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ARQUITETURA E DESIGN




NU#01 Encruzilhadas, abril 2002.


NU#02 Lugares, maio 2002.


NU#03 Cidades, junho 2002.


NU#04 Mecanismos, outubro 2002.


NU#05 Ãreas de contaminação, novembro 2002.


NU#06 Imagem, dezembro 2002.


NU#07 Desvio, janeiro 2003.


NU#08 Tempo, fevereiro 2003.


NU#09 Sexo, março 2003.


NU#34 Feio, outubro 2010.


NU#35 XXL, dezembro 2010.


NU#36 Sul, março 2011.


NU#37 Mito, junho 2011.

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PEDRO BAÃA E PEDRO PATRÃO AMADO


O primeiro número da revista NU foi publicado em Abril de 2002. Desde então, ao longo de 38 números, a revista vem sendo produzida por várias gerações de estudantes do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra (DARQ). Assumindo-se como uma "ferramenta de aprendizagem", a NU tem vindo a desenvolver um olhar diferente, sem receios do confronto e da interrogação. Produzida exclusivamente por estudantes, a revista tem conseguido construir uma identidade e uma forma de reflectir muito própria, num espírito inquisitivo que traduz um particular entusiasmo na descoberta e na partilha. No momento em que se completam, e celebram, dez anos de nudez, fomos ao encontro do primeiro director e fundador da NU, Pedro Jordão, e dos directores cessantes, Diogo Lopes e Filipe Madeira.

[www.arquivonu.blogspot.com]

Porto/Coimbra, Fevereiro de 2012
Pedro Baía e Pedro Patrão Amado


::::

Entrevista a Pedro Jordão [1]

Como surgiu a ideia de criar a NU? E qual a sua relação com a ECDJ/Joelho, revista produzida pelo corpo docente do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra?

PJ: A ideia de criar uma revista de estudantes era uma ideia antiga. Desde a fundação do NUDA, Núcleo de Estudantes do Departamento de Arquitectura, ainda antes da ECDJ, já existia essa ideia de fazer uma revista por parte dos alunos. Durante alguns anos, à medida que se foram sucedendo as direcções do NUDA, foi algo sempre falado mas nunca materializado. Passados alguns anos, e em grande parte motivado pela ideia de criar a revista, formei uma equipa para nos candidatarmos à direcção do Núcleo. Criar finalmente uma revista era o objectivo principal. Mas não o único. Era a principal motivação porque nos parecia ser um factor diferenciador. Importava avançar com esse projecto, parecia-nos um projecto muito importante, quer em termos daquilo que era o estímulo aos alunos do DARQ, quer até enquanto investimento na afirmação do próprio curso, na altura um curso jovem com cerca de dez anos.

Fomos eleitos e arrancámos rapidamente com o projecto. Passados alguns meses, nasceu então a NU. O facto de haver outra publicação no DARQ nunca foi para nós um problema. Era algo complementar. A ECDJ tem uma lógica muito própria e está relacionada essencialmente com o corpo docente. É um projecto com outro tipo de ambição e também, de certo modo, com outra maturidade. Nós queríamos que a revista reflectisse aquilo que era um corpo de estudantes e que fosse também um instrumento de procura, de reflexão dos estudantes em relação à arquitectura em geral, e não só em relação à Escola.

Por isso, independentemente daquilo que fazia a ECDJ, os objectivos da NU eram completamente diferentes. Ou seja, havia uma preocupação em que fosse uma ferramenta para os alunos questionarem matérias relacionadas com a arquitectura. Era também uma maneira de divulgar e de colocar em cima da mesa algumas questões que geralmente não encontrávamos nas publicações mais institucionais ou convencionais do ponto de vista académico. Era realmente uma ferramenta de aprendizagem, de estímulo, de afirmação daquele Departamento e, mais concretamente, dos seus alunos.

Na NU#18 Revistas:, escreveu um artigo intitulado "nudez [1ºacto]". No meu entender, neste artigo, a revista NU foi descrita como um corpo que se foi cobrindo à medida que foi percorrendo o seu caminho. É uma interpretação possível?

PJ: Pode dizer-se isso assim. É uma boa interpretação. Mas até se pode fazer a interpretação contrária, de uma maneira igualmente válida, como uma revista que se foi despindo à medida que se foi expondo cada vez mais. Em termos formais, foi ficando mais estável. Mas também ganhou mais margem de manobra para ir sendo cada vez mais ousada e experimental no modo como reflectia sobre a arquitectura. Por um lado, há uma revista que se cobre no sentido de ficar cada vez mais complexa, cada vez mais completa. Mas há também uma revista que se despe no sentido de se ir expondo e de ir arriscando.

Essencialmente, esse texto reflectia muito aquela voracidade e aquela enorme vontade que havia por parte das pessoas que produziam a NU. E que é a única maneira de fazer uma revista de estudantes com algum interesse, que ainda por cima não tem grandes meios. Não se espera que se façam reflexões longas e muito aprofundadas. Espera-se que seja uma revista feita de maneira interessada e que interesse quem a lê. Espera-se que tenha a frescura e a voracidade (para mim uma palavra importante) próprias de pessoas jovens que estão a aprender. E que estão realmente a descobrir uma espécie de um mundo novo. Um mundo que querem partilhar com os outros estudantes e com pessoas que têm um ponto de vista diferente.

As reacções que existiram desde o início em relação à NU, mesmo de professores de arquitectura de todo o lado, de arquitectos de renome, etc., foram muito entusiásticas. O que nos interessava não era dar respostas, mas sim colocar questões e introduzir novos temas. Essa abordagem, um pouco diferente, foi conseguida e foi sendo reconhecida.

Foi a nudez do corpo que determinou o ponto de partida de um projecto à espera de ser vestido? Porquê o nome NU?

PJ: Para ser sincero, o nome NU foi um nome que nos agradou e que já vinha do passado. No ano anterior à NU começar, voltou a falar-se na questão da revista e não se chegou a conclusões muito concretas, nem a nenhum formato, nem a nenhuma lógica e, por isso, não se começou com o projecto. Mas foram debatidos nomes, por exemplo, e uma das sugestões foi NU. Grande parte da equipa pertencia também à equipa que dirigia o NUDA.

Por isso, algumas das pessoas que acabaram por pertencer à revista tinham estado presentes nessas discussões. Na altura em que estivemos a discutir o nome da revista, o nome NU surgiu e foi um nome que agradou porque era uma palavra incisiva, uma palavra que, de certo modo, se vestia também de alguma provocação, de alguma ousadia. E era, realmente, uma palavra que também evocava essa ideia de corpo exposto, de corpo que é procurado.

Que lugar ocupa hoje a NU? Primeiro, em relação ao grupo de revistas produzidas por estudantes de arquitectura, como a Unidade, ou a Dédalo. E depois, em relação ao panorama nacional de revistas sobre arquitectura.

PJ: Começando do fim para o princípio. No panorama nacional de revistas, é evidente que a NU tem um lugar muito específico e sabe dialogar. Não quer ser, nem nunca quis ser uma revista institucional, ou de grande dimensão, ou com uma reflexão muito aprofundada. Não era esse o objectivo, e não são essas as suas possibilidades. É uma revista de estudantes, é uma revista académica que tentou ser diferente, que tem conseguido ser diferente e que tentou ter qualidade. Acho que tem tido sempre qualidade em todos os números, porque em todos eles consegui encontrar artigos e entrevistas que me interessam ler. Nesse aspecto, é um pequeno objecto, de pequena tiragem, de pequena dimensão, que procura mais questionar do que responder ou concluir. Para mim, é um objecto e um projecto muito interessante, com uma dinâmica própria.

Em relação às revistas de estudantes, por muito suspeito que seja, acho que a NU é claramente um marco a nível nacional. Porque é de longe a revista de estudantes mais antiga do país, pelo menos com alguma base contínua. É uma revista que vai fazer dez anos de produção ininterrupta, algo absolutamente inédito no país. Até hoje, não me lembro de uma revista de estudantes que tenha durado mais do que dois ou três anos consecutivos, como foi o caso da Unidade que lançou cerca de um número por ano na primeira série dirigida por Jorge Figueira, entre 1988 e 1992. Na NU, estamos a falar de uma revista que chegou a ser mensal. Mesmo quando deixou de ser mensal, estamos a falar de alguns números por ano. Ao fim de dez anos, isto é obviamente assinalável. Só por isso já seria um marco.

Teve naturalmente altos e baixos numa altura mais inicial, tentando encontrar o caminho, tentando encontrar uma base sólida. Para uma revista de estudantes, tem uma inegável qualidade ou, pelo menos, um inegável interesse. Por isso, acho que acaba por ser, para já e ainda, a principal referência em termos de revistas de estudantes a nível nacional. Quanto mais não seja por ser a única que se manteve como um projecto contínuo, durante muito tempo e com um grau médio de qualidade, para mim, bastante interessante. Basta dizer que não só estamos a falar de 10 anos de actividade como estamos já a falar de cerca de 40 números.

Ou seja, se tivéssemos agora uma compilação bastante seleccionada dos textos e das entrevistas mais interessantes, teríamos um documento bastante importante no panorama nacional. Nesse aspecto, é um projecto com grande mérito, principalmente vendo a história toda, da qual eu só estou relacionado com uma pequeníssima parte, e uma parte muito inicial. Neste sentido, já não sou tão suspeito porque já não estou a avaliar o meu trabalho, mas sim o trabalho de outros.

O que ganhou a nível pessoal com a experiência da revista NU? Sente que a experiência teve reflexos, também, a nível profissional?

PJ: Sim, de certo modo, a experiência ainda se reflecte a nível profissional. Ganhei muito. Para já, ganhei uma vontade e um gosto acrescidos de me debruçar de muitas maneiras para além de um olhar. Comecei a olhar de uma maneira diferente. Interessei-me por muitos mais temas, aprofundei muito mais os meus conhecimentos sobre arquitectura, e consegui estabelecer também uma relação maior com a prática. Passei a ver as coisas com outra profundidade e com outro grau de praticabilidade.

Fazer a NU foi ainda um pretexto excelente para aprender mais durante aquele ano do que noutros anos de curso em algumas áreas. Aprendi muito mesmo e ganhei um gosto pela investigação que na altura não sabia que tinha. Pelo menos daquela maneira, tão constante e tão diversa. Obviamente, deu-me uma experiência que acabou por ser valiosa no meu futuro, naquilo que é realmente estar ligado a um projecto editorial, naquilo que é já uma certa rotina de investigar e de produzir discurso a partir de um tema sobre o qual nos debruçamos.

Tendo sido a NU um projecto com algum reconhecimento desde o início, é inclusivamente verdade que o facto de ter iniciado esse projecto me criou mais tarde algumas oportunidades exactamente nessa área. Ou seja, surgiram oportunidades para escrever para outros sítios, para fazer investigação nesta área em vários momentos. Não tenho quaisquer dúvidas que entre aquilo que eu aprendi na NU e aquilo que foi o reconhecimento público da NU, em muitos aspectos, me levou a um caminho que teria sido completamente diferente se eu tivesse terminado o curso apenas concentrado no meu curso, sem ter feito mais nada. Não tenho quaisquer dúvidas.

O que espera partilhar quando escreve sobre arquitectura?

PJ: Procuro não ser redundante. Procuro não escrever algo que seja inútil. Aquilo que procuro sempre é escrever sobre temas que realmente me interessam e sobre os quais tenho alguma investigação. Procuro sempre dar um pouco mais e partilhar um olhar menos usual. De resto, tenho muitos temas que me interessam e não pretendo descobrir a roda nos próximos anos. Interessa-me esta partilha com interesse mútuo. Interessa-me investigar e reflectir. E espero que no final do artigo, seja ele pequeno ou grande, o leitor tenha sido confrontado com ideias ou abordagens que o tenham acrescido de qualquer coisa.


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Entrevista a Diogo Lopes e Filipe Madeira [2]

Enquanto estudantes, qual a motivação e a necessidade para participarem na produção de uma revista?

DL: Há dois aspectos. Um muito simples e um outro um pouco mais complexo porque fui ganhando consciência dele ao longo do tempo. Primeiro, a NU era muito atractiva enquanto um grupo de pessoas que falava sobre questões que achava interessantes. Acima de tudo, era um grupo de amigos que se encontrava para falar. À partida, parecia-me um bom motivo. Depois, havia uma segunda questão que na altura não era tão clara, mas que agora, em retrospectiva, é mais evidente: o facto de ter tido, e acho que era uma coisa comum a todas as pessoas que estavam na NU, uma necessidade de procurar razões para aquilo que se estava a fazer em Projecto. E isso foi uma coisa que não encontrei imediatamente na NU.

Quando entrámos, as questões estavam dominadas pelas pessoas que já lá estavam antes. Portanto, não me revi imediatamente nelas, nem na forma como eram tratadas, nem naquelas abordagens aos temas. O processo não me era ainda muito próprio. Era uma coisa à qual eu assistia e ia tentando integrar-me ao participar. Depois, ao longo do tempo, quando começamos a ter mais preponderância na revista, a decidir os temas, a propor as questões, a própria abordagem muda um bocado, e o conteúdo da revista também. Coisas simples como o facto de os arquitectos que participavam na revista serem diferentes, de outro universo. Foi aí, nessa altura, que comecei mesmo a sentir o que estávamos a fazer na NU. Estávamos a propor algumas questões que não eram de todo tratadas na revista.

Havia sempre a questão dos professores, na disciplina de Projecto, não nos conseguirem explicar o porquê de estarmos a fazer de uma certa maneira. Quer se queira quer não, numa Escola, há sempre uma hegemonia de um processo e de referências. E, na NU, o que senti é que quando fomos nós a trabalhar as questões e os temas, surgia uma oportunidade para desenvolvermos um espírito crítico, mais acutilante, um espírito inquisitivo permanente. Isso era aquilo de que gostava e que mais tarde consegui encontrar na revista.

Após a primeira direcção liderada por Pedro Jordão, bastantes edições deixaram de ser mensais, existindo um ritmo inconstante no lançamento dos vários números. O que esteve na origem destas mudanças?

DL: A NU estava a entrar num processo muito artesanal e muito perfeccionista. Estavam-se a perder muitos automatismos que eram fáceis e quase mecânicos de pôr em prática. Por exemplo, o grafismo era uma coisa inacreditável. Era um processo artístico, no sentido pejorativo do tema, que não interessava para nada. Nós queríamos era pensar e pôr em papel o que pensávamos, as questões que abordávamos.

Eu lembro-me que o grafismo da NU#32 Ocupa demorou um ano a ser feito e nós, de uma vez por todas, queríamos afastar-nos disso. A seguinte, a NU#33 Consumo foi logo uma tentativa. Foi numa transição e já fomos nós a acabar o número. Mas o número não era nosso, e isso já foi uma tentativa. A Consumo recupera um bocadinho a estética dos primeiros números do Jordão, de agrafos, sem grande expressão, muito naïf quase. Depois, quando chegaram os nossos números houve uma evolução, foi feito um trabalho enorme de grafismo para que aquilo fosse quase mecânico, estilos muito simples, qualquer pessoa que chegue agora e queira pôr em prática o nosso grafismo, é extremamente simples.

E o grafismo era uma metáfora para tudo. Lembro-me que, a dada altura, os cartazes eram todos iguais, as reuniões eram todas iguais, os e-mails tinham uma estrutura muito igual. Havia muitos 'desenhos' que repetiam processos para que não fossem impeditivos do que era realmente importante, que era pensar e pôr por escrito aquilo que nós pensávamos. Era esta a premissa que tínhamos. Para nós era importante recuperar o ritmo das primeiras revistas.

No fim do ano, lançámos o projecto Ciclo de Conferências Cosa Mentale: A Ideia em Arquitectura, uma série de conferências para tratar um número que ainda vai ser feito. [Na sequência da reflexão em torno deste tema e da sua discussão nas conferências, a revista NU#38 Ideia será lançada no dia 10 de Abril.] No fim destes quatro números, o que eu senti foi que, se calhar, o que interessa tanto não é produzir muito ou com um ritmo constante. Porque a NU não é feita para uma audiência. A NU é feita para nós e por nós, aprendizes, e isso tem um tempo próprio.

Por exemplo, uma das ideias que tinha, e que foi falada em várias reuniões, era que todos os números de um ano ficassem ligados a um só tema, a um corpo duro de questões que entrava em vários números. Isto porque acho que nas reuniões se ia tornar muito mais produtivo. Como havia muito para dizer, muitas das vezes era confuso e só servia para cumprir com uma audiência que não existia, uma diversidade que não tem sentido. O meu desejo era o de construir uma coisa mais concentrada e portanto também mais profunda e mais acutilante.

Como foi gerir o tempo, entre a revista e as disciplinas do curso de arquitectura, curso que por si só exige muitas horas para além das estabelecidas no horário das aulas? Houve momentos em que a revista passou a ser uma prioridade?

DL: Houve. Houve momentos, por exemplo no 3º ano, em que a revista ultrapassou a disciplina de Projecto em prioridade porque para nós era fundamental manter alguma integridade na NU. Havia um esforço mínimo que só por si, muitas vezes, era prioritário em relação a Projecto.

FM: A certa altura, sentimos que estávamos a aprender mais com a revista do que com algumas cadeiras. Foi um processo de prioridades mais ou menos intuitivo.

DL: Houve coisas que descobrimos na revista que nas aulas de Projecto iriam demorar muito mais a aparecer. O que eu sentia era que, a cada reunião, a cada tema tratado, e a cada número que fazíamos, isso ajudava-me depois nas conversas sobre os projectos. Isso para mim era algo gratificante, porque sentia uma evolução. Não é que as coisas que debatíamos na NU se repercutissem de forma literal no projecto. Isso não existe. Acho que a teoria e a prática têm uma autonomia muito própria. Havia momentos em que eu decidia: este tema para mim é importante e é mais pertinente que outros. E isso encaminhava, de alguma maneira, talvez de uma forma um pouco misteriosa, o meu projecto para outros assuntos, sem estar no processo de projecto a pensar directamente nessas questões. É uma relação à distância, mas produtiva, muito produtiva.

Que leitura fazem do momento actual da revista?

DL: É sempre suspeito, se o momento actual se refere aos quatro últimos números. O que posso dizer é que, para nós, é algo mais consequente e mais produtivo. A NU é uma produção um bocadinho egoísta. É uma coisa que, acima de tudo, nos serve a nós. Se servir aos outros ainda melhor. Esperamos que, sendo honestos connosco e fazendo sobretudo o que gostamos, os outros depois consigam retirar algo de lá.

FM: Esse egoísmo veio sobretudo de um pessimismo que se começou a alastrar quando a revista era feita exclusivamente a pensar no produto final e não no que estávamos a aprender. Este modelo tornava-se muito difícil quando a recepção não era aquela que estávamos à espera, ou quando não havia sequer recepção. Penso que foi essa reflexão que marcou mais a revista nestes números. Por exemplo, antes havia uma preocupação muito grande em cobrir todas as perspectivas do tema, preencher todas as rubricas. Nós achámos mais importante que fossem as questões a mandar na forma da revista e não o contrário. Quer dizer, nós queremos ser arquitectos, não queremos ser escritores.

DL: Para nós, o fundamental era encontrar pertinência nos temas que estávamos a tratar, no sentido de serem operativos para a obra de arquitectura que, ironicamente, ainda não fizemos. Nós estávamos a fazer arquitectura com este processo, não estávamos a fazer literatura. A revista é um processo de arquitectura.

O que esperam partilhar quando escrevem sobre arquitectura?

DL: Perguntas, acima de tudo são perguntas. Mas cada pergunta demora imenso tempo a ser formulada. São perguntas que fazem parte de uma constelação que nos é muito própria, do tal processo egoísta de que falámos. E essas perguntas florescem nesse universo próprio. São perguntas que reformulamos e que aparecem incluídas nos temas que gostamos.

FM: Especialmente no grupo que fez estes últimos números, sempre gostámos mais de discutir do que de chegar ao fim da discussão.


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NOTAS

[1] Entrevista realizada por Pedro Patrão Amado a Pedro Jordão (5 de Dezembro de 2011, cantina da Escola Universitária Vasco da Gama, Coimbra) no âmbito do exercício “Projectos Editoriais Revisitados†da cadeira Edição e Apresentação leccionada por Pedro Baía (EUVG, 2011/2012).

[2] Entrevista realizada por Pedro Patrão Amado a Diogo Lopes e Filipe Madeira (2 de Dezembro de 2011, café Tropical, Coimbra) no âmbito do exercício “Projectos Editoriais Revisitados†da cadeira Edição e Apresentação leccionada por Pedro Baía (EUVG, 2011/2012).

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Escrito de acordo com a antiga ortografia

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Pedro Jordão
(Aveiro, 1977) Arquitecto pelo Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra. Fundador e primeiro director da revista NU, entre 2002 e 2003, mantendo desde então uma produção crítica regular. Docente na Escola Universitária Vasco da Gama. Comissário regional na última edição da Habitar Portugal e actual comissário do Projecto Archigram, integrado na Capital Europeia da Cultura 2012. A par da arquitectura, tem assumido um papel activo na programação cultural.

Diogo Lopes
(Coimbra, 1988) Aluno finalista do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra onde se encontra a desenvolver dissertação sobre o problema da experiência em Arquitectura. Bolseiro Erasmus na École Polythecnique Fédérale de Lausanne, Suiça, em 2009/2010. Foi director da revista NU, entre 2010 e 2011.

Filipe Madeira
(Coimbra, 1988) Aluno finalista do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra onde se encontra a desenvolver dissertação sobre o problema da presença em Arquitectura. Bolseiro Erasmus na École Nationale Superieure d’Architecture de Paris La Villete, França, em 2009/2010. Foi sub-director e editor gráfico da revista NU, entre 2010 e 2011.

Pedro Baía
(Coimbra, 1980) Arquitecto pelo Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra onde se encontra a concluir dissertação de Doutoramento em Teoria e História da Arquitectura. Membro do corpo editorial da revista NU, entre 2002 e 2004. Docente na Escola Universitária Vasco da Gama. Membro fundador da Circo de Ideias – Associação Cultural. Editor de Arquitectura da Artecapital, desde 2008.

Pedro Patrão Amado
(Coimbra, 1986) Licenciado em Estudos de Arquitectura pela Escola Universitária das Artes de Coimbra (2010). Bolseiro Erasmus no Politecnico di Milano, Itália, em 2009/2010. Concluiu o programa Architecture, Conservation and Sustainability na University of Lincoln, Inglaterra, em 2011. Actualmente, frequenta o curso de Mestrado integrado em Arquitectura na Escola Universitária Vasco da Gama.