Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.


Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.

Outras exposições actuais:

ANTÓNIO FARIA

AS VIZINHAS


Centro Cultural Bom Sucesso, Alverca do Ribatejo
FÁTIMA LOPES CARDOSO

MARIA DURÃO

EVAS


Kubikgallery, Porto
SANDRA SILVA

COLECTIVA

ENSAIOS DE UMA COLEÇÃO – NOVAS AQUISIÇÕES DA COLEÇÃO DE ARTE MUNICIPAL


Galeria Municipal do Porto, Porto
CONSTANÇA BABO

TINA MODOTTI

L'ŒIL DE LA RÉVOLUTION


Jeu de Paume (Concorde), Paris
MARC LENOT

COLECTIVA

ANAGRAMAS IMPROVÁVEIS. OBRAS DA COLEÇÃO DE SERRALVES


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
CONSTANÇA BABO

JOÃO BRAGANÇA GIL

TROUBLE IN PARADISE


Projectspace Jahn und Jahn e Encounter, Lisboa
CATARINA PATRÍCIO

JOÃO PIMENTA GOMES

ÚLTIMOS SONS


Galeria Vera Cortês, Lisboa
MADALENA FOLGADO

COLECTIVA

PERCEPÇÕES E MOVIMENTOS


Galeria Presença (Porto), Porto
CLÁUDIA HANDEM

MARIA LAMAS

AS MULHERES DE MARIA LAMAS


Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
FÁTIMA LOPES CARDOSO

PEDRO TUDELA

R!TM0


Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso, Santo Tirso
CLÁUDIA HANDEM

ARQUIVO:


RUDI BRITO

HORA DE FERRO




BALCONY
RUA CORONEL BENTO ROMA 12 A


16 MAR - 06 MAI 2023


 

Na inauguração desta exposição, e noutros momentos, ouvi ser dito “Rudi, o melhor pintor desta geração!”. Aparece-me uma certa aflição com esta frase, sem sombra de dúvida lançada com um entusiasmo de que também partilho. É admirável a continuidade de uma prática onde se pressente o trajecto, um lastro de pintura a pintura, que vai ondulando entre estados anímicos.

Já lá irei, à admiração e surpresa.

Por agora, e acompanhada de um texto de Ursula Le Guin - “A ficção como cesta: uma teoria” traduzido e editado recentemente pela Dois Dias Edições na sua versão portuguesa - , onde é expressa uma celebração da cesta como a derradeira ferramenta ou utensílio de subsistência, os recipientes e contentores como sustento de uma ideia de humano. Sem palco e também sem heróis. Sem heróis é menos entusiasmante contar uma história; colher bagos e carregá-los num saco é menos impressionante do que a descrição da perseguição de uma presa, dos adjectivos usados para o cheiro a sangue e para a vitória da caça. Interessa-nos para este ponto isto, a ideia que me fez ligar a cesta à consideração sobre a figura de Rudi, O pintor.

Tenho, por princípio, aversão à visão da criação artística enquanto competição - uma corrida para alcançar um pódio de... sucesso, fama? Parece-me justa a admissão de que o trabalho artístico, mesmo o de execução individual, é colectivo e nasce da absorção e da vivência de outros e outras que nos rodeiam. Resulta da troca de experiências, do contar e partilhar de histórias vividas, mais ou menos heróicas, das sugestões e sugestionamentos [porque não, desdobrar?] de exposições, músicas e livros apreciados. E, por fim, da pertença a uma geração, que define um plano histórico comum de experiências e características, apesar do acrescento seccional de camadas que não podemos desconsiderar.

Neste seguimento, apetece-me corrigir esta frase ouvida, e dizer, de forma menos heróica, que o impressionante trabalho do Rudi se encontra num grupo alargado de excelsos pintores da sua geração, segmentados em aptidões e afinidades. Esquecendo-me de muitos, e admitindo o meu desconhecimento, colho para esta cesta muitos nomes que têm vindo a ser referidos e mapeados nesta mesma magazine.

 

Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.

 

Voltando ao início de admiração e surpresa.

Hora de Ferro é o título da exposição individual de Rudi Brito inaugurada a 16 de Março na Balcony - Contemporary Art Gallery e patente até 06 de Maio (visitem!). Esta hora, parafraseando as palavras de Leylâ Gediz que assina o texto de introdução a esta exposição, é o crepúsculo imaginário que estas pinturas representam e é inspirada na expressão francesa “entre cão e lobo” ou hora azul, um período de transição de luz, onde sujidade, quietude, violência e prata se reúnem.

Não só este título, mas também a sua contextualização por parte de Leylâ, me recordou um outro escrito, desta vez de Italo Calvino no ponto 1.3.1 do livro Palomar: A lua da tarde. Palomar, título e personagem, vela a lua da tarde até que esta se sustente, até que não haja dúvidas de que esta já não é da tarde, mas da noite, e que não necessita mais de auxílio ou vigília. A lua da tarde é o momento ténue da lua, em que não é ainda certo que ela chegará inteira ou plena à noite onde a esperámos, indiferentes. A lua da tarde é “frágil e pálida, franzina” inscrita num céu “muito compacto e concreto”, onde a “incerteza é acentuada pela irregularidade da figura”.

Estes recortes das palavras de Calvino poderiam ser também aplicados a uma parte da pintura de Rudi. A fragilidade inscrita sobre algo sólido, bruto, onde as sucessivas imagens, trazidas a um só plano sem profundidade nos dão a ver as irregularidades das figuras, temas ou motivos, e uma certa incerteza que é também cuidado, é também respeito e carinho para com as imagens, as cores e a matéria.

Se a imagem geral desta exposição nos dá a ver elementos repetidos que surgem e se escondem ao longo de cada uma das pinturas, como as grades, as grelhas, os espinhos, as flores... Como se estes voassem entre cada uma delas e nos dessem, numa linha de tempo, equações para a sua repetição. Se as segmentações de planos nos trazem pautas de divisão de uma matemática sensível, se as cores nos extasiam pedaço a pedacinho, e se uma certa alucinação nos deslumbra até mesmo antes de vermos o herói; uma destas pinturas deu-me mais ainda. Como um culminar de uma prática, no fim do trajecto da exposição [descer, direita, direita, direita, direita, frente], a última pintura que vi lembrou-me os corpos estendidos e entrecruzados de Luís Dourdil, pintor português autodidata. Numa parte da sua pintura, talvez a menos aclamada, aparece-nos a planificação dos membros, assim como uma paleta rósea, delicodoce, como uma tendência para uma abstracção sonhada ou sonhadora. Também Rudi nesta pintura - e em contraste com outras desta mesma exposição, muito mais acesas e frenéticas - nos dá espaço para respirar dentro do plano; o esquema à mostra, a pele da pintura com as ossadas à vista. As velas e as flores, como temas repetidos e recorrentes, e um ainda-não rosto, um ainda-sim de bota de criança.

Parece-me um cair da Primavera, um correr terno para memórias gastas de uma infância feliz.

 

Vista da exposição Hora de Ferro de Rudi Brito. © João Neves / Cortesia Balcony.

 

Não sei ainda se sobre a pintura se pode falar, se para acompanhar uma pintura se tem de acompanhar à letra o vento que ela traz, se o espírito sensível impregnado nelas as torna vivas, se há uma única pintura recortada à mão ou um milhão delas à procura dos seus caminhos, não sei se a pintura está moribunda, perdida ou precária como nós, se ainda resiste e dá cotoveladas ao aprisionamento, como nós, se a emoção musical de Rudi deve ser traduzida na palavra, ou apenas descrita, depois da contemplação. Ainda não sei se para a pintura a palavra nos basta, para além do conselho de que a vejam no lugar onde vive agora, entre a galeria e a rua.

Por não saber, que não se ache outra coisa que não que este texto assina uma surpresa entusiasta face ao corpo de trabalho de Rudi Brito, uma nota de consideração à exposição vista, e uma curta e limitada descrição da experiência de a visitar.

 

Catarina Real (Barcelos, 1992) Trabalha na intersecção entre a prática artística e a investigação teórica nos campos expandidos da pintura, escrita e coreografia; maioritariamente em projectos colaborativos de longa duração. É doutoranda do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho com uma investigação que cruza arte, amor e capital. Encontra-se em desenvolvimento da Terapia da Cor, prática aplicada entre teoria da cor, arte postal e intuição coreográfica.  

 



CATARINA REAL