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PEDRO CABRITA REISATELIERMITRA – POLO DE INOVAÇÃO SOCIAL Rua do Açúcar 1-15rnBeco da Mitra 1950-204 Marvila, Lisboa 19 MAI - 28 JUL 2024 “La Folie Cabrita”
O artista português Pedro Cabrita Reis (que teve algumas exposições em França: Toulon, Marselha, Tulherias) é um personagem, como se diz (mesmo os não-lusófonos perceberão nesta entrevista). Acabou de organizar num edifício abandonado (um antigo asilo, que quase poderíamos também chamar “folie”) uma retrospectiva - enxurrada da sua obra em 3.000 metros quadrados com 1.500 obras (até 28 de julho). Nenhuma cronologia, nenhuma temática, nenhuma legenda (por isso, não há legendas nas imagens deste artigo), vagamos de nariz no ar por oito pavilhões onde coabitam esculturas, instalações, telas, desenhos, aquarelas e algumas fotografias; obras da sua adolescência, e outras criadas na semana passada, lado a lado. Mais do que um Atelier (título dado à exposição), pensamos numa reserva particularmente desorganizada.
© PCR Studio / João Ferrand
Não procure tentar fazer uma leitura estética, e muito menos historiadora, há que deixar-se envolver pela folia desordenada do lugar, deixando-se embalar ao gosto das salas pela magia das aproximações. É uma montagem gigantesca, uma composição frenética de diversidades e de bricolages. Lá encontramos, numa lista louca, uma barragem para repintar, uma mesa com os pés moldados em betão (sou o único a pensar na lupara bianca?), um nível de bolha partido evidentemente, pinturas kitsch meio ocultadas por pintura industrial. Cabrita, homem de energia e de paixão, é obcecado pelo seu autorretrato em pintura, dezenas deles aqui, aliás mais interessantes que as suas “paisagens” coloridas. O mais surpreendente são as suas grandes esculturas feitas de madeira, de vidro, de néons, de metal, materiais reciclados montados com arte e construindo geometrias rigorosas e poéticas. Mas quando vimos (como em Toulon) a forma como o artista sabe ocupar um espaço, adaptar-se, insinuar-se, dinamitá-lo por dentro de certa forma, sentimos como uma falha aqui, uma descontextualização, diante destas obras desenraizadas, apresentadas aqui, não como partes de um todo construído, pensado e complexo, mas simplesmente como “obras de arte” expostas.
© PCR Studio / João Ferrand
A sua maquete das Três Graças das Tulherias como a sua floresta de varetas de gesso ou a sua divisória mural de pneus parecem testemunhar uma procura constante de um desequilíbrio das formas, de uma destruição da harmonia, e é o mais conseguido neste conjunto díspar e prolífico. Saímos atordoados, admirados perante esta energia, e sem saber muito o que pensar. Nenhuma dúvida que seja, aliás, esse o objectivo do artista... No catálogo, no meio de textos muito (demasiado?) pessoais, apreciei o olhar de Penelope Curtis sobre este “Atelier”.
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