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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Erwin Wurm, Ego and Super Ego (2007). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Erwin Wurm, Director Kneeling (serie As Bolsas) (2023). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Constança Babo


Erwin Wurm, série Dreamer (2024). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Erwin Wurm, série Neuroses (2024). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Erwin Wurm, Self-Portrait as Pickles(2008). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo

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ARQUIVO:


ERWIN WURM

ERWIN WURM. A 70TH-BIRTHDAY RETROSPECTIVE




ALBERTINA MODERN
Karlsplatz 5
1010 Viena

13 SET - 09 MAR 2025

O universo do absurdo de Erwin Wurm, no Albertina Modern

 

 


Queria estudar pintura, mas, por coincidência, tornei-me escultor.
Então, comecei a pensar sobre o que a escultura poderia ser hoje.
Isso conduziu-me à pesquisa do vazio, da virtualidade, do volume,
qualidades básicas da escultura.

Erwin Wurm

 

 

Erwin Wurm, artista austríaco reconhecido e apreciado internacionalmente, é celebrado na ocasião do seu 70º aniversário pelo Albertina Modern, em Viena, com uma retrospetiva abrangente composta por obras datadas de 1980 a 2024, algumas das quais foram concebidas propositadamente para a ocasião. Assim se expõe o que consiste num longo e notável percurso artístico, a visitar até ao dia 9 de março de 2025.

Tendo-se dirigido à University of Applied Arts Vienna para estudar pintura, foi encaminhado para a escultura, desvio este que resultou na transfiguração do pictórico em “Flat Sculptures” (esculturas planas) e na tridimensionalidade da cor e da linguagem escrita. O desenho manteve-se fundamental para Wurm, surgindo sob os mais diversos modos e formatos, com o uso de lápis, cera, esferográfica e aguarela.

Deste modo, o artista cedo combinou a pintura e a escultura, sendo que mesmo quando dedicado a explorar a segunda prática, com materiais tais como a madeira e o metal, cobria as superfícies com layers de tinta, concedendo-lhes renovadas visualidade e plasticidade. É, pois, sobretudo sob a forma de esculturas, mas também de alguns desenhos, instruções, vídeos e fotografias, que Erwin Wurm, entre a abstração e a figuração, convida o público a refletir sobre os paradoxos e absurdos do mundo contemporâneo.

Como se explica na exposição do Albertina Modern, o processo criativo de Wurm consiste em materializar, em objetos, as coisas mentais. Assim o personifica “Mind Bubble Walking” (2024), obra composta por um par de pernas onde assenta um balão representativo do pensamento, tal como é próprio do universo da banda desenhada. O artista explora, justamente, a mente humana bem como as principais questões que o preocupam e ocupam: os confrontos entre o sujeito e o mundo, entre a imaginação e o real.

 

Erwin Wurm, Mind Bubble Walking, 2024. © Erwin Wurm / Bildrecht, Wien 2024. Foto: Markus Gradwohl

 

É transversal à obra de Wurm a problematização da atualidade e do que constitui o contemporâneo. Entre o capitalismo, a moda, a educação, ou o self, o artista convoca e discute os mais diversos domínios da contemporaneidade. Um descapotável vermelho, “Fat Convertible” (2005), simboliza a ganância, o excesso e o fetichismo da mercadoria na sociedade atual. Já uma escola rural, “School” (2024), expõe e condena a limitação e a opressão do pensamento burguês e a determinação de normas e convenções sociais por parte da religião.

Testemunha-se, então, que a escultura serve a Wurm enquanto ferramenta de questionamento e medida de avaliação do presente. Simultaneamente, o artista expande essa que é uma das mais tradicionais práticas artísticas. Através de diferentes abordagens e linguagens, atribui novos sentidos à escultura, intervindo tanto ao nível da sua estética formal quanto do seu conteúdo.

Sob este desígnio, de estender os limites do escultórico, Wurm averigua até que ponto o volume, a massa, o peso, o tamanho, a forma e o espaço podem ser reconfigurados. Para tal, recorre sobretudo a roupas, na medida em que peça a peça, camada a camada, alteram-se quaisquer proporções e escalas sem interferir com a base, o corpo.

Já numa redução mais radical do volume visível, operam as “Dust Sculptures”, nas quais somente se detetam contornos de objetos, inscritos por poeiras. É convocada, deste modo, a efemeridade do objeto artístico e discutidos os lugares do artista e da obra de arte.

O mesmo é problematizado com as “One Minute Sculptures”, que emergem de instruções fornecidas ao público. Este trabalho segue-se ao projeto “Do it”, de Hans Ulrich Obrist, no qual Wurm participou em 1995 e cuja finalidade fora, precisamente, a disseminação de indicações para a produção de esculturas elementares, instigando uma ativa, participativa e interativa circulação da criação artística. Questiona, igualmente, a reprodutibilidade e, com ela relacionadas, a singularidade e a originalidade da obra de arte.

 

Erwin Wurm, Psyche (As You Like It), 2024. © Erwin Wurm / Bildrecht, Vienna 2024. Foto: Markus Gradwohl

 

Com efeito, em Wurm destaca-se o modo como as fronteiras entre escultura e pintura se tornam esbatidas e diluídas, e como os objetos conquistam uma certa performatividade na medida em que, embora fixos, são dotados de um certo movimento, são vivos. Tome-se como exemplo a série “As bolsas”, com pernas longas e finas que parecem deslocar-se, ajoelhar-se e posar. Conceptualmente, remetem para o quotidiano dos dias de hoje, apontando-lhe as suas excentricidades e banalidades. “Director Kneeling”, por sua vez, desvaloriza um cargo social elevado e “Ego and Super Ego” (2007) surgem ridicularizados sob a forma de duas elipses tridimensionais anexadas e adornadas com uma camisola. 

Como se indica na exposição, Wurm subverte as percepções da realidade e questiona como se comportam os corpos e os espaços na esfera do absurdo, onde opera o paradoxal. Deste modo, a sua obra é tão crítica quanto humorística e um auto-retrato pode surgir sob a forma de um conjunto de pickles, “Self-Portrait as Pickles” (2008). Ao mesmo tempo, o pepino de conserva é representativo dos hábitos alimentares tradicionais austríacos e da cultura dos snacks incentivada pela indústria alimentar. Além disso, como o artista refere, "embora cada pepino seja individualmente diferente é imediatamente identificável como pepino, classificado enquanto tal, tal como um ser humano".

 

Erwin Wurm, Dreamer on Knees, 2024. Collection Guido Maria Kretschmer and Frank Mutters. © Erwin Wurm / Bildrecht, Vienna 2024. Foto: Markus Gradwohl
 


O humano é, sem dúvida, central na obra de Wurm, tanto como corpo físico, mesmo que somente discernível por superfícies e texturas de materiais, quanto como matéria mental. Relativas à mente, refiram-se as séries “Dreamer” e “Neuroses”, a última das quais remetendo para perturbações mentais tais como a ansiedade e sendo constituída por peças de roupa. Ocorre que, para Wurm, a roupa funciona como uma segunda pele, a dois níveis: por um lado, abriga o corpo físico e, por outro lado, protege o sujeito do mundo, como se de um escudo se tratasse. Subjacente está também a crítica ao lema "a roupa faz o homem".

Ora, embora podendo admitir-se a fragilidade dessa premissa, também é verdade que se poderá afirmar que “a obra faz o artista”. Observo isso mesmo em Erwin Wurm, cuja obra se traduz numa pertinente e arrojada produção, em simultaneidade com um atual, singular e distinto artista.

 

 


Constança Babo

(Porto, 1992) é crítica de arte e membro da AICA Portugal. É doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona, mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Realizou, igualmente, os cursos Curating New Media Art e Redefining Museums: Curatorial Theory and Practice for a New Era, no Node Center – Curatorial Studies Online, e Questions of Judgement, na Universität der Kunst Berlin. Foi research fellow no projeto internacional BEYOND MATTER, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e colaborou como investigadora no projeto MODINA, na Tallinn University. Também publica artigos científicos.



CONSTANÇA BABO