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COLECTIVAEDIÇÃO LIMITADA. 66 FOTÓGRAFOS – 66 IMAGENS![]() GALERIA DE SANTA MARIA MAIOR R. da Madalena 147 1100-006 Lisboa 17 DEZ - 21 JAN 2023 ![]() ![]()
Walter Benjamin, “A obra de arte na época da sua possibilidade de reprodução técnica”
O princípio é nobre, mas o resultado uma incógnita. É como se a exposição Edição Limitada, que reúne 66 fotografias de 66 fotógrafos, fosse um laboratório experimental para gerar uma mudança que contribua para conquistar o estatuto de arte para a fotografia documental portuguesa, tornando-a, impreterivelmente, um objeto limitado e com aura, citando Walter Benjamim. Retirando-a das páginas de jornais e transportando-a para as galerias, pretende-se inverter a tendência de, segundo o coordenador da iniciativa, Tiago Miranda, “as galerias de arte e as coleções públicas virarem as costas ao fotojornalismo”. O mesmo estatuto de arte a que Henri Cartier-Bresson virou as costas, noutras geografias em que a fotografia é socialmente reconhecida desde o século passado. Quando, em 1952, o editor Richard L. Simon perguntou ao fotógrafo do instante decisivo o que pensava da fotografia artística em oposição à fotografia documental, Cartier-Bresson respondeu que a distinção não fazia sentido. “Penso que as fotografias são feitas para serem tiradas e reproduzidas para as massas, não para os colecionadores. Essa possibilidade de reprodução faz parte da força e do valor da ciência da fotografia” (2019, p.23). No caso do fotógrafo francês, a História fez das suas e colocou a obra de Henri Cartier-Bresson nas galerias. Organizada pela Associação CC11, pela Narrativa e pela Galeria Santa Maria Maior, a mostra ambiciona, precisamente, combater a ideia de que a fotografia do real não pode ser objeto de culto; nasce para recuperar muitas décadas perdidas e, à semelhança do que acontece noutros países, tentar conquistar para a fotografia documental uma posição de relevo no meio artístico. Como também explica o fotógrafo Tiago Miranda, “esta exposição colectiva de 66 fotojornalistas portugueses pretende ser uma nova proposta de entendimento sobre esse espaço comum e reclamar um direito tão antigo quanto a própria invenção da fotografia”.
© Rui Gaudêncio
Desde imagens praticamente inéditas a fotos que foram publicadas na imprensa ou premiadas em Festivais de Fotografia, Edição Limitada não é apenas a junção da eventual fotografia preferida de cada autor, a mais gráfica, icónica, poética ou considerada mais vendável pelo criador no mercado da arte. Acima de tudo, é um mosaico de olhares e de tendências que a fotografia documental portuguesa – maioritariamente com origem no fotojornalismo – tem seguido nos últimos anos, mas também é a cristalização de alguns fragmentos da memória do País e do mundo, resgatando os acontecimentos da sua natureza fugaz. Atendendo ao percurso profissional dos autores presentes na exposição, percebe-se que Edição Limitada é a confluência de diversas gerações de fotógrafos e, se for considerada a disparidade de valores atribuída a cada imagem, é o reflexo da autoperceção - certeira ou distorcida – que cada autor construiu do seu trabalho ou atividade. Apesar de, em alguns casos, Edição Limitada projetar autores já habituados às galerias e, como escreveu Emília Ferreira, diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), no texto de apresentação, muitos dos representantes nesta exposição verem “há muito as suas imagens expostas e estudadas nos espaços institucionais”, identificam-se também fotógrafos emergentes e que dão os primeiros passos no mundo da fotografia documental. Como justificou a organização no texto de apresentação: “A seleção foi feita partindo dos associados da CC11 e criando um pequeno, mas diverso grupo de fotojornalistas que propuseram cerca de 1/3 dos fotógrafos a integrar a coletiva. A diversidade deste grupo, na idade, género e círculo profissional teve como intuito encontrar novos valores dentro do fotojornalismo, que nem sempre são devidamente lembrados nestes acontecimentos.” Entre os nomes já habituados às galerias a que se referia Emília Ferreira, encontram-se Alexandre Almeida, Céu Guarda, Gonçalo Lobo Pinheiro, José Sarmento Matos ou Luísa Ferreira. Mas também os emblemáticos fotojornalistas Alfredo Cunha, António Pedro Ferreira e Horacio Villalobos, além dos fotógrafos da geração X Adriano Miranda, Ana Baião, Ana Brígida, Bruno Portela, Clara Azevedo, Daniel Rocha, Enric Vives-Rubio, Leonel de Castro, Luís Filipe Catarino, Miguel Madeira, Miguel Manso, Nuno André Ferreira, Paulo Pimenta, Ricardo Lopes, Rodrigo Cabrita, Rui Duarte Silva, Rui Caria, Rui Gaudêncio e, entre muitos outros, Tiago Miranda. O resultado de aproximar a fotografia documental dos colecionadores de arte já deu os primeiros passos. Um mês após o início da exposição, a iniciativa conseguiu “libertar” da alçada dos seus criadores algumas das imagens em exibição, embora o lado comercial nunca tenha sido a prioridade. “O importante deste ano nunca foi as vendas, mas a notoriedade do acontecimento. A esse nível está a correr muito bem”, refere Tiago Miranda. O princípio é nobre, só falta alargar a iniciativa a outros fotógrafos do documental português já bastante reconhecidos e que ficaram de fora nesta edição limitada.
Referências bibliográficas Benjamin, W. (2006). “A obra de arte na época da sua possibilidade de reprodução técnica”, in A Modernidade, Lisboa: Assírio & Alvim. ![]()
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