrando duas projeções de desenhos de uma mulher em frente ao mar. Sendo uma curandeira tradicional, a artista incorpora aqui as suas orientações espirituais, o seu sentido da sua comunidade, o seu dom de apaziguamento (e a sua rejeição do feminismo branco). Podemos permanecer muito tempo diante desta instalação, e deixar-nos levar, meditar, sonhar. Mais à frente, a moçambicana Reinata Sadimba (nascida em 1945) mostra cerâmicas antropomórficas escarificadas, de mulheres grávidas, partos, mães, toda uma afirmação da sua criatividade face aos constrangimentos culturais do seu povo.

 

Wura-Natasha Ogunji, Will I still carry water when I am a dead woman?, 2013
Vidéo, 11' 57'' | © Wura-Natasha OGUNJI / Photo Ema Edosio

 

A nigeriana Wura-Natasha Ogunji propõe um vídeo no qual sete mulheres em trajes tradicionais cobrindo também o rosto transportam jerricans de água pelas ruas da cidade, alguns como balas de canhão amarradas aos tornozelos; os transeuntes, espantados, observam, até que uma jovem caminhe com uma verdadeira carga sobre a cabeça. Uma performance simples, mas poderosa.

Com a instalação de Siwani, com a qual tem ressonâncias, a peça mais impressionante para mim será aquela que deu nome à exposição, o Poder das Minhas Mãos, da angolana Keyezua: de longe, duas tapeçarias pretas lado a lado; mais próximo, uma matéria irregular, flutuante, abundante, toda uma paisagem; de muito perto, uma tecelagem artesanal de cabelos (sintéticos) de mulheres africanas, tranças, rastas, massas crespas. Uma feminilidade discreta exala desta peça; é necessário resistir ao impulso irresistível de mergulhar a mão nessa massa quase viva. Os cabelos no lugar do corpo, o sintético no lugar do real, as identidades múltiplas no lugar de uma feminilidade essencializada. Às cores cintilantes e mágicas de Siwani responde a escuridão brilhante e radical de Keyezua. Noutro local do Museu, na curva de um corredor, deparamo-nos com uma série de fotografias do nigeriano J.D. ‘Okhai Ojeikere: uma outra maneira de afirmar o poder político e erótico dos penteados africanos.

Nesta exposição, todas as obras ou quase todas combinam o íntimo com o social, o pessoal com o político, a narrativa com a forma, a ancoragem na cultura local com o estatuto de cidadã do mundo, a feminilidade e a negritude com a definição de uma identidade complexa. Só lamento a ausência de Grada Kilomba, cujo discurso teria sido muito mais pertinente, tanto na exposição quanto nos ensaios do catálogo. Este inclui também notas sobre cada artista, com um questionário um tanto simplista (Como se tornou uma artista? Quem a influenciou? Considera-se uma artista feminista? Quais são os seus projetos?). 

 



MARC LENOT