Links

PERSPETIVA ATUAL


Shoshana, Keyezua.


Shoshana, Keyezua.


Shoshana, Keyezua.

Outros artigos:

2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



UMA COR DE ROSA DIFERENTE - DE KEYEZUA À RELAÇÃO ENTRE ARTE E GÉNERO EM ANGOLA



ADRIANO MIXINGE

2016-11-08




"Imbamba ya muhatu/Coisas de mulher" é o título da exposição de duas artistas, a angolana Keyezua e a nigeriana Wura-Natasha Ogunji, com curadoria de Suzana Sousa que esteve, durante todo o passado mês de Outubro, no Camões/Centro Cultural Português, em Luanda.

Desfrutar da vernissage e entender a exposição foi, para mim, um prazer exigente. Para além das cinco obras expostas, uma obra subtil, em forma de performance da artista, acabou sendo a sexta peça da exposição: a artista fez-se notar logo à chegada, pela sua atitude, pelos os seus gestos, pela sua maneira de vestir, pelo seu penteado e por ter um guarda-costas que se manteve sempre atrás dela.

Mas, foi ouvir Keyezua a proferir, na abertura, umas palavras pedindo aos espectadores que não temessem perguntar-lhe sobre os detalhes das obras expostas para nos darmos conta que não era só pela aparência que a artista ia ficar.

Vamos por partes: cheguei cedo ao lugar da mostra, estavam duas pessoas à espera mesmo na porta. De repente, a curadora saiu, no mesmo momento em que um homem alto e forte (o cúmplice da performance de Keyezua) aproximou-se para perguntar se era mesmo ali o lugar da vernissage.

O que encontramos dentro do Instituto Camões, era a primeira vez que acontecia: a principal sala de exposições está toda pintada e tem um élan côr de rosa que se reflete nos tectos em branco como se fosse e estivéssemos, segundo a curadora Suzana Sousa, num quarto de mulher.

"Pink is the new black" foi a primeira coisa que pensei, enquanto ia entrando e reparei que, na outra sala, mesmo ao lado, ainda está patente a exposição "Out of box" de fotografias de Bruno Fonseca.

À entrada entregaram-nos um folheto em que aparece uma pequena introdução, a sinopse dos vídeos e a descrição dos principais temas que as obras tratam. No entanto, chamou-nos imediatamente a atenção o perfil da artista angolana que aparece no último páragrafo do folheto, em que lemos o que Keyezua, artista angolana licenciada pela Real Academia de Artes em Haia, Holanda, pensa:

"Desde pequena fui a criança desobediente em casa, mudando as coisas para mostrar os meus sentimentos de forma a provocar reacções. É algo que não desapareceu com os anos, cresceu em mim e tornei-me alguém que interage com questões humanas expondo-as para criar espaços de debate ou para uma segunda opinião da minha audiência. A minha arte entre o expressionismo, surrealismo e pan-africanismo. Gosto de definir-me como contadora de histórias".

Assim, entrei na sala da exposição ansioso em saber que histórias iria ver e já sob o fascínio de uma côr de rosa intensa e poderosa, desde muito cedo, reparei que é dentro de oito caixas - quatro écrans de televisão e quatro caixas de madeira - que estão colocadas as histórias que, nunca melhor dito, vimos contar.

No núcleo e centro da exposição está uma figura de mulher com os seios de fora, na obra "Shoshana" da artista angolana Keyezua, reivindicando, como bem o disse a curadora Suzana Sousa na vernissage, "o corpo como instrumento político". Mas, isso não é tudo: nesta mesma obra, unidos num tenso jogo de significantes, estão as colagens das mulheres com rostro de bouquet de rosa, os seios de fora e essas mãos, no lugar dos ventres, como se algo ou alguém estivesse a orar, o leitmotiv que expressa com uma certa ironia a concepção de partes sagradas do corpo e, também, o acto de pedir piedade tão caro aos mártires cristãos e aqueles que são injustamente humilhados.

Numa outra obra, que faz lembrar o trabalho da keniana Ingrid Mwangi e que se intitula "Hair is power" (O cabelo é poder) ou, como Keyezua chamou "O cabelo é cultura", nos treze minutos que ela demora, aparece uma mulher com braços fortes e axilas bem afeitadas, a fazer uma trança de mão, sobre as quais cose papéis de qualquer coisa que poderia ser uma biblia ou um diccionário.

Entretanto, durante a vernissage, vestido todo de negro, o homem grandulhão (o guarda-costas, cúmplice e, talvez, actor) esteve sempre por trás de Keyezua, protegendo o corpo dela, origem das obras de arte, e a artista foi falando com os espectadores o tempo todo, ouvindo o que eles tinham para dizer. Apercebendo-nos daquela mostra de poder, perguntamos à artista porque é que ela andava com guarda-costas? Ela disse-nos literalmente: "eu tenho guarda-costas porque sou a Keyezua".

O que queria significar com o gesto dela é que a mulher e a artista também podem ter poder e, portanto, simplesmente podiam ser poderosas sem necessidade de dar mais qualquer explicação.

Entretanto, “Imbamba ya muhatu/Coisa de mulher” é uma exposição colectiva e porconseguinte, Keyezua expõe com a artista nigeriana Wura-Natasha Ogunji. Mas, quem é Wura-Natasha Ogunji? Como podemos ler no folheto da exposição - e transcrevo:

"Wura-Natasha Ogunji" é conhecida pelos seus videos em que usa o seu próprio corpo para explorar noções de movimento e de impressão em água, terra e ar. A sua mais recente série de performances intitulada "Mo gbo mo branch/I heard and branched myself into the party" explora a presença da mulher no espaço público em Lagos, Nigéria.

Ogunji já foi congratulada com uma série de prémios, incluindo o John Simon Guggenheim Memorial Foundation Fellowship (2012), apoios do Idea Fund, Houston (2010) e do Pollock-Krasner Foundation (2005).

Ogunji já apresentou o seu trabalho no Centro de Arte Contemporânea (Lagos), The Menil Collection (Houston) e a Fundação Pulitzer para as Artes (St. Louis). Licenciou-se em Antropologia pela Stanford University e Fotografia pela San Jose State University. Ela vive entre Austin e Lagos".

Na exposição “Imbamba ya muhatu/Coisas de mulher” estão três video-performances de Wura-Natasha Ogunji: “The epic crossings of an Ife head” (A épica travessia de uma cabeça de Ifé), “Belongings” (Travessias) e “Will I still carry water when I am a dead woman?”(Eu ainda carregarei água quando for uma mulher morta?) e tratam sobre três problemáticas do passado, do presente e do futuro dos africanos, nomeadamente, o trauma do tráfico de escravos através de “uma cabeça de Ifé que busca os seus descendentes nas Américas”, a emigração de africanos por “terra, mar e ar” e a presença da mulher em espaços públicos.

Enfim, apesar de serem apenas seis obras, quem esteve na vernissage terá dado conta que, qualquer coisa diferente está a acontecer no "mundo" da arte angolana e africana contemporâneas: um grupo de mulheres vem reivindicando igualdade e poder.

Sabendo que estamos muito longe da igualdade de géneros e que não acedem ao poder facilmente, as artistas e a curadora estão mais interessadas, porventura, em subverter os padrões existentes, acabando por estremecer os cimentos de um sistema artístico local, onde pouco ou nada parecia acontecer tendo artistas (mulheres) na vanguarda.

O facto das angolanas se terem unido à nigeriana (ou vice-versa) não é de somenos importância: a origem africana da cultura angolana e a relação dos artistas angolanos com outros artistas africanos constitui um dos atractivos da exposição e um estimulo a outras iniciativas semelhantes, uma coisa pouco frequente entre nós.

Numa interessante colaboração artística, desligadas de qualquer organização política de mulheres, provenientes de países diferentes, as artistas e a curadora abordam o problema dos direitos da mulher para além da noção superficial de decoro e do "politicamente correcto".

Sempre com uma postura feminista consciente e reflexiva, interpelando drasticamente os códigos de masculinidade imperantes, elas questionam a hegemonia daquele género para exaltar a liberdade individual, esfarelar a falsa dicotomia entre a côr de rosa e o significado único, com um discurso artístico e museográfico coerentes.

Como resultado, dá para ver que com "Imbamba ya muhatu/Coisas de mulheres", Keyezua e Wura-Natasha Ogunji criam novas relações e significados que põem no avesso (tentam rebentar) as noções de identidade, de "sexo débil" e de submissão, contestam a subalternização das mulheres artistas.

Entretanto, ainda está por fazer um estudo rigoroso sobre a relação entre arte moderna e contemporânea e género em Angola. Sentimos a falta da sistematização do lugar e importância das artistas, curadoras e críticas de arte que tenham trabalhado em prol do desenvolvimento das artes. Temos que admitir que este vazio tem provocado que tenhamos muita dificuldade em calibrar a importância das artistas no domínio das artes plásticas, já seja pelo menosprezo do mainstream que é, sobretudo, masculino, ou também pela fraca qualidade de um bom punhado de artistas, a maior parte das quais nunca conseguiu uma projecção internacional.

Uma série de nomes vêm à memória: Denise Toussaint, Helena Justino, Gabriela Veloso, Ema Brandão, Maria Angélica Taquelim, Maria Manta, Maria Santa Godinho, Marilia Duarte, Ana de Sousa, Marinete Borges e Susana Rebocho, a maior parte delas sem que se conheça realmente a dimensão da obra artística; mas, também, Filomena Coquenão, Dilia Fraguito, Marcela Costa, Laly Salvador, Isabel Baptista, Maria Belmira, Zizi Ferreira, Kiana, Yana Van-Dúnem, Patricia Cardoso, Fineza Teta até chegar à Keyezua, só para citar alguns exemplos, formam parte de um mundo pouco estudado e, portanto, desconhecido.

 


Adriano Mixinge
Historiador e Crítico de Arte