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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Explosão 1, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 27 x 40,5 cm. © Manuela Marques


Ilha 4, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 48 x 64 cm. © Manuela Marques


Ponto de fuga, 2019, impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 110 x 165 cm. © Manuela Marques


Transportadora 3, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 56 x 84 cm. © Manuela Marques


Superfícies sensíveis, 2019. Cada 112x150cm. © Marc Lenot


Onda 3, 2022. 50x75cm. © Manuela Marques


Topografias 1-9, 2022. Cada 65×97.5cm. © Marc Lenot


Sísmico, 2019. 120x70cm. © Manuela Marques

Outras exposições actuais:

ALLORA & CALZADILLA

ENTELECHY


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
CONSTANÇA BABO

XANA

A PASSAGEM


Galeria TREM, Faro
MIRIAN TAVARES

JOSÉ PEDRO CROFT

ET SIC IN INFINITUM


Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

PEDRO VALDEZ CARDOSO

PAGAN DAYS


NO NO, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

ERNEST COLE

HOUSE OF BONDAGE


Foam Photography Museum, Amesterdão
MARC LENOT

JOÃO JACINTO

BAIXO ELÉTRICO


Galeria 111, Lisboa
CARLA CARBONE

TIAGO MADALENO

SALA DE FUMO


Museu Guerra Junqueiro, Porto
SANDRA SILVA

RUDI BRITO

HORA DE FERRO


Balcony, Lisboa
CATARINA REAL

DUARTE ÁGUAS

CONTOS ERÓTICOS


Óocioo, Porto
FILIPA ALMEIDA

RUI ALGARVIO

A PONTE, O CAMPANÁRIO, A CASA E O BARQUEIRO


Centro Cultural de Cascais, Cascais
FÁTIMA LOPES CARDOSO

ARQUIVO:


MANUELA MARQUES

ECHOES OF NATURE




MNAC - MUSEU DO CHIADO
Rua Serpa Pinto, 4
1200-444 Lisboa

21 OUT - 29 JAN 2023

Manuela Marques, entre ecos da natureza e da cultura: materialidade fotográfica

 


Por certo a exposição de Manuela Marques no Museu do Chiado em Lisboa (até 29 de janeiro) intitula-se Ecos da Natureza; por certo mostra imagens de paisagens e de ambientes naturais em França, Portugal (Continente) e Açores; por certo podemos olhar para ela como uma reflexão sobre o conceito artístico de paisagem, sublime, romântico, natural; por certo podemos perceber uma atenção sustentada aos fenómenos telúricos, e em particular às erupções vulcânicas, e à magia atlântica. E este é de facto o ponto de partida da artista.

Mas parece que depois as imagens (ou em todo o caso a maioria delas) lhe escaparam e adquiriram a sua própria autonomia, o seu discurso independente, que se despojaram do seu argumento natural para se tornarem puros objectos culturais: esqueça o que representamos, dizem elas, não leia as legendas, contentai-vos em nos olharem fixamente, longamente, com atenção. Nós somos objectos, matéria, esculturas planas, composições de formas e de cores abstractas; não tentem decifrar-nos, “compreender-nos” e abandonai-vos à contemplação, à meditação. Este é um rasgão branco sobre um fundo preto: mas isso não basta para saboreá-lo, para desfrutar deste recorte de renda, desta inquietude sombria que devora a luz. É um lago de montanha, é, dizem-nos, uma ilha, uma parte de arquipélago, outras são vizinhas na parede, e claro evocamos o Atlântico e os Açores, mas é necessário? Sentem-se mais ricos, mais felizes em saber que esta fotografia foi pensada e construída assim?

Esta é uma forma perfeita, eterna, arcaica, podemos imaginar uma pedra na mão de um Neandertal, ou então um ídolo primitivo, um símbolo andrógino. A sua superfície é picotada, marcada, como traços de uma história desconhecida. E ficamos quase desiludidos de ler a legenda, Onda, e de perceber que é um jogo de luz sobre a areia à beira-mar: não que não seja também uma pista interessante, transporta-nos para uma fusão sensual de elementos, mas porque não é só isso, isso limita o meu olhar, a minha fantasia, afasta-me da forma pura para me constranger a uma única leitura.

Sísmico (2019) é um magma fusional onde formas indistintas se entrelaçam num abraço infernal, e fico feliz de não compreender nada, de não saber do que se trata (e de me abster de o perguntar à Manuela): eu não quero saber, eu quero somente mergulhar nessa imagem, nessa matéria ao mesmo tempo atraente e repulsiva, e deixá-la penetrar o meu corpo, o meu cérebro e as minhas entranhas (e, graças a Deus, ela chama-se Sísmico, o que não diz nada de preciso). Da mesma maneira, uma parede de imagens a cores, intitulada Superfícies Sensíveis, oferece ao olhar uma sinfonia visual complexa, que, podendo evocar a química dos fotogramas, derrota à vontade, e isso está muito bem assim.

 

Réplica 1, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 65 x 97,5 cm. © Manuela Marques

 

Banhamo-nos assim durante a exposição em sombras e reflexos, em brilhos e rupturas, percorrendo as fronteiras entre líquido e sólido, entre visível e escondido, entre explícito e misterioso. Confesso ter gostado menos das raras imagens mais anedóticas onde o humano aparece, as mãos estendidas para o céu ou uma cena verde à Friedrich. Mas, já há oito anos, eu privilegiei no seu trabalho o facto deste se encontrar “algures entre o real e a sua representação, ou melhor para além da representação”.

A exposição foi apresentada anteriormente no Havre e à Kerguéhennec. Belo catálogo (recebido da assessoria de imprensa): numa caixa, um livro que contém imagens de página inteira, com um índice separado contendo toda a série com títulos e dimensões, e um caderno trilíngue (francês, português, inglês) com um texto mais “natureza” de Léa Bismuth e um texto mais “cultura” da comissária portuguesa Emília Tavares.



MARC LENOT