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ROLAND FISCHERUnfOLdeD![]() GALERIA PRESENÇA (PORTO) Rua Miguel Bombarda, 570 4050-379 Porto 01 JUL - 16 SET 2023 ![]() ![]()
Roland Fisher (1958) é um dos mais relevantes fotógrafos contemporâneos alemães. Considerado um dos grandes avant-garde da fotografia da década de 80, foi dos precursores dos tableaux, fotografias que se aproximam da pintura uma vez que transgridem o registo do real, situando-se entre este último e a ficção. Foi também pioneiro em retratos de grande formato, dos quais poderão destacar-se as séries Nuns and Mongs e Face to Face. Atualmente, vive entre Munique e Pequim, mas o seu trabalho concretiza-se sobretudo em viagem, na procura de edifícios cuja arquitetura sobressaia a nível formal e estético. Como tal, é recorrente trabalhar a partir de obras de grandes figuras, tais como Frank Gehry, nomeadamente, do Disney Concert Hall, em Los Angeles. A arquitetura é, justamente, um dos temas privilegiados de Fisher, como se testemunha na atual exposição UnfOLDeD, na Galeria Presença, no Porto. Nesta, exibem-se exemplares de duas das séries mais relevantes do artista, Noew Architectures e Transhistorical Places, a primeira orientada para o real e a segunda para o domínio da fantasia. Em ambas, embora se reconheçam os edifícios apresentados, o olhar e a lente de Fisher procedem à sua recontextualização e reconfiguração. Em resultado, as construções reerguem-se, autónomas, independentes da sua finalidade e utilidade, e afirmam-se enquanto objetos de pura apreciação estética. Observe-se, como exemplo, a magnífica fotografia do Estádio de Beijing, Birds Nest, com a qual se inicia a exposição. Recorde-se, no enquadramento desta área da prática fotográfica, o trabalho do casal alemão Bernd e Hilla Becher que, precisamente, também no início dos anos 80, inauguraram um estilo inovador de fotografia de edificações, na sua maioria industriais, rapidamente disseminado na Alemanha. Roland Fisher, por sua vez, tem essa singularidade de se mover entre o realismo e o abstracionismo. Enquanto tal, o seu trabalho não se organiza de acordo com as normas e os princípios do rigoroso registo fotográfico e, pelo contrário, opera na captura do que não é imediatamente percetível e do que uma dada construção é para além da sua funcionalidade como edifício. Como se explica na folha de sala, o intuito do artista detém-se “na representação pictórica da natureza múltipla de cada espaço – exterior e interior, fechado ou desdobrado”. Esta ideia de desdobramento, de onde decorre o título da exposição, apela à desconstrução da construção, isto é, à sua fragmentação no âmbito de novas perspetivas, leituras e, por fim, experiências. Em semelhança à prática cubista, Fisher procura reunir e conciliar, num só frame, vários pontos de vista, processo através do qual permite que o objeto representado se revele na sua plenitude. Do Cubismo poderá igualmente mencionar-se a convergência da figura e do fundo, a sua dissolução um no outro, o que pode ocasionar um admirável resultado visual, tal como ocorre na fotografia da Casa das Artes de Miranda do Corvo. Das principais referências do artista, indique-se a arquitetura brutalista que, tendo emergido por volta dos anos 50, na época do pós-guerra, caracteriza-se por construções maciças, rígida geometria e o predominante uso do betão. Este apreço de Fisher pelo geométrico conjuga-se com o seu gosto pelo abstrato, encontrando, assim, na Arte Concreta uma das suas influências. Várias das suas peças remetem, ainda, para o Construtivismo, movimento artístico cuja principal referência é, precisamente, a arquitetura, e de acordo com o qual a obra de arte é concebida como construção ao invés de representação. Tome-se como exemplo a peça Rio, na qual o artista sobrepôs uma layer de padrão e cor à fotografia de tons de cinza de um edifício brutalista. Deste modo, faz uso das técnicas de manipulação digital, em contraste com o seu restante trabalho, livre de edições e cuja base é a luz natural. Um exemplar desse corpo de trabalho mais orgânico é a extraordinária fotografia do Holon Design Museum, em Tel Aviv, uma das mais belas e impressionantes peças que Fisher selecionou para a atual exposição. Ocupa e habita a parede que a expõe, cativando e absorvendo o olhar com uma permanência e uma frequência pulsantes que reverberam no espaço. Contesta a conceção da fotografia enquanto técnica de congelamento e fixação, pois nela imperam movimento, fluxo e ritmo. Em toda a sua obra Fisher desafia o espaço, a representação fotográfica e a perceção visual. As suas capturas capturam-nos, emitindo uma força de atração quase tangível. A contemplação opera-se entre o afastamento, necessário por relação à ampla escala da maioria das obras, e uma simultânea, de certo modo paradoxal, urgência pela aproximação, no sentido de uma profunda imersão. Por fim, sublinhe-se que as fotografias de Roland Fisher não se encerram nas dimensões da lente, da câmara e da moldura. Transcendem os limites que as retêm. De igual modo, esta exposição trespassa a galeria, com uma potência que ecoa tanto no espaço, quanto no tempo. Com efeito, tratar-se-á de uma das mais notáveis mostras da Galeria Presença que, assim, afirma o seu posicionamento de liderança não somente na Rua Miguel Bombarda e na cidade do Porto, como a nível nacional. A visitar, até 16 de setembro.
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