Links

O ESTADO DA ARTE


Fundação Louis Vuitton. Vista do Parque de Aclimatação.


Fundação Louis Vuitton. Edifício visto do ar e Bosque de Boulogne.


Pormenor do terraço. Fundação Louis Vuitton.


Pormenor do edifício da Fundação Louis Vuitton. Vista sobre a cascata artificial e o Grotto.


Olafur Eliasson, Inside the horizon, 2014. Obra encomendada. Grotto da Fundação Louis Vuitton.


Olafur Eliasson, Inside the horizon, 2014. Obra encomendada. Grotto da Fundação Louis Vuitton.


Ellswoth Kelly, Color Panels, 2014. Obra encomendada. Anfiteatro da Fundação Louis Vuitton.


Ellsworth Kelly, Color Panels, 2014. Obra encomendada. Anfiteatro da Fundação Louis Vuitton.


Vista da exposição Frank Gehry-Fondation Louis Vuitton.


Vista da exposição Frank Gehry-Fondation Louis Vuitton.


Pierre Huygue, A journey that wasn’t, 2005.

Outros artigos:

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON

MARGARIDA MAFRA

2014-12-02




A já muito falada Fundação Louis Vuitton foi inaugurada no passado dia 20 de Outubro, no Bois de Boulogne, extremo oeste de Paris. Nos dias que se seguiram, as filas acumularam-se e toda a imprensa francesa cobria o evento. O principal ângulo? Um novo espaço dedicado à arte contemporânea na capital, mas desta vez sem a mão protectora do Estado francês, habitual gestor e impulsionador da cultura. Todo o projecto, cujo custo total terá rondado os 143 milhões de euros, foi encomendado pelo milionário Bernard Arnault, dono do grupo LVMH – Moet Hennessey Louis-Vuitton, grupo empresarial da indústria de bens de luxo sob as quais são geridas marcas como Dior, Givenchy e Loewe.

A ideia de construir um edifício dedicado à arte contemporânea, albergando ao mesmo tempo a colecção do magnata, surge em 2006. O edifício seria o primeiro acto artístico da Fundação, afirma Jean-Paul Claverie, consultor artístico de Bernard Arnault [1], e neste sentido surge a necessidade de contactar um arquitecto de renome, neste caso, Frank Gehry.

Esta associação entre o produto de luxo, a mercadoria, e o mundo da arte tem vindo a levantar várias vozes em protesto. No entanto, e quase que em resposta prévia às criticas esperadas, Arnault afirma estar consciente do facto de o grupo empresarial que gere estar em dívida para com a cidade de Paris, uma vez que o sucesso do qual goza está em muito ligado à imagem artística que o mundo associa ao país. Arnault pretende assim retribuir, dando apoio às artes e à educação na capital.[2]

A construção do edifício teve início em 2008. Seis anos depois, aberta a fundação, a programação inaugural quer mostrar ao público várias facetas do longo processo de concepção e construção, num dialogo íntimo com a arquitectura.

O edifício de Gehry inspira-se, como o arquitecto já nos tem vindo a habituar, no mar, no barco à vela, nos cardumes de peixes. Do exterior vemos 12 “velas” em vidro curvado, não muito distantes das curvas e contracurvas de um Guggenheim de Bilbao, por sua vez em titânio. Relatos da imprensa internacional tecem também comparações com o Grand Palais de Paris [3], monumento de vidro e aço que Gehry quereria homenagear.

A construção abole a fachada, valorizando todas as perspectivas sobre o edifício da fundação, qual escultura moderna. Planeada de dentro para fora, a estrutura interna do imóvel é perceptível do exterior. A encomenda previa a necessidade de vários espaços expositivos, uma livraria/loja, um restaurante, um auditório, um grande lobby de entrada e duas torres correspondentes às escadas e elevadores.

A envolvência do edifício merece também ser mencionada, sendo ela neste caso um dos elementos chave para a fruição da arquitectura pelo visitante. No meio do Bosque de Boulogne, rodeado de espaços verdes, o carácter escultural do edifício tem espaço para se afirmar. Do alto dos seus dois terraços, os limites das velas de vidro abrem perspectivas múltiplas para os arredores: de um lado, o Bosque de Boulogne, espaço verde, e a arquitectura moderna do bairro da Defense; de outro lado, a torre Eiffel e toda a cidade de Paris. De forma inesperada, enquanto percorre o espaço, o visitante levanta a cabeça e depara-se com maravilhosas paisagens, num dialogo perfeitamente explorado pelo arquitecto.

Aliás, a visita à Fundação Louis Vuiton faz-se de forma simples e relaxada porque Gehry nos propõem um passeio: um percurso dinâmico e um percurso que apela a todos os sentidos, pela elegância com que as várias propostas culturais do programa inaugural encaixam com a arquitectura. Todas as divisões se encontram ligadas e podem ser percorridas livremente, sem consultar o mapa dos pisos ou o folheto da Fundação. A multidão de visitantes que esperava em fila para entrar no recinto parece agora ter desaparecido, na organização e encadeamento dos espaços, exteriores e interiores, permeáveis entre si.

A programação cultural, já referida, remete também para o trabalho arquitectural, começando pela primeira exposição temporária apresentada, de nome La Fondation Louis Vuitton. Num “open space” de paredes negras, um espaço cenográfico destinado à imersão na temática, o comissário Frédéric Migayrou expõe o trabalho do arquitecto canadiano. O percurso começa nos primeiros esquissos, relativos ao contexto, programa arquitectónico e concepção, e leva-nos até aos acabamentos do edificado. A exposição faz-se ainda acompanhar de uma retrospectiva dedicada a Gehry, assinada pelo Centro Pompidou, primeira manifestação do género em França.

Quanto às restantes actividades propostas, devemos ainda salientar as 11 galerias expositivas dedicadas à mostra de várias obras da colecção de arte contemporânea de Bernard Arnault, nas quais figuram artistas como Gerhard Richter, Pierre Huyghe, Christian Boltanski e Bertrand Lavier; as 8 obras encomendadas para a ocasião da inauguração; e variadas performances, peças de dança contemporânea, concertos e recitais de poesia, todos eles em correlação com o espaço que os envolve.

Duas das obras encomendadas por Arnault são especialmente valorizadas pelo dialogo com a arquitectura: a criação de Ellsworth Kelly, Color Panels, que pontua de cor o anfiteatro da fundação e a instalação de Olafur Eliasson, Inside the horizon, instalada no Grotto, espaço exterior desenhado para servir como futura passerelle de desfiles de moda. Inside the horizon é a sucessão de 43 colunas sob a forma de prismas, cujas superfícies são espelhadas ou emitem luz amarelo néon, criando-se assim um jogo de luz e reflexos que interage com a passagem do visitante.

No que toca à performance, podemos destacar Composition for a New Museum, de Oliver Beer, no qual o artista britânico escolheu transformar as paredes de uma das galerias do terceiro piso em instrumento musical: três performers entoam notas musicais que por sua vez ecoam no espaço vazio da galeria.

O programa da fundação para o seu primeiro ano de abertura é repartida em três fases, de Outubro 2014 até Setembro 2015, cada uma com uma nova exposição temporária, uma nova mostra parcial da colecção do magnata e um novo programa de actividades [4].

A primeira destas três fases de programação cultural corresponde ao mês que se seguiu à inauguração, terminado a dia 24 de Novembro e sobejamente debatido pelos media. Em causa encontram-se questões como a relação pouco saudável, promíscua e interessada, sem benefícios ao mundo cultural, entre a iniciativa privada e as artes.

Em França os museus privados são a excepção: falamos aqui de um país no qual o Estado custeia e controla de perto o sector cultural. No entanto a crise que afecta toda a Europa tem vindo a dificultar esta tarefa. O país vê-se obrigado a revisitar o seu modelo de financiamento e gestão das artes, percebendo que em tempos difíceis, o rico benfeitor pode financiar o projecto que as finanças públicas não podem: grandes museus, como o Louvre ou Orsay recorrem ao crowdfunding para restaurar as suas obras; o Palais de Tokio aluga as suas salas, nova fonte de receitas, por exemplo à marca de luxo Chanel, tendo daí resultado uma exposição dedicada à fragrância Chanel Nº5 [5].

No mês de Outubro, paralelamente à inauguração da Fundação Louis Vuitton, Paris assistiu também à inauguração do renovado Museu Picasso. As diferenças entre os dois projectos ilustram bem o shift que parece surgir no apoio das artes, do poder económico estatal para os capitais privados, frequentemente provenientes da indústria dos produtos de luxo. Enquanto que a Fundação de Arnault foi criada discretamente, reservando as luzes e a ribalta para a inauguração, o longo processo de reestruturação do museu Picasso foi seguido de perto por todos, arrastando-se ao longo de 5 anos, com grandes dificuldades sobretudo ligadas à gestão dos dinheiro públicos aí aplicados.

Uma das principais acusações feitas à Fundação e à sua natureza prende-se com a ideia de “golpe publicitário”: não é possível negar o impacto que a criação de uma tal instituição, alojada numa obra arquitectónica de renome, terá para o grupo LVMH. No entanto, não é também possível reconhecer-se o valor desta inauguração para Paris? A cidade tenta há muito recuperar o estatuto de principal centro de criação do qual gozou outrora. Apesar dos grandes projectos culturais e arquitectónicos desenvolvidos nas últimas décadas, como o Centre Pompidou, o Grand Louvre, a Cité de la Musique ou o Institut du Monde Arabe, a França continua atrás de nações como a China e os Estados Unidos [6].

Outras vertentes do debate são desenvolvidas no artigo “L’art n’est-il qu’un produit de luxe?” publicado na revista online Mediapart, assinado por nomes internacionais do mundo das artes, como Georges Didi-Huberman e Giorgio Agamben [7]. O artigo é uma tomada de posição do grupo de intelectuais, que chamam a atenção para os perigos deste novo tipo de mecenato: falam-nos da permeabilidade entre os conceitos de mercadoria e de arte e alertam para a especulação das cotas no mercado da arte dos artistas representados pelos grandes grupos financeiros. No passado terão ficado os nobres mecenas, sem interesses pessoais e financeiros, para dar lugar ao que chamam os “especuladores”.

Distanciando-nos deste debate, legítimo, importante, fecundo, cabe-nos constatar que o impacto da Fundação Louis Vuitton no panorama cultural francês resta ainda a ser determinado no decorrer das suas próximas manifestações. Por agora, a fundação parece revelar-se um projecto cuidadosamente reflectido, criativo, feito de conteúdos programáticos agilmente articulados.

 

 

Margarida Mafra
Licenciada em História da Arte pela FCSH e mestre em Museologia e História da Arte Contemporânea pela École du Louvre, Paris.

 

:::

Notas

[1] “Gehry’s Paris coup”, por Paul Goldberg, Setembro 2014, Vanity Fair. Em http://www.vanityfair.com/culture/2014/09/frank-gehry-foundation-louis-vuitton-paris (consultado a 01/12/2014).
[2] Afirmação de Jean-Paul Claverie, Op cit.
[3] Paul Goldberg, Ibid.
[4] Folheto da Fundação Louis Vuitton.
[5] “A capital of the arts is forced to evolve”, por Dan Bilefsky e Doreen Carvajal, 27/10/2014, The New York Times. Em http://www.nytimes.com/2014/10/28/world/europe/a-capital-of-the-arts-is-forced-to-evolve.html?_r=0 (consultado a 01/12/2014).
[6] Op cit.
[7] http://blogs.mediapart.fr/edition/les-invites-de-mediapart/article/201014/lart-nest-il-quun-produit-de-luxe (consultado a 01/12/2014)