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Lembro-me muito bem quando comecei a programar a Plataforma Revólver, há aproximadamente vinte anos no sótão do Transboavista, com as temperaturas no verão a atingirem os 45 graus, caindo para valores mínimos no inverno (impossível de manter quente e seco), como a forma mais radical e alternativa de programar e realizar exposições de arte. Quando penso nisso com cuidado, parece inimaginável quanta intensidade e encanto pôde conter um sótão com 200m2.

Na época, dado os requisitos financeiros para produzir catálogos, convites, ou para a edição de um site, procedimentos de comunicação nunca me foram uma sensação importante, pois a conclusão bem-sucedida das exposições era prioridade em relação à comunicação: a relação com o público passava-se com a qualidade e o entusiasmo das exposições, aliadas à independência do projecto. Era um trabalho consciente de artesão! Aliás, o conceito para programar a plataforma revólver no sótão - e “plataforma” porque significava literalmente a cobertura horizontal e plana de um edifício, mais alta que tudo o que a rodeava - sempre foi completo crafting: propunha-me programar exposições temporariamente durante cinco anos, ponto; a ideia inicial era encerrar no final do quinto ano (e a boa sensação era as exposições ficarem apenas na memória de um sempre crescente e entusiasmado número de pessoas que visitava as exposições; aliás, recordo-me que os únicos estrangeiros na época que circulavam na Rua da Boavista, tinham como destino a plataforma revólver). — Mas então as coisas tornaram-se mais complexas, como sempre acontece quando nos questionamos. Acima de tudo interessou-me manifestar uma nova forma de estar e de experienciar, valorizando uma “plataforma aberta” de arte contemporânea, alternativa ao distanciamento social das instituições e ao interesse de lucro das galerias comerciais. E que nada disso fosse retórica! Entretanto, a Plataforma desenvolveu-se gradualmente e genuinamente: criou uma forma invulgar de programar, com a abertura em simultâneo de múltiplas exposições, individuais e colectivas, em diferentes espaços e andares, com diferentes e diversos artistas e curadores. Mais: primeiro, o projecto foi capaz de se expressar independente e alternativo, e adequadamente construir um espaço inclusivo, preocupado em garantir que as pessoas se sentissem confortáveis e incluídas; segundo, criou uma respeitada Brand internacional que lhe tem permitido vencer concursos internacionais assim como estabelecer parcerias institucionais com n governos estrangeiros - sempre em modo contracultura, como forma de financiar/ suportar a sua intensa programação nacional e internacional -, com uma invulgar capacidade de comunicar. Nunca fez nem pediu favores e, como tal, ganhou a confiança da comunidade.
 

Entretanto, é verdade que, sempre me pareceu que a transição digital era uma oportunidade fantástica para inovar e publicar uma magazine de arte contemporânea online. (A artecapital.art, hoje, um fenómeno editorial em língua portuguesa e um espaço protegido de transparência; os nossos utilizadores activos somam mais de 30.000 mensalmente, provenientes de países como EUA, Brasil, França, UK, Espanha…)

Agora, sinto viver o mesmo sobre a capacidade do sistema digital para registar a programação da Plataforma Revólver em documentários vídeo através da realização de jovens realizadores: nesse sentido a plataforma está a reorientar-se mais performativa e fílmica, num universo interdisciplinar. De maneira que, se visualizarem o canal de YouTube da, “plataforma revólver - Independent art space”, facilmente encontram uma cronologia vídeo inovadora de todos os momentos da plataforma revólver - exposições, performances e eventos - durante o ano 2021/22, à distância de um click. A boa notícia é que encontro sempre tudo por fazer, o que me mantém entusiasmado e encorajado; assim como a ideia de poder continuar a programar com novas e diferentes pessoas, o que sempre me encanta. A má notícia é a apreensão de nunca saber realmente o que poderá acontecer à programação da Plataforma Revólver e da Artecapital no preciso momento em que cada novo ano se inicia. Estamos mais uma vez simplesmente à espera. Encontramo-nos no final do mês de janeiro e ainda não recebemos a luz verde da DGArtes para retomarmos as programações em 2022. (Nós apenas pedimos que fossem consistentes… estruturem-se de forma que não nos faltem os financiamentos que prometem.) Também o Programa Garantir Cultura, especialmente vocacionado para o sector cultural, que incluiu a criação de apoios para o desenvolvimento de projectos artísticos, de criação e programação, se encontra atrasado nos pagamentos dos reembolsos, contratualmente assumidos, sem informar quanto tempo levará a cumprir com esta obrigação.

Fica muito claro rapidamente que 2022 será mais um ano de precariedade na história de arte, de atraso e desencanto sistémico. Precariedade é precariedade (Agravada pela crise política e ausência de orçamento.) A precariedade está intimamente ligada com o financiamento da cultura; para programarmos cultura precisamos de recursos humanos para trabalhar, de capital intelectual para poder desenvolver as programações, aparte do capital material. A falta e o atraso no financiamento causam danos duradouros ao sistema de cultura, bem como às pessoas. — Nada disto vai mudar amanhã: Por isso, uma situação assim, torna-se uma impossibilidade! A precariedade arrasta-nos para baixo, acumula-se no fundo. É a percursora de abandono e pobreza. (Se bem que, com o passar do tempo, a simetria entre viver e sobreviver se tornará tão perfeita que, de uma maneira geral, já não haverá modo de saber quem levita e quem afunda!)

Depois, uma segunda revelação foi assistirmos a dezenas de conversas e debates entre candidatos a deputados, sem que nenhum desses candidatos (e/ou dos entrevistadores) tivesse curiosidade em questionar /debater arte e/ou ciência, que parece não verem nenhum mérito no que as humanidades têm para oferecer — como se a economia fosse a única medida de valor. Os políticos afastaram-se tanto da cultura e da ciência que não conseguem conversar connosco. Desde logo continuam a não perceber que a política e a cultura estão inextricavelmente ligadas. Que os nossos insucessos como país, na saúde, na justiça, na economia, na justiça social, a corrupção, a falta de imaginação, os favorecimentos, são implicações políticas da nossa imemorial falta de investimento na cultura. (Para lá da literarização.) Abandonar a cultura significa destruir as hipóteses de desenvolvimento e significa destruir progressivamente a memória, o que terá provavelmente consequências profundas.


Talvez a nós portugueses, nos falte uma célula sensível à arte, com ligação directa ao cérebro, um espírito apaixonado para avaliarmos a cultura, que nos permita ter uma visão muito superior, para aprendermos a discutir as dimensões políticas e sociais da arte, e as implicações políticas da cultura. Talvez nos falte ver a cultura e a vida apaixonadamente!

 

É sobre vermos a cultura de uma forma vibrante e apaixonada, como Beuys ensinava nas suas aulas, que a AICA devia concentrar a sua energia: Quanto às semelhanças alarmantes entre um passado retrógrado e cooperativo e a farsa do recente comunicado da AICA (apresentado como um sentimento nacional), a pressionar-nos que devemos ser acríticos e pacientes com os privilégios das pessoas influentes e conservadoras - numa perspectiva assumida como evidente que a cultura do favor e os poderes estabelecidos governam a arte -, para que a vida de determinada pessoa se torne mais fácil, fica bem claro que precisamos de pensar um novo modelo “livre de favores”, e em diálogo com a contracultura. Uma mudança de paradigma cultural para a ética é imprescindível. — A cultura serve para fundar a consciência ética! Desenvolvermos uma “cultura do cuidado” como cuidadores do outro, é muito diferente de cultivar uma “cultura do favor” com base nos interesses particulares. — Sabemos que a arte pertence a todos nós. Neste contexto, é mais importante do que nunca reforçar a pluralidade de uma infinidade de vozes. A necessidade de igualdade e diversidade. — O respeito pela meritocracia é fundamental na arte.


‘The Times They Are a-Changin’. 

 

victor pinto da fonseca
Director da Plataforma Revólver e da Artecapital.